Segunda-feira, 30 de Setembro de 2002

Neste dia foram exibidos três vídeos produzidos pela RTP- Açores: um da série "Raízes do Mar" realizada pela Dra. Piedade Lalanda, outro sobre a construção do Aeroporto de Santa Maria e o último com o título "Paisagem da Ilha do Pico" uma realização do Professor Fernando Melo.

O jornalista Germano Bairos apresentou um interessante estudo sob o tema "O Passado e o Presente de Santa Maria" no qual foca os aspectos históricos - as suas origens e povoamento, o desenvolvimento com o seu auge, que ele chama "Eldorado", em parceria com a construção do Aeroporto, seu uso (era então escala obrigatória dos aviões nas ligações entre a Europa e a América do Norte), posterior o declínio com o aparecimento de aviões de maior autonomia de voo e a mudança do tráfico aéreo para a Ilha Terceira e subsequentemente para S. Miguel. Este fenómeno teve grande impacto na economia da Ilha baixando drasticamente a sua população de 14,500 para 6,000 dos dias de hoje, embora focando que a emigração para os EUA e Canada tenha também contribuído para a baixa demográfica. A indústria piscatória foi igualmente afectada de maneira que quase desapareceu bem como a agricultura, só se salvando a pecuária que tem estes últimos anos vindos a expandir-se com a criação de gado bovino e ovino. Bem interessante esta palestra que cativou quantos ali presentes. Trabalhos destes são sempre bem vindos.


Germano Bairos

Seguiu-se uma conferência com o vice-presidente da Câmara da Ribeira Grande, Filomeno Gouveia, que teceu uma ideia do desenvolvimento, projectos em curso e planeados para o futuro. Assim entre outros focou a construção do Teatro, já completado; a recuperação do antigo edifício da Cultura, obras de saneamento, da construção da via litoral, do morro Sul de Santa Barbara e muitos outros incluídos no vasto projecto de obras de infra-estrutura, não esquecendo obviamente, todas as freguesias que compõem aquele concelho, e que visa colocar a Ribeira Grande a par com as outras cidades açorianas, e não só, no campo da modernização. Queremos referir aqui um incidente no final da intervenção daquele autarca, já no período de perguntas pelos presentes, quando um deles, o Professor Humberto Ferreira, um Rabo-Peixense, criticou duramente o ostracismo a que a sua freguesia tem sido votada ao longo dos anos quando a população da Ribeira Grande é inferior àquela freguesia. O autarca, Sr. Gouveia, concordou de imediato com o Professor Humberto Ferreira, mas apontando de imediato as responsabilidades tanto para o Primeiro-Ministro e ao actual Governo dos Açores (por gravação nos nossos arquivos) desculpando o Governo Autárquico por não ter qualquer hipótese financeiro, sozinho, de ultrapassar o "problema" de Rabo de Peixe, e que, na sua opinião pessoal, que esta freguesia tinha efectivamente um grave problema, nunca tendo sido feito um projecto de forma integrada planificada no tempo a médio, a curto e a longo prazo de maneira que os problemas neste momento tivessem de uma forma planificada ultrapassada. Foca também que a Câmara da Ribeira Grande tem lutado sempre e até, publicamente, ter já dito à população dos Açores que nada se fazia por Rabo de Peixe e que este (possivelmente o actual Governo pensamos) tinha investido cerca de 1% do valor que estava previsto no Orçamento e que todos os milhões anunciados não tinham sido executados no mínimo na Freguesia de Rabo de Peixe. Interessante esta discussão, embora não seja surpresa para nós como os políticos sacodem, sem pestanejar, as gotas do capote. Enfim, já estamos habituados. Que o Professor Humberto Ferreira, bastante nervoso na sua intervenção, embora com carradas de razão, não desespere ... algum dia se há-de fazer justiça e o seu torrão natal, a freguesia de Rabo de Peixe, será então beneficiada e o seu povo recompensado pelas injustiças que se tem feito por todos estes anos.


Filomeno Gouveia e Oliveira Neto

- Uma outra palestra, desta feita pela Professora Dra. Maria de Jesus Maciel apresentou algumas passagens de um seu estudo e investigação sob o tema "Imagens de Mulheres: no Amor, no Casamento e na Educação" e baseado nas representações femininas dos provérbios recolhidos nos Açores. Na introdução desta sua palestra referiu não ser movida por princípios ou atitudes feministas, mas apenas pelo prazer e gosto de descobrir a figura feminina ao longo dum largo tempo histórico, procurando explicações para as diferenças pessoais e sociais que se foram estabelecendo entre o homem e a mulher e verificar em que medida que:

1. Os provérbios traduzem a vida amorosa feminina.
2. O casamento e a sua importância na existência social e sexual da mulher.
3. O papel feminino na educação

Um estudo muito interessante desde a antiguidade das ideologias anti feministas, da ideia da inferioridade da Mulher, um ser limitado, de razão inferior, de pouca firmeza na sua vontade e os muitos provérbios negativos dos quais transcrevemos alguns:

"A mulher e a galinha pelo andar se perde asinha." (falta de ponderação e raciocínio)
"Mulher, vento e ventura são de pouca dura" (inconsistência)
"A mulher e a calera nunca se deixam andar à larga." (falta de autonomia)

Esta herança de inferioridade e dependência está bem presente na linguagem proverbial que compara a Mulher às faculdades negativas de certos animais com a "galinha", "cabra", "mula" e a "burra" - com total ausência de poder e de inteligência como:

" A mulher e a mula com afagos fazem trabalho." Ou
"Mulher que sabe Latim e de burra que faz him! Sai-te pra lá meu cavalim"

Outros provérbios foram mostrados onde a Mulher é tida como objecto e propriedade do Homem:

"A mulher e o alguidar não se devem emprestar." E ou de sua função limitada no trabalho obscuro e silencioso do Lar - "A sertã e a mulher na cozinha é que se quer."

Muito teríamos de apresentar sobre este fantástico trabalho da Dra. Maciel mas que nos é impossível pelo condicionamento de espaço. Esta palestra cativou a assistência do princípio ao fim. É, sem sombra de dúvidas, um produto de uma extensiva e minuciosa investigação e estudo através dos séculos das condições sociais da mulher. Bravo.


Dra. Maria de Jesus Maciel

Para terminar aquela noite pródiga de interessantes trabalhos foi servida uma prova de vinho Lagido do Pico, bem apreciado pelas gentes do Açores e não só.

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