CLUBES DE RAIZES AÇORIANAS FESTEJARAM BEM À SUA MANEIRA O CARNAVAL


por Carlos Morgadinho - Adiaspora.com


O Entrudo bateu-nos à porta e as nossas gentes, de origem açoriana, encheram os muitos clubes daquela região para o festejar. Ao todo, nove danças bem ensaiadas e sob temas variados como só os naturais dos Açores, mais precisamente os Terceirenses, o sabem fazer, mostrando-nos, nestas festas profanas, toda a graça e malícia da vida quotidiana. Assim, durante a noite de sábado, 5 de Fevereiro passado, e até bem de madrugada, fomos brindados por um desfilar contínuo de danças carnavalescas nas diversas salas dos nossos clubes, associações e alguns salões paroquiais da área de Toronto. No dia seguinte, domingo, foi a vez dessas danças tradicionais actuarem noutras áreas, como seja o Centro Comunitário do Clube Português de Mississauga e o salão de festas da Igreja de Cristo Rei, desta cidade.

Estamos todos de parabéns pois as tradições portuguesas continuam bem enraizadas nas nossas gentes aqui radicadas há mais de cinquenta anos, mais propriamente no que se refere à terceira geração, que são os nossos jovens de agora. Uma dessas tradições que vieram com os primeiros imigrantes para este grande país de acolhimento, o Canadá, foi a celebração do Carnaval.

Para isso, e como tem vindo a ser feito ao longo de todos estes anos da nossa permanência neste lado do Atlântico, as gentes da Comunidade Lusa, mais propriamente os da Ilha Terceira, organizaram, este ano as suas danças carnavalescas. Assim, uns vieram integrados em clubes ou Irmandades de raízes açorianas, como o Lusitânia, Angrense, Graciosa, Casa dos Açores, Irmandade do Imigrante e o Centro Cultural Português de Misssissauga , e os outros com o apoio de casas comerciais, como foi o caso do Restaurante Mar Azul, com enredo de João Mendonça e puxada por Francisco Melo e do Tropical Sports, puxada pelo jovem Jonathan Soveta.

Todos esses salões ficaram super lotados e alguns, segundo nos disseram, já com reservas de três meses, não havendo por conseguinte, sequer, os habituais lugares de pé ao fundo das salas, tal era a multidão que enchia por completo os locais onde se realizaram aquelas manifestações carnavalescas. Desde as 20 horas até às 5 da madrugada o povo não arredou pé. Assistimos, naquele fim-de-semana (pois no domingo os grupos de danças também actuaram nos salões da Igreja de Cristo Rei e no Centro Cultural Português de Mississauga) à actuação daquelas danças tradicionais das gentes terceirenses, cujos temas, como é da praxe neste tipo de evento, são sátiras – algumas até bem apimentadas – relacionadas com a nossa vida quotidiana e político-social. Com enredos bem recheados, como a namorada do “Bossa”, da Casa dos Açores (um trabalho de João Mendonça), numa unidade fabril onde se vive a inveja, por uma trabalhadora ser a favorita do chefe. O Tropical Sports Bar, com uma história hilariante, passada no México, onde o herói Speedy Gonzalez se quer casar com uma donzela, a bela Marianita, filha de um magnate daquele país. Grandes confusões se instalam, com preparativos para duelos à pistolada, em oposição a outro pretendente, o célebre e temido, Django e um pai irredutível que se opõe àquele amor, acabando tudo em paz e casamento, graças ao Criador. As viúvas não escaparam, trabalho este da responsabilidade de Ramiro Nunes, inserido no bailinho do Graciosa Community Centre. Uma delas, viúva de poucas horas, foi eleita “Miss Carnaval”. O “esposo”, defunto, voltou do outro mundo, todo escandalizado pela falta de respeito ao luto e à sua memória por parte da sua consorte, perturbando e acabando com aquele concurso de beleza. Outros temas foram ainda apresentados. O do filho pródigo e boémio que tudo faz para enganar o pai a fim de lhe apanhar a fortuna, bailinho este da Irmandade do Emigrante, liderada por Franco Fialho, com o título “Levo a Vida Descansado”. No final deste acto o pai, de olho bem aberto, não vai no conto do vigário. O Sport Club Lusitânia, que apresentou este ano duas danças, uma delas de espada, liderada por Artur Freitas, transcreve a história de um emigrante que saiu da sua terra natal, deixando mulher e filhos para aqui no Canadá encontrar a morte quando trabalhava. Enredo triste e muito comum nas danças de espada que fez arrancar lágrimas da assistência. Outro tema, mas este que ao contrário suscitou bastantes gargalhadas na assistência, foi um programa de rádio com uma rubrica chamada “Opinião”, onde se satirizou a locutora, sentada defronte dos microfones que ao atender os ouvintes e participantes lhes fazia perguntas sobre o tema, não os deixando, contudo, opinar. Este trabalho de José da Silva foi liderado pelo jovem Ricky Batista e integrado no bailinho do Sport Club Lusitânia. O Ricky, é um veterano nestas andanças desde tenra idade, tendo sido acompanhado pela mãe, Madalena Batista, mulher bem conhecida por liderar e ensaiar, há mais de 25 anos, inúmeros bailinhos carnavalescos.

Não queremos deixar de apresentar outro jovem que integrou a dança do Sport Clube Lusitânia, o Ronaldo, que também desde tenra idade vem participando nestes eventos, sendo conhecido, por carinho, por o “Mascote”. Outro bailinho que agradou ao público foi o do Sport Club Angrense, puxado pelo Francisco Borba, com o tema “S. Gustavo”, um santo muito querido dos fiéis que se viu em apuros para acabar com as disputas entre o padre e o sacristão, devidas a infidelidades das mulheres, dinheiros das esmolas e confissões públicas. Assistiu-se também a um casamento entre dois “gays” acabadinhos de chegar ao Canadá com o típico e cómico sotaque dos dois recém-chegados terceirenses e os seus “dois amores” que os esperavam. Esta dança do Clube Português de Mississauga foi liderada por Rogério Mendes.

Mas não só de jovens estas danças eram compostas e lideradas pois houve veteranos bem conhecidos nestas festas carnavalescas que vêm integrando e liderando os muitos grupos participantes, como é o caso de Ramiro Nunes e Otília Silva, este ano à frente da dança do Graciosa Community Centre. Ramiro Nunes, hoje na aposentação, há bem mais de quarenta anos que vem participando e compondo diálogos para as diversas danças que se realizam anualmente na nossa comunidade. É, o que se chama, um autêntico mestre nesta arte de entretenimento.

Gostámos deveras dos temas apresentados e não ficámos desapontados. Continuem e não deixem morrer as nossa festas Carnavalescas tão do agrado das nossas gentes açorianas e não só.

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