MARCHAS POPULARES DE LISBOA 2005
Por: Carlos Morgadinho
Adiaspora.com
Estávamos em Lisboa, no mês de
Junho, e, como é tradição naquela cidade,
os três Santos Populares, Santo António, São
Pedro e São João, são festejado a rigor
naquele mês. Assim com a comparticipação
da Câmara Municipal de Lisboa, através do seu
pelouro Cultural, este ano a cidade agalanou-se para, mais
uma vez, ver passar as suas marchas na Avenida da Liberdade,
no dia 12 de Junho, com início pelas 20:45 horas (8:45
horas da noite). Uma multidão composta por dezenas
de milhares de pessoas comprimiam-se ao longo daquela artéria
para poder ver os desfiles daquelas marchas cujos vencedores
tinham sido já apontados por os concorrentes terem-se
exibido durante os dias 3, 4 e 5 daquele mês no Pavilhão
Atlântico, nas antigas instalações da
ex-Expo 98 em Lisboa.
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Além disso este ano de 2005 tem uma importância
muito especial para a cidade de Lisboa porquanto faz precisamente
750 anos que esta cidade passou a Capital da Nação
Lusa estando também na celebração do
centenário da morte do pintor Rafael Bordalo Pinheiro
e o bicentenário do nascimento do grande poeta Manuel
Maria Barbosa du Bocage, personagens que marcaram a vida cultural
daquela Capital. Assinala-se ainda os 250 anos da tragédia
que atingiu a Cidade de Lisboa e que a destruiu em parte tendo,
ao mesmo tempo, dizimado dezenas de milhares dos seus habitantes,
o terramoto seguido de maremoto, em 1755.
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Vários foram os temas deste ano nas
Marchas Populares 2005, as quais focavam o sismo que destruiu
Lisboa, a queda e ascensão de Lisboa (Marchas de São
Vicente e da Ajuda); a história dos vários povos
que por ali passaram (Marcha de Alfama), a nobreza e fidalguia
(Marcha do Alto Pina); a tradição (Marcha de
Campolide), a força bairrista (Marcha da Graça),
hortas e cantadores com o fado fora de portas (Marcha do Lumiar);
as origens (Marcha de Marvila); a recordação
que evoca as tascas, cafés e tavernas (Marcha da Mouraria);
sentimentos (Marcha dos Olivais); o legado cultural (Marcha
de Carnide); o presente e o futuro (Marcha da Bica); a profusão
das cores (Marcha do Beato); observação constante
de atalaia ao Tejo (Marcha do Bairro Alto); uma riqueza particular
(Marcha da Bela Flor); o conhecer e recordar a tradição
popular dos anos 40, em que os Santos Populares eram festejados
nos recintos dos Mercados de Lisboa (Marcha dos Mercados);
sempre a aprender uma marcha infantil pedagógica onde
as profissões já extintas ou em risco de desaparecerem
como é o caso dos limpa-chaminés e das vendedeiras
de limões e que agora, os mais pequenos, prestam-lhe
homenagem (Marcha Infantil “A Voz do Operário”);
homenagem aos frades da Ordem de Cristo que em 1532 ali se
fixaram em Santo Amaro, aos seus habitantes e aos galegos
laboriosos que remontam ao início da nacionalidade
(Bairro de Alcântara); a cultura das culturas (Marcha
de Benfica); horizonte ímpar e varanda do Tejo (Marcha
do Castelo) e Tradições celebradas em festa
(Marcha da Madragoa).
Não faltou como é de tradição
de longa data nestas festividades populares o desfile dos
jovens ccasais de Santo António tido por "casamenteiro",
e que tem tido o patrocínio tanto da Câmara de
Lisboa como de muitas firmas comerciais daquela praça,
para o enlace naquela data comemorativa do nascimento, naquela
cidade, no século XII (1195 - 1231), do seu Santo Padroeiro,
Fernando de Bulhões, por todos nós conhecido
por Santo António.
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Aquela Avenida, uma das principais da baixa
de Lisboa, encontrava-se bem iluminada com um pódio
montado mesmo no centro daquela artéria, junto ao monumento
em memória aos mortos da Grande Guerra, a fim dos autarcas,
membros do governo e convidados poderem assistir àquele
evento já que era ali que as marchas se exibiam e apresentavam
as suas coreografias.
Não hajam dúvidas que estas
tradições encontram-se cada vez mais enraizadas
nas gentes da Capital e, pelo que nos foi dado a observar,
tanto na composição das músicas e letras
como na confecção dos trajes alusivos aos temas
escolhidos por cada Bairro, estavam excelentes.
Clique nas fotos p/ ver
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Queremos aqui deixar uma nota de agradecimento
aos membros da Comissão Organizadora pela simpática
atitude que tiveram para connosco quando contactados no local
onde se exibiam os concorrentes destas marchas, que de imediato
nos forneceram a devida autorização para nos
movimentarmos em igualdade com os outros membros da media
radicados em Portugal. Até que enfim que os elementos
que trabalham ou colaboram na comunicação social
espalhados na diáspora vão, pouco a pouco, sendo
reconhecidos e respeitados pelas diversas organizações
que superintendem este eventos em território nacional.
Há outra situação bastante melindrosa,
pensamos ser o caso, que se passou e que deveria ser solucionada
com a possível urgência. Tem a haver com a rede
de transportes daquela Capital e não com as marchas
ou segurança do recinto ou da Avenida. É que
terminado aquele evento, na Avenida da Liberdade (as marchas
terminam de se exibir por volta da uma da madrugada) já
alguns dos seus transportes estão encerrados porquanto
o metropolitano de Lisboa encerra as portas por volta da 1:15
da manhã e o comboio que vai para Setúbal, no
outro lado do Tejo, terminar o serviço antes daquela
hora, às 12:45 da manhã. Assim milhares de pessoas
têm que se socorrer dos táxis, uma coisa muito
difícil quando duas ou três mil pessoas os procuram,
ou “marcham” durante horas para outros pontos
e Bairros da cidade. No nosso caso, que estávamos alojados
em Cruz de Pau, tivemos que esperar uma hora pelo serviço
do velho e amigo “Cacilheiro”, já não
contando pela meia hora a andar, a pé obviamente, até
à zona de embarque, no Cais do Sodré. Aí
esperamos pelo barco, que somando o tempo de travessia e seguidamente
outros 45 minutos por um táxi em Cacilhas, nos deixou
à porta de casa por volta das 4 horas da madrugada.
Alvitramos que a CML (Câmara de Lisboa) estenda o horário
daqueles meios de transporte por mais uma hora nestes dias
especiais para evitar que as multidões, que caminham,
em grupos numerosos, pelas ruas desertas de Lisboa àquela
hora, sejam mal influenciadas e comecem ao desacato e aos
actos de vandalismo. Nunca se sabe quando algo com que atrás
apontamos possa vir a acontecer. Aqui em Toronto, anos atrás,
não há muitos, aconteceu, algo semelhante após
um jogo de hóquei sobre o gelo, baseibol ou concerto
de música rock (não sabemos ao certo), na zona
da baixa, tendo tido a intervenção da polícia
local, para restaurar a ordem, segurança e o sossego.
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