ARQUIVO MUNICIPAL VAI SER TRANSFERIDO
PARA ANTIGO EXTERNATO


O Arquivo Municipal da Ribeira Grande vai ser transferido para o antigo Externato Ribeiragrandense, que durante os últimos 30 anos albergou o Tribunal Judicial da Ribeira Grande e as Conservatórias do Registo Civil de Predial.
O anúncio foi feito sábado pelo presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, Ricardo Silva, na abertura de sessão solene das comemorações do 1º Centenário do Nascimento de Dr. Manuel Barbosa.
A cerimónia decorreu no Teatro Ribeiragrandense, perante um plateia cheia de professores e antigos alunos, sendo que alguns deslocaram-se propositadamente dos EUA, de familiares do homenageado, como a sua filha e filho, Maria Barbosa e Celso Barbosa, membros do Governo Regional dos Açores, como o Secretário Regional da Agricultura e do Director Regional do Emprego e Formação Profissional e de membros da Comissão para as comemorações do primeiro centenário do nascimento de Manuel Barbosa.
A falta de espaço tem levado a que o valioso Arquivo Municipal continue disperso em dois edifícios, ou seja, a valência histórica está na Divisão de Acção Sócio-Cultural (Casa da Cultura) e a administrativa num outro imóvel, sito na Rua da Praça.
A transferência de todo o arquivo vai decorrer durante o próximo ano. Para já, a Câmara Municipal e, como adiantou Ricardo Silva vai realizar “obras sumárias de reparação para que o edifício não se degrade ainda mais”, para posteriormente “seja desenvolvido bom projecto de remodelação interior adaptado à sua vida futura”.
Desta forma, sublinhou o autarca, o Externato Ribeiragrandense “tem o seu futuro assegurado como instituição educativa e voltada para a Cultura”.
O Externato Ribeiragrandense, antigo “Colégio Ribeiragrandense” foi fundado pelo Dr. Manuel Barbosa, que permitiu que ao longo da segunda metade do séc. XX, muitos jovens do concelho seguissem o ensino liceal, contribuindo para uma mudança de mentalidades na Ribeira Grande e fazendo emergir uma classe média mais culta e instruída.
Manuel Barbosa ao mudar o nome de Colégio Ribeiragrandense para Externato Ribeiragrandense, no ano lectivo de 1949/50, deu à comunidade um sinal daquilo que queria para aquele estabelecimento, “uma instituição aberta e voltada para o exterior, para aqueles que, também, com grande esforço das suas famílias tudo faziam para estudar”, frisou Ricardo Silva.
O autarca da ribeira Grande caracterizou ainda o homenageado como sendo um homem “fiel aos seus princípios políticos, ideais e projectos, o que, muitas vezes, lhe causou dissabores pessoais e familiares tanto por parte do regime salazarista, assim como, já em plena época democrática”. Por isso, Ricardo Silva lançou a proposta para que o nome de


Manuel Barbosa figurasse no Museu da Resistência, em Lisboa, como “exemplo de um militante comunista que pela sua luta diária, imbuída em altos valores de serviço comunitário, trouxe pacificamente para o povo que servia a ideia de que a persistência em servir os outros deu resultados práticos exemplares”.
Uma viagem à vida e obra do homenageado foi proporcionada por Viriato Madeira, na sessão solene evocativa dos 100 anos do nascimento de Manuel Barbosa.
Para Viriato Madeira “só quem tivesse uma visão moderna e avançada do mundo, como o Dr. Manuel Barbosa, pensaria abrir o Externato para o exterior e promover uma não menos marcante influência na sociedade, organizando saraus, conferências e concertos, mantendo um relacionamento estreito com estabelecimentos afins e, notável inovação, fazendo com que os alunos não restringissem a sua aprendizagem ao que ouviam e faziam dentro de quatro paredes”, proporcionando passeios para um “conhecimento prático da vida”. Segundo o orador, o Dr. Manuel Barbosa era um “homem com grande visão duma nova realidade, que só chegou com o 25 de Abril de 1974, do qual foi sempre um incondicional apoiante e lutador, mesmo no secretismo possível numa sociedade permanentemente vigiada”.
A sessão solene terminou com um concerto de música e poesia. No concerto de música forma interpretadas obras de Debussy, Rackmaninov, Listz e Beethoven, sendo intérprete Natália Atalmas Silva, ao piano, Natália Zhilkina, ao violino e Yuri Pankiv, na flauta. Na poesia constou poemas de Manuel Barbosa, ditos por Maria do Céu Garcia, João Luís Morgado, Luís Simas e Maria Bifa.
Mas antes da sessão solene, a memória de um dos filhos mais ilustre da Ribeira Grande ficou perpetuada com o descerramento do busto na rua da Matriz, moldado pela artista local Alda Moreira Machado. Na altura, Eng. António Tavares Vieira considerou que o homenageado ao dirigir o Externato Ribeiragrandense durante 25 anos, provocou uma “continua e pacifica revolução cultural na Ribeira Grande.
O estabelecimento de ensino foi assim, “um viveiro que deu formação académica adornada de cultura geral a cerca de 700 alunos”.
Depois do busto, foi feita uma pequena romagem até ao edifício do Externato, onde foi fixado uma placa onde perpetua a sua data de funcionamento, entre 1947 a 1975.

Ribeira Grande, 19 de Dezembro de 2005


Gabinete de Imprensa