EM DIGRESSÃO ATÉ A FLÓRIDA
Por Paulo Luís Ávila
Desde há longos anos que acalentávamos
a esperança de um dia visitar o estado da América
do Tio Sam, limitado leste pelo Oceano Atlântico e a
Sul e Oeste pelo Golfo do México e que é conhecido
pela passagem de tufões, como foi o caso do último,
que deu pelo nome de Daisy e que tem o sugestivo nome de FLORIDA.
Talvez por ter sido uma viagem cujo transporte utilizado foi
a viatura automóvel, não obrigou a que se tomassem
grandes iniciativas para assumir certos preparativos, já
que por essas auto-estradas abaixo, o que não faltavam,
eram lugares para satisfazermos as necessidades mais básicas,
imprescindíveis ao nosso organismo. Apesar de ser o
território onde a língua inglesa é a
mais falada, não raro era escutarmos outras línguas
e até mesmo outros sotaques, como foi o caso do sotaque
muito acentuado que escutámos em outros turistas vindos
da Geórgia, que como nós realizavam uma viagem
de cinco horas, nos mares que delimitam a estância de
veraneio de Daytona Beach.
Sempre atento à linguagem utilizada, esperando ouvir
pronunciar a nossa língua de Camões, de vez
em quando escutava umas palavras em português, mas afinal
era o espanhol que se estava falando. Em Toronto, a quando
da nossa partida, rondava a temperatura pelos 34 Celsius.
No outro lado e já em território do Bush a temperatura
ainda era mais elevada. Como já vem sendo habito e
passe a publicidade, fomos direitos ao Old Country Buffet,
para nos saciarmos e dessedentarmos, uma vez que já
passava há muito do meio dia e os nossos estômagos
reclamavam há muito para serem apaziguados. Dali rumámos
em direcção à capital do império
americano, para visitar o Museu do Holocausto e depois tomámos
o rumo da Florida. O Walt Disney era a meta pré-estabelecida
e o All Stars o centro escolhido para dali se partir para
as inúmeras diversões que por ali proliferam,
na cidade de Orlando. Mas a NASA, ou Centro Espacial J. F.
Kennedy, em Cabo Canaveral, estava a apenas uma hora e meia.
Oportunidade que não enjeitámos, para lá
nos dirigimos para tomarmos conhecimento mais aprofundado
da aventura do espaço e é dessa viagem que também
destacamos algumas fotos. No regresso dirigimo-nos ao Hotel
onde os jovens se alojariam e como não nos damos já
para essas coisas da fantasia, dirigimo-nos para o sul até
à cidade de Miami. Entretanto passámos em Fort
Laudardalle, na véspera do dia da comemoração
dos 229 anos da independência e observámos o
modus vivendi da vida nocturna daquele povo, falando maioritariamente
e fluentemente a língua de Cervantes e vestindo-se
com requinte e elegância. A Avenida marginal toda ela
cheia como um ovo de restaurantes e de cafés, dá
um ar muito cosmopolita àquela área, que nos
agradou sobremaneira, apesar do calor e da humidade que então
se fazia sentir. Cerca da uma da madrugada fomos procurar
alojamento em outro Hollywood, que não o da Califórnia
e de lá partimos à descoberta de outra famosa
praia que dá pelo nome de Miami Beach. Aqui a água
do mar de tão quente que estava até nos causou
uma certa indisposição, porque no exterior,
apesar da temperatura do ar rondar os 35 C., dava-nos a sensação
de estar mais frio. No dia imediato dirigimo-nos até
Miami, ponto limite a alcançar no sul da Florida. A
temperatura estava sufocante. Depois de guardarmos a carrinha
num parque de estacionamento, procurámos um Restaurante,
no seu interior só se falava espanhol, clientela e
empregados, muito simpáticos, disseram-nos que nos
ottros tenemos mas salero e depois seguindo rua abaixo, demos
connosco nas margens da baía. Alguém nos referiu
os passeios de barco que eram baratos e muito aliciantes.
Aderimos sem mais delongas e fomos dar uma volta pela Baía
de Miami, que é constituída por 23 Ilhas, sendo
22 artificiais. Foi-nos dito que dali partem 40 navios para
Cruzeiros, pertencentes que são a 10 companhias de
cruzeiro com sede nas Caraíbas e que empregam mais
de trinta e sete mil pessoas. Por isso é estatisticamente
o segundo porto mais movimentado dos Estados Unidos. O guia
turístico só falava em dinheiro e na máfia.
Da casa de Al Capone ate à da Xuxa, passando pela de
Silvester Stalone, foi um autentico desfilar de palácios
qual deles o mais sumptuoso arquitectonicamente, cujos preços
eram sempre superiores a oito milhões de dólares,
o custo da casa da Xuxa que nos foi referido como o mais baixo.
Depois das inevitáveis compras, onde as camisolas,
os sapatos e as recordações, - que se traduziram
num simples porta-chaves ou num postal -, fizemos uma directa
até Kissimee, nos arredores de Orlando, onde pernoitámos,
visto que no dia seguinte tínhamos de recolher a juventude
que tinha ficado hospedada em Walt Disney. Depois da recolha
dos jovens, a praia de Daytona esperava-nos bem como o passeio
de cinco horas bastante sofridas por acaso, num navio Casino
de jogo, porque de jogatanas e de mal perder não é
connosco, no entanto houve muita gente que esteve até
ao último segundo na frente da máquina de jogo.
Permanecemos dois dias em Daytona Beach, a estagiar, antes
de regressarmos à Mega Toronto, onde chegámos
por volta das vinte e uma hora, daquele sábado dia
onze de Julho, barafustando pela temperatura baixa que entretanto
se fazia sentir. Antes de terminar quero contar duas histórias.
A primeira foi em Kissimee, antes de rumarmos para Miami.
Como acima deixei escrito, sempre andava com a pulga na orelha,
aguardando pacientemente que alguém falasse a nossa
língua, mas aqui deu-se precisamente o contrário.
A menina que nos atendeu ao balcão da charcutaria,
notou que falávamos outra língua que não
aquela que estava habituada a ouvir e perguntou-me se falava
português. Claro, respondi, ao que ela logo e fluentemente
me disse com um sorriso de orelha a orelha: Eu também
sou Portuguesa, pois nasci em Lisboa e vou lá passar
ferias no mês de Agosto. Mais umas palavras deram para
entender que a vida não é nada fácil,
principalmente para aqueles que ainda não possuem o
tal cartão verde, porque são explorados e até
escravizados. Isto disse-me a Liliana, a portuguesa e a Natércia,
uma Jamaicana que estava trabalhando no Walt Disney, num Restaurante
do Mack Donnalds. Com um olhar triste e cansado disse-me esta
última, que recebia à hora dois dólares
e cinquenta cêntimos e trabalhava dez horas seguidas,
apenas tinha meia hora para comer e o contrato tinha a validade
de três meses, findos os quais regressava a Jamaica.
A segunda passou-se em Deerfild Beach, quando regressávamos
a Kissimee, arredores de Orlando. Demos de dar de beber à
viatura, fomos procurar mantimentos. Encontrámos uma
plasa com muitos anúncios em português, mas a
realidade era outra, porque pertenciam aos nossos irmãos
brasileiros os estabelecimentos que por ali abundavam, de
todos os géneros, desde a sapataria ao restaurante
com rodízio à boa maneira brasileira. Como a
ementa no restaurante não nos seduziu, à saída
interpelámos uma faxineira brasileira, que em detalhe
nos indicou o Bufett Brasilian Depot, que era superintendido
pelo Asiel Tavares, brasileiro do Recife, mas de ascendência
Micaelense, como o sobrenome indica. Conversámos longamente
com ele e por ele nos foi dito que ali existia uma grande
colónia de brasileiros, cerca de dez mil, mas que portugueses
apenas conhecia dois, o Fernando e o Victor, que estavam muito
bem lançados e eram grandes empresários. Quando
nos despedimos, prometendo um dia voltar, - sabe Deus quando
-, entregou-nos lembranças e despediu-se muito emocionado.
A saudade é uma palavra triste/ Quem seria que a inventou/
Aquele que primeiro a disse/Concerteza que chorou/ Quando
perguntávamos pelos Portugueses às pessoas com
quem contactávamos, referiam-se a eles como sendo bons
trabalhadores, amigos e muito ordeiros. Afinal não
foi por acaso que demos novos mundos ao mundo!
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