QUEM É ALFRED LEWIS?
António José de Medeiros
na sua alocução
Um emigrante açoriano – gigante
nas letras que viveu num passado ainda recente, de quem temos
muito a aprender e que no futuro será sempre motivo
de orgulho para tantos que, como nós emigrantes, lutaram
arduamente para nesta terras distantes, conseguirem um lugar
ao sol.
Alfred Lewis foi um florentino que nasceu na freguesia da
Fajãzinha, ilha das Flores, a 30 de Abril de 1902,
filho de José António Luis e de Ana Luísa
da Conceição. Seu nome Alfredo Luís foi
americanizado quando ele adoptou a cidadania americana.
Demonstrou a sua capacidade intelectual ao
conseguir a nota de vinte calores no exame do segundo grau,
o que despertou o interesse do comerciante João Magalhães
que se ofereceu para lhe custear os estudos até à
universidade, oferta que foi secundada pelo professor João
Machado Tristão.
O desejo de embarcar nasceu e viveu com ele
durante os anos da infância e juventude. O pai, como
diz o autor, “emigrara para o novo mundo a fim de ganhar
algumas águias”. Após o seu regresso,
contava-lhe as suas aventuras de baleeiro pelas águas
do sul antes de alcançar as terras da Califórnia.
Seu irmão mais velho, seguindo as pisadas do pai, também
emigrou sete anos antes de Alfred Lewis, com menos de vinte
anos e com a intenção de regressar uns anos
mais tarde.
Muito jovem e ainda na terra, escreveu incansavelmente. Ao
embarcar levou consigo um maço de poemas da sua autoria,
num saco de chita que sua mãe lhe fizera. Conta que
antes de emigrar já tinha publicado alguns escritos
nos jornais “Florentino de Santa Cruz”e no “Diário
de Notícias de Ponta Delgada”.
Chegou à Califórnia no ano
de 1922 e, começou logo a trabalhar na apanha da batata
doce. Mais tarde em S. Francisco, trabalhou como ajudante
de cozinheiro a troco de cama e mesa.
Diz o autor que um dia sofreu um severo ataque de saudades
e escreveu um artigo para o semanário local o “Jornal
de Notícias”. O director do mesmo, Pedro Silveira,
reconhecendo o seu valor no campo literário, visitou-o
e convidou-o a acompanhá-lo. Foi então trabalhar
na “Revista Portuguesa”que mais tarde chefiou,
sendo ele próprio a escrever a maioria dos artigos.
Anos depois e, a pedido de Artur Ávila, foi trabalhar
para o jornal “Lavrador Português” que,
ao tempo, se publicava em Tulare.
Auto didacta, aprendeu a ler e a escrever o inglês,
tornando-se ávido leitor das obras de Ernest Hemmingway,
John dos Passos e Faulkner entre muitos outros. Diz ele que
“tinha vício de ler coisas boas e assim aprendeu
a diferenciar o realismo e o romantismo”.
Através dos tempos, tornou-se contabilista, foi juiz
em Los Baños e fez de si uma espécie de conselheiro
para homens e mulheres – portugueses que viviam e tiveram
de enfrentar as agruras inerentes à vida difícil
do Vale de S. Joaquim. Afirma Alfred Lewis que esse género
de trabalho lhe deu imensa satisfação.
Quando, pela primeira vez foi convidado a marcar a sua presença
num congresso literário, apresentou alguns dos seus
trabalhos e foi aconselhado a continuar a escrever. Meses
mais tarde apresentou o romance “Home is an Island”ao
departamento de Inglês da Universidade da Califórnia
que o enviou para um agente que, por sua vez, o entregou à
Randon House, em Nova York, que logo se prontificou a publicá-lo.
Este seu primeiro livro Mark Twain e a partir daí colaborou
com inúmeras revistas e jornais tanto em poesia como
em prosa, em inglês e português.
Alfred Lewis era um homem modestíssimo. Ao escrever
a sua autobiografia, nem mencionou que cursara a Faculdade
de Direito, nos anos de 1939 e 40, o que preparou para, mais
tarde, desempenhar as funções de Juiz.
Ao concluir a sua biografia o autor afirma “Escrever
não é o que pretende ser”tem seus momentos
de alegria e, por fazer parte da minha vida, tenho que o aceitar
sorrindo”.
Onde estás agora?
Onde estás tu agora? O vento às
vezes
Tira retrato em cor da tua voz,
Feita de mel, a deslizar sozinha
Pelos atalhos verdes dos campos.
Bonita, feia o teu olhar é graça
(Ou deve ser) e música de uma ave
Que se aproxima à margem dum rio
Para beber sua água cristalina.
E tu que és mais? És tudo o
que meu sonho
Como mãos trémulas constrói:
Orbe completo; lábios que dão lume
E dão finalmente sono,
Ao chegar vagarosamente a madrugada...
Um dia tu e eu
Vagabundos com sede, encontraremos
O lago que buscamos
A fim de refrescar os nossos corpos
Enquanto peixes d’ouro e de cor rubra
Dançam “ballet” sem fim entre os rochedos
Do seu país de sombra e de ervas longas.
Quando vai ser? A sombra dos pinheiros
Cresce enquanto as horas se retiram
Mais e mais para o seio da noite
E seus dias de neve e solidão.
Onde está tu agora?
Porque não vens que é tempo?
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