Boa tarde.
Para os que não me conhecem vou me apresentar de modo
que seja mais fácil, o nosso convívio, durante
esta minha estadia entre vós e no futuro.
Chamo-me Eduardo Parreira, natural da Ilha Terceira, nascido
há 53 anos e onde vivo, casado e pai de 2 filhos.
Antes de entrar propriamente no tema que me apresentaram para
desenvolver não posso nem devo deixar passar a oportunidade
de agradecer publicamente ao Sr. José Santos, o amável
convite que me dirigiu e todo o apoio que me dispensou para
que esta viagem e estadia na vossa cidade de Winnipeg fosse
uma realidade.
Muito obrigado.
O Queijo
Origem
Um só alimento, tantas subtilezas
de sabores e texturas.
Desde há séculos que se faz
queijo e que este constitui um ingrediente primordial na alimentação
dos povos de todo o mundo. Podemos descobrir os queijos clássicos
de duas maneiras: viajando, ou, cada vez mais encontrando-os
nas lojas especializadas ou nos supermercados perto das nossas
casas.
Na verdade milhares de queijos tentam os nossos olhos e desafiam
as nossas papilas gustativas, em lojas e mercados de todo
o mundo.
Rugosos e com fungos, lisos e amarelos da cor do sol, alaranjados,
pretos ou castanhos, aromáticos brancos ou resplandecentes,
todos eles são queijos de marca e as suas formas e
tamanhos, sabores e texturas variam entre o sublime e o verdadeiramente
extraordinário. No entanto, todos eles são feitos
a partir da mesma matéria-prima:
O Leite
Este precioso líquido produzido em
quase todas as regiões do globo conhecido em todo o
mundo, é para nós Açorianos, um produto
muito familiar ao qual tratamos por TU e que nem sempre lhe
damos o devido valor. Produzido na nossa região com
conhecimentos outrora empíricos hoje com mais técnica
e em condições climatéricas muito vantajosas,
poderemos afirmar que o leite e seus derivados são
a mola motora da economia Açoriana.
Daqui se concluiu, facilmente, a grande importância
que a produção leiteira Açoriana representa,
quer a nível Regional quer a nível Nacional
onde ocupa 30% do leite produzido no nosso país.
Proveniente de vacas das mais variadas raças (contam-se
à volta de 50) como é o nosso caso nos Açores,
ou de outras fêmeas como é o caso do leite de
búfala usado na Itália para fabricar o conhecido
queijo mozarela, varia também de região para
região, oscila consoantes os alimentos administrados
aos animais produtores, e contém características
distintas, consoante estado em que a fêmea se encontra
relativamente ao seu tempo de gestação e consequentemente
à época do ano.
Por isso, e não só, fabricar queijo numa determinada
região, e ao longo do ano, não é tarefa
igual, monótona, nem fácil.
Sabendo-se o leite que possuímos, o mercado onde estamos
inseridos ou que pretendemos conquistar, assim se vai optar
pelo queijo a fabricar.
Seria certamente muito cansativo, e talvez com pouco interesse,
estar agora aqui a explicar como se faz queijo. Desde logo
cada queijeiro tem o seu próprio método de fabrico
ou não fosse esta antiquíssima profissão
considerada uma “ARTE”.
Todos sabemos que o queijo é um alimento muito rico
e apreciado em todo o mundo, tendo o Homem verificado a necessidade
de o classificar segundo os mais variados conceitos, sendo
os principais a textura, a cor, o formato, a casca, a região,
etc, etc.
Só para vos dar uma ideia o roquefort (queijo francês
mundialmente conhecido) é o primeiro queijo da qual
se encontra alguma menção datada do século
I antes de Cristo.
Daqui se conclui a antiguidade deste maravilhoso produto e
quais as suas diversas adaptações ao longo dos
anos para se manter actual e apreciado até os nossos
dias.
Dado que estamos a falar em anos e datas talvez fosse a altura
de falarmos um pouco de nós ou melhor do nosso percurso
nesta questão do sector de lacticínios em geral
e no queijo em particular.
Não podendo nem querendo, por não ser possível,
compararmos com a antiguidade e celebridade do Roquefort Francês
há pouco citado, e a sua fama internacional a verdade
é que os Açores, nesta matéria, também
tem uma grande tradição e algum prestígio
pelo menos a nível nacional e Europeu para não
falar junto das nossas comunidades dos EUA e Canadá.
Desde há muitos anos que se produz queijo e outros
produtos lácteos nos Açores que, infelizmente
não obtiveram grande expressão comercial noutros
mercados, fundamentalmente por duas razões: isolamento
do nosso arquipélago, só há alguns anos
melhorado embora que ainda muito deficiente e, os interesses
de grandes grupos que historicamente se tem instalado nos
Açores assegurando a comercialização
dos nossos produtos muitas vezes com marcas e origens que
nada têm a ver com a região.
Gostaria de vos apresentar, embora que resumidamente, o meu
percurso como profissional da Indústria de Lacticínios
onde, em 1974, me inseri para estágio numa nova fábrica
existente nesse ano já distante (na altura a fábrica
mais moderna do país) e que dava pelo nome de Lacticínios
da Ilha Terceira, Lda. E o que era esta empresa?
Terei que recorrer novamente à história para
compreenderem o que se segue.
No início do século passado existiam pequenos
posto de recolha de leite com a finalidade de receber o leite
de vários produtores, retirar-lhe a gordura (processo
por centrifugação manual) para, de seguida,
se fabricar manteiga então o produto mais rico que
se produzia, a partir do leite. Alguns deles, estou a lembrar-me
da freguesia de Santa Bárbara por exemplo, também
se fabricava algum queijo caseiro em determinadas épocas
do ano (Inverno e Primavera) para consumo próprio e
cedência a alguns familiares e amigos.
Estes postos estavam mais ou menos espalhados por toda a Ilha,
e como se compreenderá facilmente, não eram
minimamente rentáveis, quer devido à sua dimensão
necessariamente pequenas, quer pelos produtos neles produzidos,
(manteiga troca e algum queijo de valor comercial baixo).
Por volta dos anos 30 do passado século começam
a surgir pequenas fábricas para tentarem melhor sobreviver
com esta actividade, sendo que meu Pai, mais precisamente
em 1932, resolve fazer uma fábrica, para produzir e
embalar manteiga com o objectivo de fornecer o mercado local
e, principalmente, os barcos que nessa altura escalavam a
nossa baía de Angra do Heroísmo.
Durante 15 anos outros exemplos com mais ou menos êxito
se terão seguido até que, em Abril de 1947,
todos os pequenos industriais, existentes na altura, se juntam
e, em conjunto, com a maior empresa de Lacticínios
do País formam uma única fábrica com
o nome de Lacticínios da Ilha Terceira, Lda com óptimas
condições para a época para produção
de manteiga, queijo e caseína. De 1947 a 1975 (28 anos)
a L.I.T. Ltda desenvolve a sua actividade e a realidade dos
factos é que nesta última data a firma continental,
então já maioritária no capital social
é intervencionada pelo Estado - estamos no período
da revolução do 25 de Abril.
É nesta empresa, onde a minha família mais directa
tinha 25% do capital, acabado de chegar aos Açores,
após completar o curso de Regente Agrícola,
assim se chamava na altura, hoje Engenheiro Técnico
Agrário, que comecei a minha actividade profissional.
Primeiro como chefe de laboratório (1 ano), e depois
como Director técnico e de produção,
assim passei 20 anos da minha vida até 1994, altura
em que a empresa, já denominada ELA, SA. foi vendida,
mais uma vez, a um grupo de continente Português.
Conclusão
“Obrigado” a vender a minha cota
no capital social e, não querendo trabalhar por conta
de outrem, fiquei desempregado.
Estamos no Natal de 1994 e há que pensar em prendas,
peru, champanhe, e todas as demais iguarias próprias
desta época. Mas depressa se chega a Janeiro de 1995
e a vida continua. Aceitei o convite do Governo Regional para
chefiar como director técnico e de produção
a Cooperativa de Lacticínios das Flores, durante três
anos, findos os quais renovei o contracto por mais quatro
anos acumulando às funções já
exercidas toda a actividade comercial e administrativa da
Cooperativa. Pensando que quatro anos passam, na realidade,
muito depressa e, não vendo mais continuidade na Cooperativa
das Flores, começo a pensar fazer a minha própria
fábrica para consumir e transformar o leite da minha
exploração.
Finalmente chegamos à Soterlac – Sociedade Terceirense
de Lacticínios, Lda cujo capital está distribuído
em moldes muito caseiros ou seja eu próprio, mulher
e filhos.
Em Março de 2000 começa as obras para a futura
fábrica que inicia a sua produção em
Junho de 2001. Estimamos trabalhar 450 mil litros de leite
em 2005 produzindo seis variedades de queijos, a saber:
1 Bravo (gr e pq)
2 bravo Extra (gr e pq)
3 Bravo Bravíssimo
4 Bravo Velho
5 Bravo Tipo Ilha
6 Bravo Extra Fresco
Estamos ainda em fase de crescimento pois
pretendemos, além de produzir mais, comercializar outros
produtos que, na altura própria, irão ser apresentados
ao MERCADO.
Agradecer a atenção.
Provar o bom casamento entre o vinho e queijos e conviver
aproveitando esta oportunidade única que espero seja
confirmada.
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