O PASSADO E O FUTURO DA VILA DAS LAJES
Palestra proferida no 17° Ciclo de Cultura
Açoriana
por Elmano Nunes Vieira, Presidente da Junta Vila das Lajes
(Toronto, 20 de Setembro de 2003)
...Minhas Senhoras e meus Senhores,
A responsabilidade de falar sobre a Vila das Lajes causa-me alguma
apreensão, pelo facto de, ao invocar alguns aspectos da
sua vivência, poderem sempre ficar outros por referir, os
quais, no entender de alguém possam ser considerados mais
relevantes do que os por mim mencionados.
Admitindo essas possíveis falhas, que ao fim e ao cabo
advêm da grande diversificação e riqueza de
factores inerentes à vida daquela Vila, iremos referir
algo relacionado com o seu passado, com a vida no momento presente
e com algumas perspectivas em relação ao futuro.
Assim e segundo Ferreira Drumond, a referência mais anterior,
que conhecemos respeitante àquele lugar, remonta a 1507,
ano em que Pêro de Barcelos ditou o seu testamento numa
moradia sita em Lagens, termo da Vila da Praia da Vitória.
Segundo o mesmo autor, em 1569 este lugar teria já 200
moradias.
Desde sempre a explorações de cantarias e a produção
do bicho-da-seda aliadas à fertilidade das suas terras,
proporcionaram riqueza àqueles que escolherem as Lagens
como lugar para viver.
Os habitantes prosperaram ao longo do tempo de tal forma, que
Jerónimo Emiliano se referia à freguesia das Lajes
como "esta grande, rica e populosa freguesia num lugar muito
amplo, alegre e desafogado".
Ainda em relação a dados históricos importar
lembrar que, segundo Drumond, o primeiro baptismo registado naquela
localidade remonta a 3 de Maio de 1563; o primeiro casamento a
30 de Setembro de 1592 e o primeiro óbito a 10 de Julho
de 1698.
Ao longo da sua história foi fortemente danificada pelos
sismos de 1614, 1800, 1801 e 1841.
Mais recentemente, em 1980, foi também bastante danificada,
nomeadamente a igreja e 12 moradias, deixando desalojados 50 moradores.
(Pedro de Merelim em Freguesias da Praia).
A tudo isto "as Lajes" resistiu, levantando-se com
coragem dos escombros e seguindo em frente com a tenacidade que
se reconhece a todos os Açorianos.
A partir do início da década de 1940, a vida na
comunidade Lajense tomou um novo rumo, com a implantação
da Base Aérea no. 4 no seu espaço.
Se é verdade que os campos de trigo ficaram drasticamente
reduzidos a partir daí, não é menos verdade
que foi a instalação da Base, nas Lajes, que provocou
o grande salto em termos de desenvolvimento económico daquela
freguesia, com repercussões na Praia da Vitória
e em toda a ilha Terceira.
O elevado número de pessoas que viram garantido o seu
ganha-pão com o trabalho dentro da Base e por efeito daquela,
contribuiu para que se assistisse ao acentuar da prosperidade
da comunidade local e também do comércio em toda
a ilha.
A população da então freguesia das Lajes
aumentou de tal forma que, atingiu o número de 7780 moradores
e 1365 fogos em 1970. Actualmente o número de habitantes
cifra-se em cerca de 5000 para cerca de 1500 habitações.
O desenvolvimento económico, social e cultural das Lajes
guindaram-na à categoria de Vila em 12 de Junho de 2002,
quando a Assembleia Legislativa dos Açores votou por unanimidade
o decreto legislativo que lhe concedeu o título.
Foi um acto de justiça e de reconhecimento do esforço
realizado por todos aqueles que contribuíram para que na
agora Vila das Lajes se tenha atingido o grau de desenvolvimento
que ali se verifica.
Neste grupo se incluem também os emigrantes dali oriundos,
os quais, através de investimentos locais ou de simples
envio de verbas ou até das visitas frequentes que nos fazem,
muito ajudaram a esse desenvolvimento a que nos referimos.
De facto, na vila das Lajes da Ilha Terceira, já menos
de 10% da população activa depende do sector primário,
estando a restante ligada aos sectores secundário e terciário.
A sua actividade comercial, industrial e cultural atinge um grande
relevo no contexto do Concelho da Praia da Vitória, estando
assim distribuída:
No comércio e indústria:
13 mini mercados / mercearias; Uma pensão residencial;
Quatro salões de cabeleireiro; Dez cafés, Quatro
restaurantes; uma pizzaria; Uma padaria; Uma moagem; Um aviário;
Dois talhos/charcutaria; Três estabelecimentos de electrodomésticos;
Dois estabelecimentos de material eléctrico; Dois estabelecimentos
de material de construção e ferramentas; Um estabelecimento
de produtos agrícolas; Duas lojas de mobiliário;
Quatro lojas de vestuário; Uma sapataria; Uma perfumaria;
Um clube de vídeo; Uma papelaria; Três estabelecimentos
de comercialização de automóveis; Trinta
pequenas e médias empresas de construção
civil (canalização / electricidade /carpintaria
/ pedreiro / pintura); Um posto de combustível e dois postos
de abastecimento de gás; Quatro oficinas de reparação
de automóveis ligeiros / pesados; Três oficinas de
reparação de electrodomésticos e uma oficina
de reparação de máquinas agrícolas.
Na cultura e desporto a Vila das Lajes honra-se de possuir:
Três salões de festas; Uma associação
desportiva; Duas bandas filarmónicas; uma moderna sede
de Escuteiros; Três escolas de música, dança
e outras artes; uma rádio local; um serviço de biblioteca;
um grande campo de jogos com relva sintética e três
pequenos campos de jogos.
Esta Vila dispõe ainda dos seguintes equipamentos sociais
de saúde, educação e ensino:
Uma Casa do Povo; Um posto médico com serviço materno-infantil;
Uma farmácia; Três estabelecimentos de ensino pré
primário e Dois estabelecimentos de ensino do primeiro
ciclo do ensino público, com refeitório, do primeiro
ao quarto ano de escolaridade.
A nível de outras estruturas é de referir a
existência de:
Um aeroporto internacional; Uma igreja e três ermidas,
um Centro Social e Pastoral; a Sede da Junta de Freguesia; Duas
Agências Bancárias; Duas caixas de serviço
Multibanco e duas estações de correio.
A vila das Lajes dispões de um notável número
de obras literárias que descrevem o seu passado histórico,
de autores que vão desde Ferreira Drumond a Vitorino Nemésio
e mais recentemente o importante documento histórico "As
Lajes da Ilha Terceira" da autoria de Avelino Meneses.
Recentemente a Junta de Freguesia da Vila das Lajes publicou
um roteiro que pretende servir de apoio logístico a quem
pretenda visitar a nossa Vila. Nele também constam as Sedes
das diversas actividades que enumerámos há pouco.
Actualmente, todo o nosso esforço vai no sentido da modernização
da vida das Lajes, onde pretendemos que todos os habitantes se
sintam em segurança e vivam com o conforto indispensável
ao novo século que se iniciou.
É assim que lutamos pela construção de infra-estruturas
para crianças e idosos na nossa Vila, em lugar já
adquirido para esse fim.
Em breve teremos a estrada principal asfaltada, a água
canalizada para a lavoura local e o problema da habitação
resolvido através da erradicação definitiva
das barracas ainda existentes.
No sector da habitação continuámos a rasgar
novos caminhos e infra-estruturá-los, apesar dos já
existentes, para que não falte espaço para a construção
de moradias aos casais jovens bem como a todos os emigrantes que
um dia desejem regressar à sua terra, periódica
ou definitivamente.
É sempre um motivo de contentamento quando isso acontece
e por isso queremos que aconteça muitas vezes e com muitos
de vós.
Ficam a faltar intervenções nas estradas de responsabilidade
militar, cuja definição urge resolver, bem como
reparar as estradas que ligam a Caldeira ao Bairro de Santiago,
assim como a ligação ao extremo norte da Serra do
mesmo nome, cujo espaço pretendemos ver arranjado em condições
de poder receber visitantes, pois trata-se de um ponto de observação
sobre o Ramo Grande, com uma vista espectacular.
Em termos ambientais continuaremos a manter as nossas ribeiras
limpas, bem como todo o espaço público da nossa
Vila.
Estamo-nos esforçando para que a zona de lazer da Caldeira
seja uma realidade, com zona balnear própria, pois não
faz sentido que possuindo mar, não tenhamos a ele acesso
adequado.
A zona industrial é já um antigo projecto da Câmara
Municipal a que a Junta de Freguesia aderiu, sendo importante
a sua rápida concretização.
São estes os principais projectos a desenvolver de imediato
na Vila das Lajes. Com eles concretizados, estamos certos de que
a vida melhorará para aqueles que ali vivem e para aqueles
que cada vez mais procuram construir a sua moradia nesta moderna
comunidade.
A Vila das Lajes tem os seus símbolos heráldicos
e um hino próprio, da autoria de Ricardo Martins, do qual
e a título de despedida, não resisto em recitar-vos
a letra que o compõe.
Hino da Vila
1. Num vale vasto e lindo
Sob o olhar de duas serras,
Do solo está emergindo,
A riqueza de suas terras.
Uma planície de cores vivas,
Que fugazmente se expande,
De terras belas e produtivas,
Denominada Ramo Grande.
2. Nome de Ricas pedreiras
Nosso marco mais antigo,
O celeiro das grandes eiras,
Dos campos de milho e trigo.
As suas casa caiadas
Dão-lhe um ar fresco e novo,
Cantarias trabalhadas,
Pelas mãos de nosso povo.
3. Lajes de nobres tradições,
Com touradas e alegria
Com bodas e procissões
E Carnavais de magia...
E o seu povo nobre e fiel,
Trabalhador e solidário,
Honra o Arcanjo São Miguel,
Louva a Virgem do Rosário.
Refrão
Cantemos alegremente
Ao som da nossa memória,
Às Lajes de estóica gente
À grandeza da sua história.
Ergamos a nossa bandeira,
Orgulhosa assim desfila
Mostrando na Ilha Terceira
As cores da Nossa Vila.
Disse:
Elmano Nunes
Canadá, 20 de Setembro de 2003
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