SEMANA CULTURAL DOS AÇORES
CASA DOS AÇORES TORONTO
02 A 08 NOVEMBRO 2003
O IMPACTO DOS BAIRRISMOS NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO
DAS ILHAS E NO REFORÇO DA PRESENÇA DOS AÇORES
NO MUNDO
Dr. Vasco Cordeiro, Peter Fonseca e sua assistente,
Dr. Carlos Ávila,
Dr. Artur B. Madeira da Universidade dos Açores e Fernando
Faria.
Ser bairrista é ter amor à sua terra, é
ter orgulho em afirmar a sua naturalidade, é defender os
interesses da sua Freguesia, do seu concelho ou do seu País.
Ser bairrista é deixar transparecer com naturalidade, mas
também com desassombro um genuíno sentimento de
pertença à terra que nos viu nascer, ou à
terra onde optamos viver.
O bairrismo é o sentimento que melhor favorece a participação
e o empenho das pessoas. Participação que favorece
o surgimento de dinâmicas psico-sociais que traduzem à
evidência os processos de desenvolvimento locais, regionais
ou nacionais, fazendo fluir o aprofundamento da participação
democrática.
O bairrismo espalha influências motivadoras de auto-estima
colectiva que transfigura as atitudes de poder social dos habitantes
duma localidade, por mais pequena que ela seja.
O bairrismo, como atitude colectiva, de defesa dos interesses
de todos não deve ser considerado um pecado social, mas
antes uma atitude positiva, donde resultam enormes benefícios
para as comunidades.
Até mesmo o sistema democrático sai reforçado
quando o bairrismo é sinónimo de empenho e participação
social, em favor dos interesses das comunidades, pois mantém
os governos mais atentos à necessária resolução
dos problemas comunitários.
Nos Açores, nós somos bairristas! Somos bairristas
em relação ao continente de há séculos
até hoje. Mesmo sendo uma Região pequena e dispersa
por nove pedaços de terra no meio do Atlântico Norte,
sempre unidos reivindicámos mais autonomia de decisão
para nós. E assim continuamos nesta permanente atitude
de reivindicação, em relação ao governo
central.
Desta força da nossa união têm resultado
enormes benefícios, como sabemos, sendo por isso de prever
que assim vamos continuar ao longo das próximas gerações.
Mas nos Açores somos também bairristas em cada
uma das ilhas, ou em favor do nosso concelho, da nossa Freguesia
e até do nosso grupo de Futebol ou da nossa Banda de Música.
E pelo facto de assim sermos, mais nos agarramos à nossa
terra, e mais defendemos as suas iniciativas de interesse colectivo.
O pior que pode acontecer a um povo é não acreditar
nas suas capacidades, nas potencialidades da sua terra e ter uma
atitude de alheamento em relação a tudo, como se
nada lhes dissesse respeito.
A vida, a nossa vida, não nos pode passar ao lado. Nós
existimos, nós vivemos e vivemos com interesses individuais
e familiares, mas também com interesses sociais e comunitários.
Os Açorianos, nos Açores, vivem intensamente a
sua vida colectiva, defendendo os interesses do seu grupo desportivo,
do seu grupo folclórico, da sua banda de música,
da sua Freguesia, do seu concelho e da sua Ilha.
E é este amor à vida, à terra e ás
suas gentes que nos enche o coração dum enorme sentimento
de pertença a tudo que é nosso.
Só que e é muito importante o que vos digo agora,
é reconhecido também que acima dos interesses locais,
defendemos a nossa Região Açores, com o mesmo empenho
e emoção.
Este empenho permanente que faz progredir os Açores e
as suas comunidades e organizações locais, transformado
em sentimento de saudade açoriana, está hoje presente
nos quatro cantos do mundo, onde resida uma comunidade açoriana.
O bairrismo das gentes açorianas seja aqui no Canadá
ou nos Estados Unidos, ou no Brasil, ou até na Austrália,
sinónimo perfeito da saudade e do amor à terra donde
se partiu, fez prevalecer nestes enormes países e com cada
vez maior notoriedade pública, a nossa cultura, a nossa
inteligência e a nossa maneira simpática de ser e
estar.
Somos comunidades de pequena dimensão nestes Países,
é bem verdade. Mas o impacto social, económico e
também crescentemente político que provocamos, granjeiam
numa enorme credibilidade e respeito a favor dos Açores
no Estrangeiro.
Seja nos inúmeros clubes e associações,
mas também na Igreja, ou em cargos de eleição
política, ou nas empresas, os Açorianos aqui residentes,
repito, vivendo a sua saudade feita de empenho, de vigor e de
participação, constróiem todos os dias o
reforço da presença respeitada dos Açores
no Mundo.
Sei que há diferenças e até algumas divergências
profundas, com as quais há que aprender a viver. Mas tal
como lá já percebemos, deixo-vos aqui o apelo para
que, acima de todos os legítimos interesses das colectividades
se unam pelos Açores, se unam em colectividade açoriana,
tal como estamos aqui reunidos na Casa dos Açores de Toronto,
em favor das gentes açorianas aqui residentes.
Na diversidade que faz proliferar os impactos comunitários
da nossa permanência aqui, mas também e sobretudo
com a nossa unidade, seremos mais fortes neste grandioso País.
Toronto 03.11.05
Carlos Ávila
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