SENHOR SANTO CRISTO DOS MILAGRES A IMAGEM
QUE REÚNE MILHARES

A maior festa religiosa da ilha de S. Miguel comprovou uma vez mais quão imenso é o afecto que os açorianos depositam no Senhor Santo Cristo os Milagres. 2004 não foi excepção. Centenas de açorianos residentes e emigrantes cumpriram o voto de regresso numa partilha sentida de alegria, fé e saudade.
Dos Estados Unidos, Canadá, Bermuda e Brasil – é cada vez mais significativo o número de luso- brasileiros que visitam os Açores redescobrindo as suas raízes – gentes de todas as idades unidas no íntimo sentir da alma, olharam o rosto mais venerado pelos fieis destas ilhas. Sendo o Espírito Santo a manifestação religiosa que mais açorianos reúne nas ilhas e por todo o mundo, as festividades do Senhor Santo Cristo, iniciadas pela Madre Teresa são de uma forma de religiosidade muito peculiar, fruto de uma fé intimista e individual.
Para o observador atento, a massa de pessoas que acompanha a procissão cresce de ano para ano. Todavia, não na mesma proporção do que acontece nas igrejas açorianas, a mãos com o decréscimo de fiéis. Para o sociólogo, essa massa gigantesca de mulheres e homens de negro seguindo a imagem do Senhor pode sim retratar o crescimento de dificuldades diversas que afectam as famílias.
De uma forma ou de outra, hoje tal como no passado, o povo olha o rosto do Senhor Santo Cristo com um zelo e ternura que emociona o coração mais céptico.
Adiaspora.com acompanhou os momentos mais significativos dos festejos do Senhor Santo Cristo...e porque as imagens valem mais do que mil palavras oferecemos aos nossos leitores a foto reportagem ...

Cresce de ano para ano o número de mulheres de luto e homens seguindo a imagem do Senhor Santo Cristo. A foto retrata alguns dos momentos antes da saída da procissão na escadaria da Igreja do Convento.

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Gerações de açorianas, seguindo os passos das suas antepassadas, repetem os mesmos gestos de espera e de fé, acompanhadas dos seus filhos e filhas, que muito provavelmente um dia seguirão a tradição religiosa da família.

Os caminhos preparados com carinho são enfeitados com flores de todas as espécies ou outros materiais coloridos fazendo desta arte uma das mais apreciadas, tanto pelos locais como por estrangeiros, que abundam nestes dias, deambulando por poucas horas em Ponta Delgada aquando da escala de grandes cruzeiros.

Os homens de opas são uma presença tradicional e viva nesta procissão. Recorde-se que ainda está vedada à mulher o uso desta indumentária.

Enquanto se espera o momento mais solene deste Domingo, as crianças do século XXI deliciam-se no doce açúcar de algodão, uma das poucas guloseimas que era permitida aos pobres no passado.

...e ainda os tremoços e rebuçados coloridos...quem não recorda o seu gostinho...

Aspecto do Campo de S. Francisco em dia de festa.

O calor e o sol apertam enquanto se aguarda o momento solene da saída da Imagem do Senhor.

A roda das oferendas, um lugar mítico que envolve muitos mistérios...

Local onde são depositadas ofertas ao Santuário e onde em troca se recebem pequenas relíquias, que o açoriano guarda com grande devoção.

Vestidos a rigor as crianças personalizando os anjos prestam a sua homenagem ao Senhor Santo Cristo sendo parte integrante deste cortejo religioso.

O tão aguardado momento da saída da imagem. Nas mentes de muitos fieis a interrogação repetida de anos anteriores: Será que está mais triste...ou mais belo na sua dor?

Um olhar mais de perto...

 

A imagem passa agora junto daquela que deu toda a sua vida a esta festividade religiosa elevando o culto do Senhor Santo Cristo à dimensão que hoje goza. Da imagem esquecida num pequeno nicho do Convento, Teresa d’Anunciada com o seu fervor religioso e fé, iniciou uma devoção que define muito intimamente o sentir do micaelense.

Imagem junto ao antigo hospital de Ponta Delgada. Recorde-se que, quando funcionavam os serviços médicos naquelas instalações, era paragem obrigatória por forma a aliviar o sofrimento de quem naquele dia se encontrava internado.

Para além dos tapetes de flores, que enfeitam as ruas por onde passará a procissão, as varandas tomem igualmente um ar de festa, ostentanto belas colchas, muitas delas só usadas nesta ocasião.

As bandas de música que se deslocam de várias ilhas e até das comunidades dão vida e cor a este grande cortejo religioso.

A procissão, que percorre várias artérias de Ponta Delgada seguindo a rota traçada pela Madre Teresa, é uma das mais longas e demorados na tradição religiosa açoriana.

Por todo o lado, as pessoas vão procurando o melhor lugar para uma visão mais pormenorizada do cortejo e da imagem.

Mesmo com a procissão pelo caminho a Igreja continua cheia de fieis que descansam e oram.

O grande dia chega ao fim. No Convento da Esperança as pessoas em grande número visitam o interior do templo.

No exterior começam as festas profanas. O passeio, a conversa, o encontro com algum amigo ou parente à muito longe destas paragens.

...perante tanta diversão... porque não tentar uma leitura do futuro na grande BOCCA DE LA VERITATE?

Também os velhos matraquilhos vão continuando a fazer a alegria dos mais pequenos.

Pequenos e graúdos aproveitam o arraial para uns toques nos carrinhos eléctricos...

No interior do templo é tempo para mais um olhar e um adeus. As últimas preces e uma oferenda, uma promessa um obrigado.

Para o emigrante que regressou vão ficar as memórias de mais uma visita. Do rosto do Senhor Santo Cristo guarda um momento íntima que leva consigo para recordar em dias de abundância ou tristeza.


Texto: Humberta Araújo
Fotos: José Ferreira/Humberta Araújo
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