Na Galeria “Almada Negreiros” de Toronto

Real Museu é nome pomposo
Para uma ideia é bem concebida

Vasco Oswaldo Santos
Adiaspora.com


A Consulesa apresentando o Dr. David Rendeiro

Há anos que o António Alves, figura bem conhecida da comunidade, especialmente nos círculos ligados ao First Portuguese Canadian Club, veio com esta ideia de reunir um acervo capaz de crescer até ser museu comunitário. Motivos variados, entre os quais a falta de apoios e de estruturação capaz e condigna, fizeram com que a coisa fosse ganhando contornos, por vezes difusos, muito à maneira portuguesa, com altos e baixos, pelas nuvens, com uma dose forte de lirismo e improviso que baste.

Mas as coisas boas, são como as sementes que esvoaçam, e há sempre uma que ganha o seu pedaço de terra para criar raízes e poder desenvolver-se como deve ser. Foi isto que parece estar, ao fim de tantos anos – quantos, António? Mais de 10?


Vasco da Gama, por Mestre Hildebrando Silva

Pelo meio houve a construção de uma Torre de Belém que o departamento de incêndios não aprovou por falta de segurança e outras interferências de figuras e figurões do nosso meio que só servem para atrapalhar e são um pouco como os testículos: colaboram mas ficam sempre de fora... Pois bem, parece estar ultrapassada essa fase depois do evento que, na Galeria “Almada Negreiros” do Consulado-Geral de Portugal em Toronto ganhou foros de notícia e de atenção por parte da reduzida “elite” que entre nós olha com certa atenção para estas coisas da cultura.

Foi no dia 26 de Junho, ao fim do dia. O tema foi uma apresentação sobre Vasco da Gama, o mais celebrado dos navegadores portugueses dos séculos XV e XVI, a quem muitos historiadores consideram mais pirata com sorte que outra coisa. Algo que um destes dias viremos a abordar.


O brasão do Museu

Por agora, fiquemos pela sessão-exposição a que tivemos o prazer de assistir. Como nos começa a habituar, a Dra, Maria Amélia Paiva franqueou as portas da Galeria a uma ideia boa. E o próprio António Alves, se bem que omnipresente em tudo o que se disse (e com toda a justiça, acrescente-se) deixou que outras estrelas brilhassem. A inclusão do advogado David Rendeiro foi positiva pois que traz consigo um toque de credibilidade se tivermos em conta as já citadas peripécias do acervo. E até faz esquecer a pomposidade do nome de Real Canadian Portuguese Historical Museum. Não seria Royal, para condizer com o resto do nome em Inglês? Ou talvez Real Museu Histórico Luso-Canadiano? Ou nas duas versões linguísticas. Bom, é lá com os fundadores mas a gente tem o direito de reparar, não é?


Laudalina Rodrigues e Ilda Januário

O discurso de David Rendeiro, nas pisadas da belíssima apresentação inicial da Consulesa Maria Amélia Paiva, abriu horizontes, respondeu a certas dúvidas e deixou um caminho de esperança para a realização de algo que pretende, na comunidade, mostrar aos compatriotas de outras origens e culturas um pedaço – talvez o melhor – da herança cultural lusa. Os ‘posters’ da Comissão dos Descobrimentos, por muito belos e informativos, empalideceram perante as pinturas do Hildebrando Silva. Vasco da Gama não perde o ar de severidade mesmo de óculos na mão; as caravelas que foram à Índia parecem gaivotas a esvoaçar sobre as ondas e a Torre de Belém é toda ela, até ao mais ínfimos dos pormenores; do escriba tão querida, cuja família tem a ela ligações muito chegadas como um destes dias explicarei.

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Serenada a nossa expectativa, crentes que agora, com mais um ajustamento aqui e outro ali, a vontade de alguns conseguirá o espaço para o Museu, culminou a parte cultural do evento com a leitura de alguns poemas de Camões e Fernando Pessoa, nas vozes cultivadas de Laudalina Rodrigues e Ilda Januário. Resta agora não deixar perder a oportunidade que estas “janelas” culturais não se abrem com a frequência que seria de desejar. Ah, que fique isto muito bem vincado: um museu deste tipo não vai, de maneira nenhuma, ofuscar ou tomar o lugar do já existente Museu do Emigrante. São dois mandatos diferentes, necessários, paralelos, que se completam mas não se atropelam. Certo?