O FADO VADIO NA CASA DO ALENTEJO DE TORONTO

(Toronto, Agosto de 2003)

Por Carlos Morgadinho - Adiaspora.com

Com a presença de mais de uma centena de pessoas a Casa do Alentejo de Toronto realizou, no passado Sábado, dia 23 de Agosto, uma noite de fados, não só interpretado por elementos já bem conhecidos das gentes da nossa Comunidade, como também por amadores, aqueles que também amam a nossa canção nacional e que nas suas horas de ócio, e até nos locais de trabalho, sem o acompanhamento das guitarras e violas, o cantam, muitas das vezes para "matar" o tempo ou para esquecer alguma mágoa ou tristeza que lhes vai na alma.

Chama-se a este tipo de fado saído das gargantas tagarelas de amadores, Fado Vadio. E é verdade estas nossas afirmações porque, nós aqui na Redacção, neste momento, cantarolamos defronte dos computadores, muito timidamente, fados que não nos saiem das nossas mentes como "Eh! Pá do Fado", o "Fado do Embuçado", "O Amor é Louco" e muitos outros mais que desde pequenos nos habituámos a ouvi-los nos programas de rádio e até na televisão. Quem se preza de ter coração lusitano tem forçosamente de amar o Fado, pois é ele, depois do Criador, que nas horas tristes nos dá alento para vencer as vicissitudes e agruras da vida.

Naquela noite, a Casa do Alentejo, devidamente agalanada para aquele evento, na sala onde se encontra a lareira e a fonte, bem típicas da arquitectura alentejana, o Fado foi pretexto para um jantar tradicional bem à portuguesa, onde o bacalhau com batata e bem regado com azeite, foi "Rei". Terminado aquele delicioso repasto, totalmente confeccionado por um grupo de senhoras voluntárias daquela nossa Casa Regional, foi a vez de se dar início à sessão de fados, cujos intervenientes foram acompanhados por António Amaro e Leonardo Medeiros, à guitarra e à viola, respectivamente. Ao abrir aquele sarau, aqueles dois mestres dedilharam uma excelente rapsódia da nossa música tradicional, seguindo-se as vozes bem conhecidas das fadistas da nossa Comunidade, Luciana Machado e Fernanda Dinis. Depois foi a vez dos amadores que mostraram que o Fado não é só "propriedade" dos profissionais pelas actuações que nos agradaram sinceramente, com Maria Gomes, Teresinha de Jesus, Max Albuquerque, Maria Julieta e João Catalarrana, este com uma variedade do fado humorístico que nos fez recordar o saudoso Joaquim Cordeiro.

Foi uma noite bem passada, onde o fado castiço que todos nós amamos e de certeza absoluta muitos assistiram, há muitos anos atrás, nos pátios dos Bairros populares de Lisboa (Campo de Ourique, Madragoa, Mouraria, Alfama e Alcântara), em Coimbra, no adro da Sé de Santarém ou em Évora, embora não fosse da exclusividade destas cidades, pois outras cidades e vilas o fizeram e fazem nos nossos dias por todo o território nacional, assim como estamos fazendo aqui, em Toronto, a seis mil quilómetros de distância.

É de louvar a dinâmica da Direcção da Casa do Alentejo, que tudo faz, dentro das suas limitações, para preservar, não só a sua cultura regional, como também a de Portugal por estas terras do Canadá. Continuem Comadres e Compadres!