E OS ILEGAIS LUSÓFONOS CONTINUAM À ESPERA. ATÉ
QUANDO...?
Carlos Morgadino - Adiaspora.com
Nestes últimos anos dezenas de milhares
de imigrantes lusófonos – calcula-se em mais
de dez mil – encontram-se a trabalhar no Canada, uns
clandestinamente outros com licenças temporárias
por estarem à espera da decisão do Ministério
que superintende este assunto sobre os seus casos que vão
desde autorizações temporária a trabalhadores
qualificados como de muitos outros que tenham, quando aqui
chegaram, pedido o estatuto de refugiados.
Para tentar solucionar este impasse perante as decisões
que nestes últimos dois anos vêem sendo tomadas
pelo governo federal canadiano, como é o caso das medidas
drásticas vindas daquele Ministério, que se
traduzem em centenas e centenas de casos de deportação
desses ilegais, além dos que voluntariamente regressam
aos seus países de origem, criou-se um comité
composto por alguns membros das comunidades portuguesa, brasileira
e canadiana. Para isso, alguns meses atrás este comité
organizou uma cessão pública no Arsenal do Minho
de Toronto, sito no 1166 Dundas Street West, com a presença
de mais de trezentas pessoas na sua maioria trabalhadores
ilegais portugueses e brasileiros.
No passado domingo, dia 23 de Janeiro de
2005, aquele comité organizou, uma vez mais, uma outra
sessão de esclarecimento, no mesmo local, isto é
nas instalações do Arsenal do Minho de Toronto,
que contou com apenas 150 pessoas presentes, numero que achamos
deveras reduzido e que imputamos as causas, quiçá,
ao intenso frio que se fazia sentir naqueles dias cujo factor
chegou a atingir os 42 graus negativos ou do receio dessas
pessoas de puderem ser identificadas e, posteriormente, virem
a ser detidas ou deportadas.
O referido comité é composto
por António Letra, Manuel Alexandre e Manuel Ribeiro
todos luso-canadianos, do advogado para assuntos de imigração,
Richard Boraks, e do pastor Jorge Alves, da comunidade brasileira.
Presente também o jovem vereador da Câmara Municipal
de Toronto, Adam Giambrone. Naquele salão notamos a
ausência do deputado federal luso-canadiano, Mário
Silva, recentemente eleito, ou até mesmo de um seu
delegado ou assistente, naquela sessão tão importante
para a população lusófona que se encontra
na ilegalidade neste grande país. É que, segundo
nos foi informado pelo presidente daquele comité, Tony
Letra, aquele deputado foi atempadamente informado e convidado
para estar presente mas que nem sequer se dignou a responder
ao pedido formulado pelo comité. Aliás, segundo
nos referiu Tony Letra, tal atitude não é surpresa,
porquanto já o já tinha feito anteriormente
– ignorou o pedido e não apareceu.
Muitas foram as perguntas apresentadas pelos
presentes sobre a melhor via de solucionar a situação
de ilegalidade, isto é de se legalizarem e receber
os papeis para residir permanentemente no Canada. Tanto Tony
Letra como o pastor Jorge Vieira, informaram os presentes
na necessidade imperiosa dos que se encontram, no presente
momento, a residir com o pedido de refugiado tanto por perseguição
política, religiosa e outros similares, que devem contar
a verdade aos funcionários do Departamento de Imigração
Canadiana, isto é de abandonar, aqueles que o fizeram
obviamente, daqueles estatutos, porquanto, aqueles que mentiram,
serão deportados. É que é sobejamente
conhecido que tanto em Portugal como no Brasil não
há, no presente, qualquer tipo de perseguições
do tipo atrás foi referido.
Outra questão levantada foi o extremo
cuidado que todos devem ter no acto de contratar tanto os
chamados conselheiros de assuntos de imigração
como advogado e isto por saber-se que muitos dos trabalhadores
ilegais queixarem-se explorados entregando quantias exorbitantes
por aquele serviços e alguns desses profissionais não
se esforçarem no seu trabalho e pela defesa do seu
cliente ou por não terem as qualificações
ou reputação idónea para assistir a quem
lhes solicite os seus serviços. Para isso Tony Letra
opinou que os interessados necessitando por este tipo de apoio
jurídico deveriam, por cautela, primeiro de tudo contactar
os escritórios do Canada Law Society que é o
órgão superior que governa e superintende esta
profissão tendo, por conseguinte, nos seus registos,
os nomes de advogados respeitados da nossa praça.
O vereador da nossa cidade de Toronto e dum
Bairro com uma grande percentagem de moradores lusófono,
Adam Giambrone, informou que o presidente da Câmara
de Toronto, David Miller, terá em poucos de dias um
encontro de trabalho com os responsáveis pela pasta
de Imigração, para ver se se consegue que esses
trabalhadores, na sua maioria no sector de construção
civil, fiquem legais e possam assim continuar a contribuir
para o progresso e o bem estar desta grande cidade de Toronto
e suas comunidades.
Finalizado aquela sessão entrevistamos
quatro membros do comité para nos informar concretamente
sobre a situação do ilegais na sua maioria trabalhadores
que exercem as suas actividades no sector da construção
e não só pois muitos há que labutam na
industria hoteleira, fabril e limpesa.
MANUEL ALEXANDRE: Sem duvida
alguma que devemos interessarmos pela situação
de ilegalidade dos trabalhadores e mais especificamente os
lusófonos. Há outros grupos étnicos,
e sabemos disso, que têm estes mesmos problemas com
trabalhadores na situação de ilegalidade e sem
documentos. Compete-nos a nós, neste caso aqueles que
ao longo dos anos tem-se envolvido na vida associativa de
os tentar ajudar essa gente que se encontram entre nós
na situação ilegal, da melhor maneira possível.
Foi convidado a participar neste comité pelo Tony Letra
dado à minha actividade no sector associativo na cidade
de Brampton. E aqui estou de boa vontade com este grupo de
pessoas de boa vontade e com bastante experiência neste
caso social e de imigração, neste ultimo ramo
de actividade que é o caso do advogado Richard Boraks,
de origem polaca e que tem também bastantes casos na
comunidade que pertence. É pessoa bastante sensível
e que dé o máximo de si para ajudar o seu semelhante.
Somos pois um grupo de voluntários que se envolveram
neste comité com a finalidade apenas de ajudar pondo
de lado o factor económico.
Os contactos com o Governo são animadores e hoje, como
viu, tivemos aqui um vereador da Câmara de Toronto,
que irá por uma moção no Conselho daquela
Edilidade para que esta saiba da existência deste problema
que nos aflige e que estas pessoas ilegais tenham o acesso
e direito à assistência social como seja no acesso
à saúde, à educação tanto
para os filhos como para eles próprios, etc.
TONY LETRA: Temos já
contactos com o novo Ministro de Imigração do
Canada, John Volpe, e estamos muito esperançados com
este membro do Executivo Canadiano, porquanto ele, o Ministro,
é pessoa com muita experiência nestes assuntos,
pois os seus pais foram também imigrantes e com certeza
talvez, quem sabe, nas condições destes que
estamos tentar ajudar. O Ministro é bastante sensível
ao sofrimento e angustia destas pessoas e tudo me leva a crer
que o Ministro irá tentar achar uma solução
rápida para este problema. Claro que não irá
solucionar a situação dos duzentos mil ilegais
que dizem encontrarem-se no Canadá mas que vai, tenho
a certeza, legalizar grande parte deles no futuro muito próximo
especialmente aqueles que aqui trabalham honradamente já
há alguns anos e obedientes das Leis que nos governam.
Já contactamos também com as pessoas “chaves”da
Imigração Canadiana, como por exemplo o Stand
Committe of Immigration e, dentro de algumas semanas, iremos
ter uma reunião bastante importante com aquele comité.
Para terminar quero mais uma vez alertar os elementos que
se encontram na ilegalidade como residentes no Canada de procurarem
ou indagarem, junto de amigos, na ajuda com os contactos com
a Imigração como seja no retirar das clausulas
de refugiados e outros do mesmo quilate que estão reclamando
o que, certamente, só os irá beneficiar no processo
de legalização. Finalmente estou francamente
esperançado no desfecho favorável para muitos
dessas pessoas com a cedência dos tão ansiados
papeis para trabalharem legalmente neste nosso Canadá.
MANUEL RIBEIRO: eu penso
que vai haver uma grande oportunidade com a entrada deste
novo Ministro da Imigração pessoa tida como
muito sensível a este tipo de situação
que é o caso dos residentes ilegais. Com a sua entrada
no Ministério e dado à grande popularidade que
John Volpe desfruta, como pessoa humanista, estou plenamente
convencido que irá a curto prazo resolver este tipo
de situação para milhares e milhares de pessoas
que trabalham mas não usufruem dos benefícios
como qualquer cidadão deste país.
PASTOR JORGE ALVES: Eu estou
esperançado com a entrada deste novo Ministro da Imigração.
Ele tem sido há muitos anos o deputado federal representante
de uma área eleitoral da cidade de Toronto. Tem andado
envolvido no sector dos direitos humanos e ao sector económico
no país e o impacto da construção civil
não só em Toronto como no Ontario. Tem demonstrado
que é um homem de acção no jeito que
ele tem agido no sector de Recursos Humanos, melhorando substancialmente
a situação. Assim, pelos seus antecedentes nos
Recursos Humanos penso que ele irá fazer o mesmo neste
seu novo Ministério o que não vai ser fácil
pois assumiu um departamento que tem vindo a ser abalado por
escândalos e problemas internos. Creio que antes de
se dedicar ao assunto dos residentes ilegais irá, obviamente,
resolver alguns assuntos dos seu Ministério. Mas o
interessante foi que na Sexta-feira o John Volpe tomou posse
da Pasta de Imigração e no Domingo firmou, segundo
uma coluna no diário The Toronto Sun que iria dar oportunidade
a dez mil trabalhadores ilegais. Isto não é
o de permanente imigrante mas sim vistos de trabalho. Isto
quer dizer que logo que ele tomou posse do Ministério
de imediato tomou uma decisão importante o que quer
dizer que o Ministro quer resolver este assunto dos trabalhadores
ilegais de uma certa forma nos dá uma esperança.
Sobre a pergunta que me fez no inicio deste meu depoimento
se só os trabalhadores da construção
civil iriam ser bafejados por uma possível solução
de legalização em detrimento de outras profissões
como se referiu como é o caso dos empregados da industria
hoteleira, limpeza, etc. aparentemente dá-nos a visão
que sim. Mas uma coisa interessante para a nosso Comité
foi a posição tomada pelo presidente da Câmara
de Toronto que reconhece a economia da cidade vai ser mantida
com esse povo aqui e que não é só com
os trabalhadores da construção civil mas também
com aqueles que trabalham em outras profissões como
na limpeza, restaurantes e fábricas. São muitos
que o país necessita e a nossa esperança é
com esse apoio, o da cidade de Toronto, possamos afirmar que
não é só os da construção
civil que dão o desenvolvimento à cidade e à
nação canadiana. Terá forçosamente
que haver um equilíbrio para que alguns não
fiquem do lado de fora.
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