LANÇAMENTO DO LIVRO
“OS MESES DAS NOSSAS RAIZES – CRÓNICAS E POESIAS",
DE MARIA FERNANDA SIMÕES.


Estou ligado a este simpático e pitoresco lugar das Terras, subúrbio da Vila das Lajes do Pico, por laços muitos fortes de família. Do lado da minha Mãe, a grande descendência deu-se aqui e daqui partiu para outras terras.
António Pedro (ou Pereira) Madruga era filho de António Pedro e de Maria Perpétua, residentes na Rua Nova, das Lajes e irmão de Maria Perpétua, Laureana Perpétua dos Santos, minha avó, Cândida Perpétua Madruga e José Tomás.
António Pedro casou neste lugar com Rosa da Conceição. Do casal nasceram, se não estou em erro, dez filhos. Uns emigraram para os Estados Unidos da América, outros ficaram por cá e casaram e uma filha casou na Horta. É enorme a sua descendência.
Antes tinha por cá a tia Maria Emília, a tia Maria Laureana, a tia Júlia, do Arrife, o tio Manuel Pereira. Tios porque eram primos irmãos de minha Mãe. Hoje esse tratamento desapareceu e os parentes mal se conhecem. Por aqui tenho muitos primos a maioria desconhece, ao que suponho, que somos parentes bem próximos.
Mas o fim desta fala é outro e se assim comecei foi somente para dar uma breve explicação da enorme simpatia que, desde sempre, mantive por este lugar onde vim, quando criança, aprender as primeiras letras na escola da minha tia paterna, Aurora Leopoldina Ávila
Maria Fernanda Simões convidou-me para estar presente no lançamento do seu livro “Os Meses das Nossas Raízes – Crónicas e Poesia”, dedicado ao povo do lugar das Terras e em especial aos seus pais, avós e “Titia”. Julgo que é a primeira vez que um evento destes se realiza neste lugar e nesta sociedade. E falando da Sociedade, recordo que estive na inauguração do primeiro edifício da “Sociedade Alegria no Campo”. Convidou-me o velho e saudoso amigo, José Furtado Madruga Soares e, se me não falha a memória, fui eu que, nas muitas conversas que tínhamos, lhe alvitrei o nome de “Alegria no Campo”. Inclusivamente os estatutos desta Sociedade foram por mim elaborados. Há quantos anos!... Nem tomei nota.
Mas esta fala refere-se ao livro de D. Maria Fernanda, ela também uma amiga de muitos anos, uma alma de artista que, principalmente na Califórnia, se tem revelado uma pessoa de cultura invulgar quer nas letras quer na pintura. Há anos estive em Tulare e assisti à exposição de pintura que ela ali apresentou, onde sobressaíam quadros com as paisagens picoenses, um documento irrefutável do amor e da saudade que tem destas suas Terras. E o livro é isso mesmo: um repositório de saudade e de amor à terra onde nasceu e se criou. Basta passar algumas das suas sessenta e duas páginas para se ter a certeza de que a Autora vive permanentemente a sua infância, apesar de estar daqui ausente. E escreve a Autora na Introdução: “…o lugar das Terras, o meu querido povoado, não pode ser esquecido, com seus campos verdes na Primavera e dourados no Outono. - “Assim os “Meses das Nossas Raízes”, levará a todos vós um pouco do que eram os costumes e tradições desse pequeno lugarejo”.
E neste desbobinar de saudades, vem “Janeiro frio e molhado (que) enche o celeiro e farta o gado”. Mas é também o mês das Matanças. “Que recordações, que lembranças, as famílias juntas. Planos para as matanças…”. Fevereiro que trás o Inverno: “Se a Candelária chora, está o Inverno fora, Se rir está para vir,”. Março o mês do furacão: “Março matou a mãe”. Abril, que alem das Petas também tem seu adágio: “As chuvas de Abril fazem Maio florir.” Maio, o mês das flores: “Um pouco de sol, / Um pequeno chuveiro, / Em pouco tempo, / Uma flor no canteiro”. Junho é o mês dos Santos Populares. Não faltam as fogueiras de São João e São Pedro. “Julho faz-nos lembrar as debulhas na minha pequena mas pitoresca aldeia do lugar das Terras, onde o trigo crescia naquelas “queimadas”, e era parte da alimentação…” Depois vem Agosto com as festas e romarias, Setembro com o “Rodeo” das ovelhas no centro da ilha, na serra, onde a alegria não faltava, com chamarritas, troca de cantigas, e olhares amorosos dos jovens…” Para o fim vem Outubro, tempo das colheitas, o tempo da fartura, para lhe seguir o mês de Novembro, do Pão por Deus e de Todos os Santos. Finalmente chega Dezembro, o mês do Natal cheio de recordações e de saudades. “Dezembro treme frio em cada membro, / Mas, que o Menino Jesus vai aquecer / Com a paz, amor e sua glória, / Que ao mundo veio trazer.”
Não termino sem referir quem, afinal, é “Maria Fernanda de Melo Soares Simões. – Nasceu no lugar das Terras, subúrbio das Lajes da ilha do Pico. Desde muito nova a leitura era o seu passatempo favorito. Gostava muito de ouvir contar histórias dos nossos antepassados. – Dificuldades monetárias impediram-na de enveredar por um Curso Superior, mas mais tarde conseguiu formar-se como Regente dos Postos Escolares (únicos estudos obtidos nos Açores). Depois de leccionar durante quatro anos, dois no Pico e dois na ilha das Flores, veio para os Estados Unidos da América em 1971. – Casou com José Martins Simões, natural da ilha Terceira. Tem duas filhas: Angelina e Arlinda, e quatro netos. – Já nos Estados Unidos continuou a sua instrução. Graduou na Escola Secundária, e posteriormente no Colégio de Sequóias, em Liberal Arts. Naturalizou-se cidadã americana, passando depois a trabalhar numa escola primária. Aposentou-se recentemente. – Dirigiu e foi Directora dum programa em português na rádio local, por vinte e três anos, continuando assim a desenvolver a nossa cultura nesta grande nação. – Envolveu-se noutras actividades sociais e foi muito activa na Sociedade Fraternal Rainha Santa Isabel, esta com mais de cem anos de existência, tendo chegado à posição mais alta de Presidente Suprema, nos anos de 1994 - 1995.”
É esta nossa conterrânea que hoje aqui nos trás o seu livro “Os Meses das Nossas Raízes, Crónicas e poesias”.


Lajes do Pico, 31 de Agosto de 2005
Ermelindo Ávila

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