“O mito e o rito nos ensaios da tradição”
Santa Catarina, Brasil
Entre
a crença e o esquecimento
Texto: Cristina Oliveira
Fotos: Cristina Oliveira e Felipe Covalski*
Adiáspora.com
O som lamuriante que se ouvia, lembrava cantorias
de almas...
Em meio aos sons vindos da rua, escutei uma
batida acanhada na porta e ao abrí-la, me deparei com
a menina da vizinha, um tanto espantada, me pedindo para usar
o telefone. Convidei-a para entrar e enquanto ela dirigia-se
à sala e sem muitas palavras, observei que havia uma
movimentação estranha na rua. Pessoas transitavam
caladas e outras vinham enfileiradas, vestidas de roupas iguais,
num rumor sincronizado e policromatico: mulheres vestidas de
saias pretas e camisas em tom de amarelo pálido e calçadas
em formatos e cores variadas. Os homens vestiam-se de calças
presta, camisa branca e carregavam por cima de tudo, uma espécie
de capa solta, larga e vermelha, até abaixo dos joelhos.
Todos tinham nos rostos um ar cênico de seriedade... Elas
carregavam uma fita vermelha larga, com um medalhão grande
pendurado até a altura do coração. O homem
que ficava no lugar de destaque da fila dupla composta por mulheres
atrás e homens na frente, levava um cajado com um crucifixo
na ponta e puxava a cantoria lamuriosa...
A menina terminou de fazer o telefonema. Veio até a rua
onde eu ainda me encontrava paralisada e admirando a cena e
me perguntou quanto me devia pelo uso do telefone ( eles tinham
esse tipo de cuidado) e eu então lhe disse rapidamente
que ela não me devia nada, mas que eu adoraria saber
o que era aquele acontecimento todo. Ela então comentou
em voz fraca e poucas palavras, que as pessoas enfileiradas
faziam parte do Apostolado da Oração (mulheres)
e da Irmandade (homens) e que estavam todos ali para acompanhar
o cortejo; para orar e seguir o ritual. Continuei sem entender
nada e enquanto eu olhava a rua feito um palco em dia de ensaio
geral para uma estréia, ela continuou:
- meu pai morreu nessa madrugada e as pessoas todas vieram para
acompanhar o enterro...
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O ano era o de 1986 e eu rodando pela ilha
como costumeiramente fazia, deparei-me com um vilarejo que até
então eu nunca tinha escutado falar e em cuja placa de
sinalização manchada pelo tempo, indicava tratar-se
do Distrito de São João do Rio Vermelho.
O lugar está situado entre a praia da Barra da Lagoa
e a praia dos Ingleses, no norte da ilha e a comunidade, em
sua maioria composta por descentes açorianos, construiu
suas casas, dispostas lado a lado ou coladinhas umas às
outras, em humanizada desordem e ao longo da rodovia estadual
que na época, ainda tinha grande parte de sua extensão
sem qualquer tipo de pavimentação.
Barrada Lagoa, praia do Moçambique
e o Costão das Aranhas
As casas eram de arquitetura simples. Havia
engenhos de farinha de mandioca; carros de bois com seus chiados
característicos e vez ou outra, uma almofada de rendas
de bilro, encostada na entrada de alguma residência, compunha
o quadro bucólico do cenário envolto em uma luz
distinta e única. O Distrito pacato lembrava filme de
época, distribuído entre a montanha de mata atlântica
totalmente preservada e o mar; campos, rios, a lagoa da Conceição
e a praia do Moçambique, cujo nome lhe foi dado pela
abundância desse molusco existente por todos os 11 km
de sua extenção, que vai desde a Barra da Lagoa,
até o Costão das Aranhas. A praia é protegida
por lei e faz parte da grande área de proteção
ambiental onde está localizado o Parque Estadual do Rio
Vermelho.
Parque Florestal e praia do Moçambique
Depois de muitos finais de semana descobrindo
as trilhas da reserva e terras disponíveis para a compra,
consegui adquirir um terreno nas margens da lagoa, onde no passado
ficava o pequeno porto que atendia o povoado e de onde saiam
os barcos carregando os produtos das lavouras, a farinha produzida
nos engenhos, galinhas, ovos e outras produções
locais, que seguiam em pequenas embarcações até
o porto do centrinho do Distrito da Lagoa da Conceição.
De lá, a produção era transportada até
o mercado público do centro da cidade de Florianópolis,
em lombos de mulas, cavalos, carros de bois ou carroças.
Morro da Lagoa, do porto da Lagoa
da Conceição
e da região do antigo porto do Rio Vermelho
Depois de algum tempo e já vivendo no
Rio Vermelho, descobri que o nome do lugar foi-lhe assim atribuído
em razão das águas avermelhadas do rio que corta
a região, cuja cor é resultante do alto teor de
ferro. A sua nascente fica entre as dunas da praia do Moçambique
e já bem próxima do Costão das Aranhas,
que depois de percorrer quase toda a distância do povoado,
em meio a campos e baixios, desagua na lagoa, demarcando assim
os limites das terras dos moradores, das terras do Parque Florestal.
A região se difere um pouco das outras
existentes na ilha, por ser mais aberta, com partes de campos
e várzeas próprias para cultivo, tendo as montanhas
mais afastadas do mar e alinhadas por toda a extensão
do lugar. A comunidade vivia do cultivo do solo, pecuária
e da pesca artesanal, feita por linha ou por tarrafa. A praia
de mar de tombo e ondas fortes, dificultava a saída para
alto mar e então os pequenos barcos eram usados nas águas
calmas da lagoa, para a pesca de algumas espécies de
peixes, camarões e a coleta do berbigão, abundante
onde o rio Capivara, desembocam na lagoa.
Não havia telefone, posto policial,
posto médico, supermercados, farmácias e para
todas as compras, era necessário fazer o trajeto de aproximadamente
27 km que separa o Distrito de São João do Rio
Vermelho, do centro da cidade de Florianópolis. Ainda
assim o lugar possuía um encantamento indescritível
e as maiores e melhores terras de toda a região.
Rio Vermelho
Até bem pouco tempo, era comum na ilha
avistarmos senhores conduzindo suas vaquinhas leiteiras por
uma corda, em passeios pelas ruas e isso acontecia por toda
a ilha, desde os povoados mais distantes do centro da cidade,
localizados a pouco mais de 35 kms, em lados opostos, tanto
na ponta norte, quanto na ponta sul da ilha, até mesmo
muito próxmo do centro de Florianópolis...
E sem muitas explicações, a ilha
que se mantinha quase intocada, derrepente tornou-se conhecida
como “A ilha da Magia”. Encantadoramente envolvente,
o folclore local falava das bruxas que rondavam os telhados
das casas em noites escuras e no Rio Vermelho, até bem
pouco tempo, ainda era possível encontrar “Benzedeiras”,
que prestavam seus serviços de desembaraçar bruxarias
variadas e mais especialmente as estranhezas atribuídas
às fraquezas dos bebes recém nascidos. Nomes estranhos
eram dados aos males dos pequenos, tais como “anca caída”,
“nó nas tripas”, “cobreiro” e
outros tantos. O nascimento dos bebês normalmente acontecia
em casa e era feito com a ajuda de parteiras. Somente depois
de passado algum tempo, é que tomei conhecimento de que
um obstetra famoso da Lagoa da Conceição, que
por vezes era chamado para realizar o parto e já quando
se aproximava a hora, ele chegava e se hospedava no lugar e
por vezes até mesmo na casa da própria parturiente.
Vinha com a malinha de equipamentos médicos, medicamentos,
coisas pessoais e até a prancha de surf, pois se a maré
ou a mudança da lua permitisse e até a hora da
chegada do bebê, ele aproveitava a estadia para outras
visitas e uma ida até a praia para surfar nas ondas perfeitas
do Moçambique. Dr. Pedrão brincava dizendo que
pelo choro da mãe, ele sabia a hora aproximada do nascimento
do filho...
BALÉ DE MULHERES BRUXAS
Depois
de haverem chupado muito sangue de inocentes criancinhas, sem
serem molestadas por benzedeiras, armadilhas e outros, esta
caterva de mulheres resolveram comemorar a vitória diabólica,
com uma dança de balé bruxólico no Morro
do rapa no extremo norte da Ilha de Santa Catarina, sobre a
bata rubra do ex-anjo Lúcifer.
Afirma a Madame Estória, que as mulheres bruxas possuem
uma inteligência excepcional, a qual elas usam sempre
para ludibriar o homem de argila humana crua. Por isto, elas
vivem às turras com benzedores, armadilhas e outros,
desde os séculos dos séculos.
Madame Estória vê,
O sinistro Lúcifer
Bispando o lote de bruxas,
Que está dançando balé.
Após haverem chupado
Muito sangue de criança,
Estas bruxas elegantes,
urdiram esta Festança.
O balé que elas usam.
É o balé da bruxaria.
Marcado nas horas mortas,
Quando vem o fim do dia.
Hó! minha Ilha encantadora,
Meu fraco é sempre te amar.
Pois tu és catita bruxinha
Que repousa sobre o mar.
Franklin Joaquim Cascaes
“Bruxa, bruxé, freio na boca
e maneio nos pés. Aqui tu não hás de vir,
nem onde esta criança estiver. Em nome de Deus e da Virgem
Maria.” (Dona Etelvina, 78 anos, benzedura para bruxaria).
“Quebrante é assim: uma criança muito bonita,
muito ativa, assim bem esperta, chama a atenção
da pessoa. Então, tem pessoas que têm um olhar,
assim, que às vezes não sabe e tá botando
o quebrante . Aí, a criança começa a ter
febre, fica enjoadinha, não dorme de noite direito. Dorme
com as vistas abertas, se tremendo. Assim começa o quebrante
...”. (Julieta, 58 anos, benzedeira).
“O quebrante é com três galhinhos de arruda,
ou quebra-tudo, guiné ou qualquer galhinho verde que
não tenha espinho. O cobreiro é com guanxuma,
que arranca no terreno e benze com um copo de água. O
cobreiro, a mordida de bicho é assim: três galhinhos
de guanxuma e um copo com água. O sapinho se benze com
nove grãos de milho e uma faca cortando. A “izipela”
eu benzo com três folhinhas de laranjeira e um pouco de
azeite. Cada benzedura é diferente. A benzedura para
criança é uma e para adulto é outra.”
(Julieta, 58 anos, benzedeira).
(Depoimentos de benzedeiras e familiares de embruxados
na luta contra a ação das bruxas, em trechos retirados
da dissertação de mestrado de Suzana Araújo,
“Bruxas e Bruxarias na Ilha da Pintada”, de 1998).
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O carnaval de São João do Rio Vermelho, também
era uma tradição completamente diferenciada do
que eu havia visto até então. As pessoas vestiam-se
de modo caricato e usando máscaras de diferentes materiais
para não serem identificadas, saiam em blocos pela rua,
arrebanhando outros seguidores com seus instrumentos de percussão.
No Natal, cada morador era visitado pelo “Terno de Reis”
que entravam, cantavam, eram convidados a comer e beber com
os donos da casa e logo após seguiam adiante...
Como em outras comunidades católicas,
as famílias recebiam uma capelinha com a imagem de Nossa
Senhora da Conceição, que ia de casa em casa numa
visita em rodízio, arrecadando alguns donativos que cada
família deixava na gavetinha aos pés da imagem.
Muitos moradores nascidos na localidade, não
conheciam o centro da cidade de Florianópolis até
os anos 90 e foi nessa época então, que as grandes
mudanças começaram a acontecer e muito rapidamente,
por toda a ilha, mas muito fácil de ser percebida na
localidade de São João do Rio Vermelho, em razão
das terras mais planas, dos campos e do espaço mais aberto.
A televisão local só podia ser assistida com alguma
qualidade no centro da cidade, pois a transmissão fora
dali era mesmo muito ruim. Tais dificuldades tinham como causa
principal a barreira formada pelas montanhas que impediam a
chegada da imagem para os locais mais afastados e então
as pessoas passaram a adotar as antenas parabólicas.
Em pouco tempo deu-se uma proliferação daqueles
captadores de sinais feito um guarda chuvas do avesso e em cada
propriedade havia pelo menos um deles espetados no jardim. Isso
fez com que as informações por canais de televisão,
passassem de simples imagens listradas, fantasmagóricas
e quase indefinidas, diretamente para as imagens limpas e coloridas
das programações do eixo Rio/São Paulo.
Os hábitos foram mudando visível
e aceleradamente. A praia que antes era lugar que servia apenas
para o sustento e de onde se podia trazer fartura à mesa,
passou a ser visitada e transformando-se em reduto de laser
e ponto de encontro da juventude, ao sol e nas deliciosas ondas.
As terras foram sendo desmembradas em condomínios e loteamentos
e assim foram sendo divididas lentamente e o que antes era aberto,
passou a ser visto com demarcações e em espaços
reduzidos.
Dos “Mitos”, restam poucos e o
mais frequente e fácil de se ouvir por ser muito utilizado
no marketing turístico, é o que tornou a cidade
conhecida por todos e reconhecida como de excelente qualidade
de vida: “Florianópolis, a ilha das bruxas e ilha
da magia”...
Dos “Ritos”, festas e folguedos
trazidos ou criados pelos fundadores da cidade e vindos das
ilhas dos Açores, a maioria repousa no passado e na memória
dos nativos. Não há mais muitas das práticas
costumeiras que reunia os moradores de cada freguesia para brincar,
cantar e dançar. Tudo foi se remodelando e redesenhando
seu perfil na medida que muitos dos recém chegados e
de diferentes lugares, se instalaram por toda a ilha e São
João do Rio Vermelho não foi diferente. As mudanças
aconteceram quase num piscar de olhos e já não
há mais o cheiro do café sendo torrado nos grandes
tachos de cobre dos engenhos, para ser servido em seguida em
forma de deliciosos “aparadinhos”, para os que passavam...
Não há mais engenhos com suas “farinhadas”,
que aos poucos foram sumindo e sendo transformados em objetos
de decoração. Os carros de bois foram esquecidos
ao relento e rareando cada vez mais e os sons de suas rodas
ficaram como registros distantes na memória... As plantações
acabaram sendo trocadas pela praticidade das feiras e supermercados
onde os produtos vindos diretamente do campo e de outros campos,
são oferecidos de maneira a encantar os olhos sem o envolvimento
direto com a manejo difícil da terra. Já não
há mais gado no pasto e quase nem há mais pasto...
O carnaval dos mascarados tornou-se lugar comum e as benzedeiras
são contadas como acontecimentos de um tempo distante,
mas presente ainda e até o final da década passada.
O “Boi de Mamão”, uma brincadeira
que lembra o “Bumba meu boi” do nordeste brasileiro,
passou a fazer parte de temas de escolas primárias. A
mais respeitada das professoras da escola básica de São
João do Rio Vermelho - a Tia Eliane - durante essa última
“Festa do Divino”e enquanto eu fazia as fotografias,
me contou que ensina aos seus alunos da escolinha maternal,
a brincadeira do “Boi de Mamão”, que é
citada como referência do que acontecia nas freguesias;
como uma brincadeira saudável praticada nos povoados
da ilha e separados na época pela difícil e bela
geografia desenhada pela natureza local, que fazia aproximar
as pessoas pelas dificuldades de ida e vinda de um lugarejo
para o outro.
Com as estradas, o asfalto e os novos meios
de transporte, as facilidades e outros divertimentos chegados
de fora, fez com que o “Boi de Mamão” acabasse
sendo esquecido e é desconhecido pela grande maioria
dos novos moradores que passaram a povoar a ilha, atraídos
pela beleza e qualidade de vida, vindos de diferentes partes
do país e do exterior.
Por fim, de tudo o que era passível
de ser visto com muita facilidade e num tempo ainda muito recente,
restou apenas a “Farra do boi” ou “Boi de
campo”, que hoje sobrevive na clandestinidade, por suas
características pouco éticas e muito agressivas
para a realidade atual e cultural, onde a prática passou
a ser crime contra a Constituição Nacional.
E diante de todas as perdas e esquecimentos,
a Festa do Divino Espírito Santo, foi naturalmente ganhando
novos adeptos e até mesmo de pessoas que não são
nativas, tornando-se assim e a olhos vistos, uma festa cada
vez mais rica.
Se antes a “Festa do Divino” era
um ritual singelo, trazido pelos antepassados das ilhas açorianas,
hoje ela se veste muito cuidadosamente em seus trajes enfeitados
e desenhados com exclusividade para ela e é desse modo
que a tradição vem sendo mantida na comunidade
de São João do Rio Vermelho, onde a qualidade
das encenações e vestimentas, podem ser comprovadas
nas imagens registradas.
Há nessa festa um cuidado especial com
a organização e a programação é
cumprida com rigor, fazendo com que os representantes da igreja
reconheçam a dedicação e empenho dos festeiros
e todos os demais envolvidos, direta ou indiretamente, nos preparativos
do evento e é essa a maneira encontrada pelos antigos
moradores, - hoje em número reduzidíssimo - de
manter acesa a tradição pagã religiosa
que une num cenário único, diferentes módulos
da história brasileira e açoriana, nessa que é
a ilha mais distante do arquipélago da terra mãe.
*Fotos de Florianópolis feitas em
diferentes épocas e em diversos locais da ilha, de autoria
de Felipe Covalski
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O
Divino no Rio Vermelho
Florianópolis, Santa Catarina – Brasil
De 15 a 17 de Setembro último, realizou-se
no Distrito de São João do Rio Vermelho, em Florianápolis,
Santa Catarina, Brasil, a Festa em honra do Divino Espírito
Santo, tradição religiosa trazida dos Açores
pelos primeiros colonizadores da ilha que dá o nome ao
estado de Santa Catarina, no sul do Brasil.
Os festejos centraram-se na igreja de São João
Baptista, em Rio Vermelho, com a seguinte programação:
Dia 15 - Às 20h00, procissão com todos os Apostolados
da Oração da Paróquia, seguida por missa
festiva.
Dia 16 - Às 19h30, cortejo Imperial com saída
da casa dos festeiros; às 20h30, missa festiva que seguiu
o cortejo para a casa Imperial.
Dia 17 - Às 9h30, cortejo imperial com saída da
casa dos festeiros; às 10h30, missa festiva e, logo após,
almoço com música ao vivo; às 16h30, novo
cortejo imperial e apresentação dos festeiros
da próxima Festa do Divino Espírito Santo, para
o ano de 2007.
O que a seguir se apresenta é uma foto-reportagem* sobre
o acontecimento.
Clicar p/ ver
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c..c......
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*Fotos da Festa do Divino
Espirito Santo realizada no Distrito de São João
do Rio Vermelho em Setembro de 2006, de autoria de Cristina
Oliveira