Festas e Mordomias:
O Divino Espírito Santo em São Miguel

Natividade e Carlos Ledo
Adiaspora.com

As tradicionais festas em honra do Espírito Santo, trazidas do continente pelos primeiros povoadores portugueses dos Açores, tiveram a sua implementação em Portugal nos tempos da Rainha Santa Isabel, com aprovação do Rei Dom Dinis, em Alenquer devido a uma prolongada doença de um seu habitante. Aí, o Culto ao Divino Espírito Santo nunca mais parou de ser celebrado. Mas mais tarde, com o passar dos anos, no continente português, a sua forma tradicional foi ficando esquecida, enquanto que nas ilhas açorianas o culto das festas do Espírito Santo ainda prevalece com muita fé e devoção.

As nossas gentes têm muita fé e apego às suas crenças religiosas, particularmente com as grandiosas festas e mordomias em honra do Divino. Independentemente de onde sejamos – da Madeira, Açores ou Continente - o importante é sabermos respeitar os nossos bons princípios. Mas os açorianos, em especial, sentem forte inclinação por tudo quanto é religioso, sobretudo quando se trata de festividades em honra do
Espírito Santo.

Principalmente os da ilha de São Miguel, devido às grandes aflições até mesmo dias amargos e de incertezas daquela ilha do Arcanjo, situada no meio do Oceano Atlântico, como todas as outras ilhas, desprotegida de todas as tempestades.

Desde sempre, este povo, tão sofredor com terríveis tempestades e fortes abalos de terra que fazem tremer toda a terra da ilha de São Miguel, mais propriamente Vila Franca do Campo e a freguesia da Ribeira Seca, a população inteira ao ver e sentir todo este sofrimento e angústia, entendeu que o único caminho a seguir, seria o de pedir a intervenção e poder da força do Divino Espirito Santo, na fé que só aquele poder Divino os poderia valer, depois de tantas lágrimas derramadas.

Muitos anos mais tarde, e com o passar dos tempos, e de todas as aflições,
estas devoções Divinas caíram ao esquecimento da população, reiniciando-se depois, pela acção das freiras do Convento de Santo André, em Vila Franca do Campo, que dedicaram então estas grandes festividades em honra do Divino Espirito Santo, a 15 de Setembro de 1662, altura em que D. Manuel da Câmara recebeu o título de Conde, passando então a reavivar o culto ao Espirito Santo. D. Mércia, de tão ansiosa em
concretizar um dos seus maiores sonhos, desabafou-os com as freiras do dito convento de Vila Franca, onde lhe foi recomendada a invocação e devoção ao Divino, para que assim pudesse receber estes seus grandes desejos.

Em Novembro de 1665, formou-se uma Irmandade e logo no ano seguinte realizou-se o primeiro Império, com muita fé. A partir dai, nunca mais cessou a propagação das festas, passando a ser festejadas em todas as ilhas Açorianas, com algumas diferenças, é certo, mas com a mesma fé e devoção ao Divino e com um sentido muito importante, que é o de dar esmolas aos mais carenciados. Por isso estes festejos também são conhecidos por Festas da Caridade, onde os mais pobres não devem ser
esquecidos. Infelizmente nos dias em que vivemos, devido à ganância imperante, os mais desfavorecidos são frequentemente esquecidos.

Como oriundos da Ilha de São Miguel, Açores, adoramos falar das tradições da terra onde nascemos e nos criámos, particularmente da Vila de Rabo de Peixe, nosso berço natal, sem de modo algum querer melindrar ninguém; porque todos temos as nossas ricas tradições. Só que as tradições da nossa terra são as que melhor conhecemos.

Naquela Vila, estas festas do Divino estão bem vivas, as novas gerações estão a levá-las por bom caminho, bem vivas no coração de um povo que as celebra como em outra parte alguma.

Na Vila de Rabo de Peixe existem seis Impérios: São Sebastião, Praça, Rosário, São João, São Pedro e Caridade, e ainda o das Crianças, todos com suas coroas e bandeiras; mas existem ainda duas grandiosas festas – também divinas –, que não de coroas, mas duas riquíssimas bandeiras com o símbolo do Espírito Santo. Uma chama-se Bandeira da Beneficência e a outra Bandeira da Caridade, sendo estas as únicas do Arquipélagos dos Açores, celebradas desta feição.

Tudo é decorado com as mais belas flores do campo, embora não mais como
outrora, quando eram usadas as flores dos quintais da vizinhança, sem esquecer o aroma saudável das criptomérias que ornamentam o barracão onde se depositam as carnes dos animais abatidos para as pensões dos irmãos, assim como os carros de bois que carregam estas mesmas carnes, para serem distribuídas, com as mais belas decorações nos chavelhos.

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Durante uma semana, em casa do mordomo, há grande alegria e musica por todos os lados. Os bailinhos originais dos nossos pescadores, muito afamados, fazem com que a juventude viva aqueles dias com intensa alegria. Em todos os lares casas reina as mais viva das alegrias com paz e harmonia, sobretudo no meio familiar, sem esquecer os amigos, porque eles também fazem parte desta festa, desde o mais novo ao mais velho, nem mesmo os netos não ficam atrás. Afinal é assim que são as festas em honra do Espirito Santo, plenas de confraternização.