O DESPORTO NA LÚCIDA INTERPRETAÇÃO
DO MAIS-QUE-POPULAR COMENTADOR
GABRIEL ALVES NA RADIOTELEVISÃO PORTUGUESA
Comentador Desportivo Gabriel Alves
“Muito obrigado por estarem aqui!
É com muito prazer que fico deste lado.
Agradeço o convite ao Sr. José Ferreira e, estar
no meio da Diáspora, é algo muito especial, muito
interessante e de grande valor.
A Diáspora está no mundo. Normalmente
não tem pátria mas funciona no âmbito de
um encontro de culturas e de fusão de culturas. Mas para
que esse encontro e essa fusão possam ser uma realidade,
possam ser uma verdade é necessário que não
se perca a identidade. E a identidade é a língua.
Já hoje aqui, em alocuções brilhantes,
foi falado o problema da língua pela Sra. Dra. Edith
Molina que nos falava no Chile, da imigração alemã,
que formava um autêntico “bunker” na defesa
da sua língua, para que ela não se perdesse.
E também do Sr. Ivo Azevedo, quando
fazia a sua exposição sobre a genealogia não
deixou de mostrar a sua preocupação em relação
aos seus netos, na perda, de alguma forma, da expressão
da língua portuguesa entre eles. E a luta que mantinha
acesa para que isso não acontecesse. Também, com
algum humor, excelente intervenção da Dra. Carla
Cook, uma queirosiana fantástica – e eu gosto muito
do Eça de Queirós e da forma como ele escreve
e acho que os nossos clássicos, como também os
nossos contemporâneos, são veículo importante
para que a língua se mantenha viva, vigorosa, fresca.
Tivemos ontem aqui o meu colega, Dr. José
Rodrigues dos Santos, que é um dos escritores e autores
da actualidade, que através de um trabalho de excelente
investigação, um trabalho científico, nos
dá através de romances, passe a expressão,
apetitosos de ler, nos dá facetas da nossa intervenção
no mundo que são extremamente importantes para a difusão
da nossa língua e da nossa cultura.
Ao ouvir a excelente palestra da Dra. Carla
Cook fiquei cheio de vontade de chegar a Lisboa, ir ao escaparate,
e ir buscar, mesmo sem saber se tenho muito tempo para ler os
grossos volumes do Eça de Queirós, mas pelo menos
recolherei o livro de contos e não deixarei de dar atenção
àquele ‘Singularidades de uma Rapariga Loira’,
já que estávamos a falar do feminino, aquela rapariga
lindíssima, loira ‘de gesto e trato de grande dote
que falava francês, tocava piano, que tinha um riso brilhante,
mas nesse brilho... tinha um dente podre’!
Pois bem, tudo isto para introduzir e dizer
que o futebol e o desporto, futebol em particular e desporto
em geral, também podem ser – e são, na minha
opinião – importante segmento da língua
portuguesa. E não são só para a Diáspora.
Eu estendo isso à Lusofonia. Porquê o desporto
e porquê o futebol, em particular? Porque o desporto,
na sua essência, normalmente traz-nos sucesso, traz-nos
vitórias, traz-nos ídolos, traz-nos paixão,
traz-nos vontade de falar daqueles de quem gostamos, daqueles
que são exemplos. E esses não são só
para os mais velhos. São dos mais velhos para os mais
novos e dos mais novos para os mais velhos. E hoje em dia, até
no âmbito do futebol português, nós temos
na Diáspora grandes nomes, nomes que são vértice
de êxito, como o Luís Figo, como o Rui Costa, como
foram o Paulo Sousa, ainda o Fernando Couto, o próprio
Vítor Baía que esteve e voltou, como os mais novos,
o Cristiano Ronaldo, como o Ricardo Quaresma que esteve fora
e voltou, o Simão esteve fora e voltou. O Simão,
na minha opinião, vai regressar ao estrangeiro, o Ricardo
Quaresma não é por muito tempo que não
esteja de novo na Diáspora, e isto para vos dizer que,
de facto é importante que estes nomes, que estes homens
do futebol que estão cada vez mais carregados de êxito
e de sucesso, e que são exemplo nos países onde
exercem a sua profissão, embora sejam – e eles
assumem-se como tal – imigrantes de luxo, a verdade é
que esse êxito, que esse sucesso, é extremamente
importante para que a língua portuguesa não se
perca porque eles são portugueses e é na língua
de Camões que, quando se fala deles, se lembra nessa
língua e se expressa nessa língua.
Já lá vou a outro imigrante,
que é o caso do Mourinho, mas deixemos o Mourinho que
falaremos dele um pouco mais adiante...
Falando do desporto em Portugal, isto é
triste dizer, mas não somos um país com uma prática
consistente de desporto. Infelizmente isso tem acontecido ao
longo dos anos, o desporto nunca foi devidamente programado,
devidamente projectado, devidamente balizado. Nós temos
tido êxitos através do esforço, do associativismo,
mas não temos desporto escolar. Há que citar que
não temos desporto universitário. Os Estados Unidos,
como sabem, é uma das fontes de estímulo, de estudo,
digamos, de academismo para a formação na vida.
Pois nós não temos isso em Portugal. Vamos tendo
através daquilo que é feito no associativismo,
através do Comité Olímpico, através
do Conselho Superior de Desporto, há de facto um esforço
grande e, até nos últimos Jogos Olímpicos
tivemos uma participação extremamente interessante
e gabada, mas que vem de um esforço e não de um
projecto.
Na minha opinião é necessário
e urgente que se comece no desporto escolar, não esquecendo
o desporto universitário, que é um segmento a
ter muito em conta, e que depois tenha de facto uma consequência
em termos de alta competição, em termos de desporto
de rendimento, com uma qualificação muito maior
do que aquela que infelizmente vamos tendo.
Nós temos, a espaços êxitos:
tivemos no atletismo, temos no hóquei em patins, de vez
em quando no andebol em que crescemos e depois decrescemos,
no remo vamos também tendo alguma expressão pela
importação, também, de treinadores estrangeiros,
portanto para a tal formação que também
é necessária. Portanto, isto tudo também
faz parte dum complexo que, na minha opinião, nós
não olhámos em tempo devido com olhos de ver e
de tratar. E penso que seja importante que, de forma urgente,
se faça algo. E espero que sim pois acho que as pessoas
que nos governam e que têm o País nas mãos,
não ignoram que o desporto e a educação
são factores de grande importância.
Vejam a importância que teve no tempo
e no espaço as vitórias do Carlos Lopes –
ele começou a ser importante aqui, em 1976, nos Jogos
Olímpicos de Montreal –, vejam quão foi
importante depois a Rosa Mota, e a seguir todo um enorme número
de nomes que despontaram no atletismo de fundo e meio-fundo,
precisamente porque era o mais fácil, portanto não
eram ainda as chamadas disciplinas técnicas. Embora aí
já vão aparecendo alguns nomes importantes nessas
ditas disciplinas.
Mas o hóquei em patins, que trazia também grande
frescura, grande vigor, grande interesse, e de que se falava
(morreu há poucos dias uma grande figura dessa modalidade,
o Fernando Adrião, que durante anos e anos espalhou arte
pelo mundo e toda a gente falava dele) mesmo no localizado hóquei
internacional, porque não tem, digamos assim, uma difusão
como o futebol, como o básquete ou como o andebol mas
que tinha, e tem, essa expressão e, dentro dessa zona,
desse território, era de facto uma figura de grande importância,
como anteriormente havia sido o António Livramento. Portanto,
são pessoas que obrigaram a que cá fora se falasse
delas, onde quando as vitórias aconteciam, os portugueses,
estivessem no Canadá, em Londres, nos Estados Unidos,
na Ásia – porque há portugueses espalhados
por todo o mundo –, nos mais recônditos locais falavam
dos seus vencedores, dos seus heróis, dos homens que
faziam sucesso pela bandeira do seu país.
No futebol as coisas têm uma dimensão
diferente, nós temos uma excelente selecção
nacional que nos orgulha, que tem feito um trajecto altamente
positivo. Porquê? Porque houve metas que foram devidamente
tratadas. E isso deve ser explicado e deve ser dito. Nos anos
80, o José Augusto, que foi internacional português,
que foi dos “Magriços da Sagres” de 1966
e também grande figura do Sport Lisboa e Benfica, chamado
a treinador das formações da Federação
Portuguesa de Futebol, encetou um trabalho a que se juntaram
depois o Professor Jesualdo Ferreira e Peres Bandeira. Mais
tarde, e em boa hora, o Professor Carlos Queirós. O que
é que o Professor Carlos Queirós trouxe àquilo
que os três primeiros haviam encetado? Componente científica,
programa, plano, estrutura, projecto, balizas. E, obviamente,
começou a haver resultados.
A formação foi efectuada a nível
do país, a detecção de talentos foi devidamente
projectada e devidamente estruturada. Os trabalhos, ao nível
dos professores de educação física, espalhados
pelas escolas e pelas associações, foi um trabalho
devidamente organizado, e Portugal foi campeão do Mundo
em 1989. Depois, em 1990, para que não se dissesse que
foi por acaso, Portugal voltou a ser campeão do Mundo.
E daí para cá a Federação tem vindo
a desenvolver um excelente trabalho concreto, com resultados.
Agora, repare-se: de 1989 até agora,
quantos jogadores saíram de Portugal? O Paulo Sousa,
o Fernando Couto, o Vítor Baía, o Luís
Figo, o Rui Costa, tantos! Mas os primeiros, a tal geração
de campeões. Depois, à medida que as coisas foram
evoluindo, outros foram saindo: o Sérgio Conceição,
por exemplo. Estou-me a lembrar dele porque tem feito furor
em Itália como o está agora a fazer na Bélgica,
onde é considerado o melhor jogador estrangeiro do futebol
belga. Mais recentemente o Cristiano Ronaldo. Eu só quero
dar um ou outro exemplo para não me estender. Porque
são muitos.
Neste momento, a selecção de
Portugal, muitas das vezes, dos onze titulares (e eu não
quero esquecer aqui o Pauleta, atenção) nenhum
jogou no campeonato português! A selecção
nacional só tem um jogador a jogar em Portugal que é
o Ricardo. E às vezes, o Simão Sabrosa. E o Simão
Sabrosa, como sabem, nem sempre é titular. É o
Ricardo mais 10. O Ricardo joga no Sporting e depois temos mais
10 que jogam habitualmente no estrangeiro. O porquê disto?
Porque houve um excelente trabalho ao nível da Federação,
o que aguçou entre os bons jogadores o apetite pelos
clubes estrangeiros, pelos clubes mais ricos, de futebol mais
rico, de futebol mais desenvolvido.
Antes, só o Paulo Futre tinha feito
sucesso no estrangeiro, no Atlético de Madrid. Portanto,
em 20 anos, Paulo Futre tinha sido um caso singular. Daí
para cá, de facto, Portugal espalhou o talento, toda
a qualidade do seu futebol através dos grandes clubes
do futebol europeu e mundial. Ora bem, o que é que isto
nos leva a dizer? Que a Federação está
a fazer um bom trabalho, tivemos um Euro 2004 que foi excelente
em termos de organização, que orgulhou a Diáspora.
E isso é verdade. Porque a Diáspora quando sente
que no seu país há eficácia, há
qualidade, há êxito sente-se bem. Especialmente
nos territórios onde desenvolve a sua actividade social
e profissional porque se sente ainda mais respeitada. Olham
para eles enquanto portugueses vendo que no seu país,
na bandeira que trazem, há também capacidade e
qualidade.
Isto do futebol, e obviamente do desporto,
e das estruturas, e das organizações desportivas,
e dos eventos desportivos, pela sua mediatização,
chega mais rápido, mais depressa. E nas fábricas,
nos escritórios, onde quer que seja, os portugueses quando
são confrontados com os nacionais locais sentem que,
perante este êxito, perante este sucesso, suscita da parte
deles um olhar diferente, um olhar com outro tipo de respeito.
E isso é fundamental.
José Mourinho, aqui o trago agora. Porque
é que ele hoje é importante no meio da Diáspora?
Porque para além da sua competência capacidade
e qualidades técnicas, foi, e é, um homem capaz
de enfrentar a sociedade onde se inseriu. Não só
levou valor acrescentado, com toda a sua competência,
mas afrontou essa sociedade, pela qualidade, para que se alterasse
alguma coisa, para que houvesse alguma coisa de diferente e
não se acomodou a dizer: ‘- Eu sou competente,
ganho, faço, aconteço...’ Não! Ele
quis impor uma mudança de regras porque sabe que tem
capacidade e qualidade para isso.
Mostrou-se, foi irreverente e ainda bem que
o fez porque assim é um imigrante diferente, diferentes
no sentido de transportar todos os outros atrás dele,
e dizer aos imigrantes todos que, pela sua qualidade, desde
que sejam capazes, devem – mas devem mesmo – mostrar
esse valor e dizerem que, de facto, as coisas têm de mudar,
mesmo que as mudanças venham de fora. Eu acho que aí
o José Mourinho tem sido um excelente exemplo. Como há
outros que se calhar não se ouvem tanto, ao nível
da medicina, da ciência, da técnica, ao nível,
sei lá, dos projectos, de todas as vertentes profissionais.
Mas este Mourinho, por ser mais mediático e por não
virar a cara à luta, por estar sempre presente na ponta
da antena, obviamente que ele parece, e acho que tem feito um
bom trabalho em nome da Diáspora.
Agora se a selecção portuguesa
é, de facto um bem nacional, e esperemos que este ano,
na Alemanha tenha um comportamento condigno, nós também
temos que pensar que o futebol português, noutras situações,
independentemente de alguns êxitos que temos tido e que
têm sido importantes, como foram os casos do Futebol Clube
do Porto na Taça UEFA, na Taça dos Clubes Campeões
Europeus, como, por exemplo, este pequeno êxito do Benfica,
há pouco, quando venceu o Manchester United, que também
foi importantíssimo para a Diáspora, o futebol
português tem alguns problemas neste momento e que me
parecem enormes, como vem aqui na ‘Visão’,
porque não podemos falar só do que é positivo,
também temos que encarar sempre aquilo que não
está certo. Os ‘Podres do Futebol Português’,
numa excelente reportagem desta revista portuguesa, insere uma
série de artigos mas eu vou só ler as ‘gordas’
para que se perceba um pouco do que é que se passa: ‘Contratos
paralelos’, ‘Pagamento em géneros’,
‘Empregos para a família’, há esquemas
para tudo quando um clube quer agradar a um jogador. Mesmo sabendo
da crise há empresários que convencem os jogadores
a assinar, para ganharem a comissão, e em caso de rescisão
colocam o atleta noutro clube, garantindo novo encaixe.
O que é que isto quer dizer é
que, utilizando a frase de um anterior primeiro-ministro, o
futebol português está de tanga porque não
se soube gerir. Porque se dizia que o futebol era a paixão
do povo e portanto os meios valiam os fins. A verdade é
que há vários clubes que estão a desaparecer
da cena: o Farense, o Salgueiros, agora o caso da Ovarense,
o caso do Marco (de Canavezes), temos o problema com a situação
do Estoril que é algo que neste momento não se
sabe bem em que fronteira é que está, tivemos
esse bem real que foi o do Setúbal. E a verdade é
esta: reparem na geografia do futebol português, desde
a primeira liga: é Litoral, Sul é Setúbal,
no interior, nada! Esta é que é a grande verdade
da Geografia. E destes clubes todos, o Vitória de Setúbal
é um clube que está à beira do precipício.
Mas não só ele! É preciso que se tenha
isso em conta.
Depois, para que haja progresso no futebol
português é preciso que exista uma segunda liga
capaz, forte, vigorosa, com boa competitividade, saudável.
Porquê? Porque nem todos os clubes podem absorver todos
os jogadores, é impossível. Portanto há
necessidade que os talentos que nasçam tenham competitividade
em escalões secundários de molde a que se possam
mostrar, através da competição, através
dos jogos, de forma a poderem subir e crescer, de forma a poderem
mostrar-se, de forma a poderem vir a dar mais valor ao futebol
português, em geral, e até para as selecções.
Eu sei que neste momento, por exemplo, na selecção
de Sub-21, os seleccionadores debatem-se com problemas porque
há jogadores que não jogam nas primeiras equipas
porque são suplentes, são ‘jogadores de
banco’ dos grandes clubes e depois, nas divisões
secundárias, como há falta de pagamentos, de ordenados
em atraso, os jogadores não jogam, porque não
estão a ser pagos. Ora há aqui todo um problema
que se adivinha em termos de futuro... algo preocupante.
Há que redimensionar o futebol português,
há que recalendarizar, há que reestruturar, mas
há que o fazer rapidamente. No âmbito do associativismo
há que reestruturar e fazê-lo rapidamente, mas
com olhos de ver e pensar que os tempos em que valia tudo, onde
se podia ir buscar barcos de brasileiros, barcos de jogadores
só porque era o negócio pelo negócio. Era
um negócio muito bom para os comissionistas. Mas os clubes
hoje já não comportam com isso. Reparem: foram
as bombas de gasolina, foram os bingos, foram os terrenos, tudo.
Tudo foi absorvido. O dinheiro que veio daí, esse dinheiro
está esgotado. Os clubes já não o têm,
gastaram-no todo. Depois foram as SADs, uma forma de entrada
de capital. E mesmo isso já não chega.
Reparem que há presidentes de clubes,
caso de Luís Filipe Vieira, que anda a vender o ‘kit’
por todo o mundo, uma atitude de bem chegar ao terreno, dá
a atender ao seu povo, à sua nação, de
que aquele clube, aquela nação de que eles fazem
parte, tem necessidade do seu apoio. Vamos ao Sporting, que
tem os problemas que tem, e os dirigentes não deixam
de o focar, vem nos jornais, o próprio Futebol Clube
do Porto. O que não dizer de outros clubes, mais pequenos,
com uma gestão mal apertada, com uma situação
mais apertada, nesta altura não sabem como vai ser o
dia de amanhã.
Há um factor aqui que também
tem importância: com esta saída dos grandes jogadores,
sempre que um dê nas vistas, viaja imediatamente a ‘gula’
dos grandes clubes. Obviamente que o nosso futebol vai sendo,
eternamente, um futebol mais pobre. Nós não temos
grandes jogadores e essa qualidade está lá fora,
naturalmente, nós, cá dentro temos um futebol
compatível com os atletas, os talentos, com os artistas
que dispomos. A arte está nisto: sendo o povo português
bom de bola, criar na formação estruturas capazes
de se formarem futebolistas. Um clube pode até formar
100 jogadores. E se desses só aparecer um, paciência!
É assim, um ou dois. Poderá dizer o crítico
‘o investimento não compensa’. Se calhar
é mais fácil ir ao Brasil, trazer de lá
um barco, eles vêm assim a meio-preço... É
possível que eles venham mesmo a meio-preço mas,
provavelmente, o retorno é mau. Ao passo que na formação,
pelo menos dá-se dimensão em termos desportivos,
dá-se formação – que é importante
– e se houver alguém que, de facto, desponte, é
um enriquecimento para o âmbito do futebol português.
Quanto ao resto, a gestão da compra
dos jogadores estrangeiros tem de ser, neste momento, pautada
noutros termos. Repare-se que os clubes portugueses estão
quase todos a ir buscar jogadores a custo-zero, com uma escolha
hoje em dia meticulosa, como não se via há dois,
três anos, da forma como está a ser feita nesta
altura. E mesmo assim, atenção, às vezes
com valores que dá para pensar. Porque eles vêm
a custo-zero mas os jogadores têm ordenados altos. Esta
é uma verdade inquestionável.
Portanto, dentro desta perspectiva, temos uma
grande selecção que esperamos que em 2006, este
ano, possa dar alegrias aos portugueses, um futebol em Portugal
altamente competitivo, mas não de qualidade, não
qualitativo, em decréscimo, um futebol a pedir uma reflexão.
Vai haver um congresso do futebol, protagonizado pelo governo,
onde as pessoas, os agentes, terão intervenção
de molde a que se crie uma lei nova de bases em que o futebol
seja inserido de forma a poder ser revigorado, refrescado, de
forma que possa continuar a manter a paixão dos portugueses,
de uma forma saudável.
E é nesta paixão, do Benfica,
do Porto, do Sporting, e de outros clubes das terras, porque
é assim, as pessoas que aqui estão, os açorianos
que gostam do Santa Clara, que está neste momento na
segunda liga, e com alguns problemas de percurso. Mas ao serem
do Santa Clara, os açorianos também são
do Benfica, do Porto, do Sporting; os que são de Braga,
os bracarenses, também têm outras opções,
porque é assim a sociedade futebolística portuguesa,
com uma grande inserção, havendo portanto uma
divisão no coração dos portugueses: mais
de uma cor. Mas a verdade é que o Benfica, o Porto e
o Sporting são quem comanda, de facto a paixão.
E depois aparecem os clubes como o Nacional. E eu quero fazer
aqui uma referência à boa gestão do Nacional
da Madeira. Quero fazer uma referência à boa gestão
do Marítimo, o apoio do Governo Regional da Madeira onde
há regras estabelecidas. E essas regras vão de
encontro à formação que os clubes fazem,
ou ao número de jogadores estrangeiros que têm.
Tudo isto é muito importante: eles para receberem dinheiro
têm, digamos, um caderno de encargos a que têm de
responder. E só recebem em função do cumprimento
desse mesmo caderno de encargos. E não estão mal
de saúde, são dos clubes, quer o Marítimo
quer o Nacional, que estão em melhor condição.
O Braga está também com uma boa
gestão, está de facto numa boa posição,
tem aliás vindo a mostrar-se, de forma capaz, com um
quadro de jogadores escolhido a dedo, através do trabalho
de um treinador competente como é o Professor Jesualdo
Ferreira.
Portanto, meus amigos, temos este campeonato
português que sei gerar muitas paixões no seio
das comunidades da Diáspora, que gera conversa, que gera
confronto de ideias, gera treinadores de café, mas não
é só na Diáspora. Por isso é que
eu disse que para a Lusofonia isto também é importante.
Eu tenho também o privilégio de visitar Angola,
Moçambique, e de sentir lá, hoje países
de expressão portuguesa já, enfim, maiores, mas
aquela população, aquele povo, continua a viver
os êxitos dos clubes portugueses da mesma forma como os
seus antepassados viviam. O Benfica, o Porto, o Sporting continuam
a ser paixão, continuam a ser motivo de conversa e motivo
de mais: motivo de procura através de áreas de
comunicação como hoje é a televisão,
a verem jogos importantes e aquilo que é dito durante
os jogos, porque é aquilo que é dito em português
que se chega à notícia, ao comentário,
à análise, é através do português
que ouvem os jogadores falar, os tais ‘flash-interview’,
as tais entrevistas curtas do final, é através
do português que nos jornais e nas revistas, nos rádios
que se sabem as notícias, desde as novidades à
paixão do clube ou dos ídolos, dos jogadores que
mais gostam, e tudo isto gera, na minha opinião, uma
grande conversa na nossa língua e que me parece ser um
grande elo de ligação e, digamos, uma grande base
para manter a identidade da Diáspora através da
sua língua pelo mundo fora.
E eu continuo a dizer, desculpem a Diáspora
e a Lusofonia, que eu prezo muito a língua portuguesa.
A Dra, Edith Molina, há pouco, dizia uma verdade muito
grande que não só vale para os países hispânicos,
que determinado número de palavras em castelhano, que
no Chile têm um valor, na Argentina têm outro, como
no Português, muitas das palavras que nós usamos
em Portugal no Brasil têm um valor... bem grave!
Mas mesmo com esses desencontros, o que nos
interessa é o grande encontro!”
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