Até nisto dividida…
FRACA PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE PORTUGUESA
NAS MANIFESTAÇÕES DE PROTESTO À POLÍTICA
DA IMIGRAÇÃO
Vasco Oswaldo Santos
Adiaspora.com
Em Toronto, o percurso entre o Queen’s
Park – sede da Assembleia Legislativa do Ontário
– e a Câmara Municipal, foi palco de duas manifestações
de protesto contra a política de imigração
do novo governo federal conservador, o qual, sem alterar uma
vírgula que fosse da legislação, ao aplicar
o peso da lei, está a expulsar centenas de imigrantes
ilegais e indocumentados, no Canadá, para os seus países
de origem.
Esta decisão do governo de Stephen Harper
teve grande repercussão na comunidade lusa de Toronto,
onde uma grande maioria dos expulsos e deportados encontrava
a sua principal fonte de rendimento na indústria da construção
civil, num momento em que o maior local sindical do Sindicato
dos Trabalhadores da Construção da América
do Norte, a Universal Workers Union, Local 183 da LIUNA vê
os seus dirigentes, na maioria luso-canadianos, suspensos das
suas funções e substituídos por fideicomissos
nomeados pelo sindicato central, em Washington, no seguimento
de uma auditoria cujos resultados irão ainda fazer correr
muita tinta.
A este facto não se pode alhear a divisão
verificada entre os trabalhadores ilegais de várias nacionalidades
que na sexta-feira protestaram enquadrados pela UWU e por algumas
organizações de cúpula da Comunidade Luso-canadiana
(Congresso e Federação de Empresários,
na primeira, e pela ACAPO, representantes políticos e
organizações religiosas católicas sul-americanas,
na segunda).
O “jogo dos números” quanto
à participação, depende de com quem se
fala: há quem diga que a de sexta teve “dez vezes
mais o número da de sábado”, mas tudo leva
a crer que a diferença não foi assim tão
pronunciada, entre 1.200 a de sexta e 1.000 no sábado.
Mas isso pouco interessa porque a participação
portuguesa, propriamente dita, foi fraca e diluída. Aquela
a que assistimos, a do segundo dia, tinha duas bandeiras portuguesas
“envergonhadas” no meio de outras, em representação
de países latino-americanos como Cuba, Uruguai, Argentina,
México, Honduras e Equador, por exemplo.
A coordenação com os órgãos
da comunicação social foi quase inexistente, não
houve qualquer comunicado a distribuir, nem cópias de
um discurso em Português mal alinhavado por José
Eustáquio (sábado) que não fazia sentido
quando o impacto teria sido muito maior se feito em Inglês.
Políticos presentes só em representação
do Partido Neo-Democrata (NDP) e Liberal (o grande culpado por
esta situação, segundo a opinião generalizada,
um assunto a que oportunamente voltaremos, agora que a poeira
está a assentar e as emoções a esfriar).
De notar também, e as palavras foram
do líder sindical (entretanto afastado) António
Dionísio, da UWU, que afirmou no sábado que cerca
de “1.800 trabalhadores da construção tiveram
o dia pago e livre para estarem na manifestação
e só metade deles respondeu à chamada”...
Em suma, um assunto da maior seriedade organizado
duas vezes em cima do joelho, dividindo a comunidade, semeando
a apatia por virtude do cenário em que se enquadrou e
sem culpas totais para a chuva que caiu abundante no sábado
de manhã.