CONVERSAS DA DIÁSPORA

- Com o Pioneiro Afonso Tavares -

(2 de Outubro de 2003)

Por Adelina Pereira - Adiaspora.com

De seu nome Afonso Maria Tavares, este Açoriano de espírito aventureiro e indómito, nasce a 13 de Março de 1929 na Freguesia de Rabo de Peixe na Ilha de São Miguel, Açores.

Passa a sua infância ajudando o seu pai nas lides do campo. Desde tenra idade sente-se impelido a trabalhar a madeira, e sonha ser carpinteiro ou marceneiro. Mas a situação económica da ilha nesses tempos não era propícia a investimentos e a construção de casas escasseava. Afonso, seguindo os conselhos de seu pai, resigna-se a trabalhar a terra.

Certo dia, aparece um edital afixado na Igreja Paroquial anunciando oportunidades de emigração para terras do Canadá e Afonso faz a travessia para Lisboa donde novamente embarca no navio "Saturnia", desta feita, para as longínquas paragens do Canadá. Chega, integrado no primeiro contingente oficial de imigrantes portugueses, ao porto de Halifax a 14 de Maio de 1953. Tem como destino a Cidade de Montreal onde lhe espera o seu primeiro emprego em terras do Novo Mundo, o de trabalhador agrícola. Permanece em Montreal até 1955, tendo exercido diversas outras funções.

Em 1955 decide tentar a sua sorte na grande polis, Toronto, por haver, naquela altura, falta de trabalho em Montreal. Consegue empregar-se numa estufa de horticultura na cidade periférica de Brampton, na Província do Ontário.

Em 1956 regressa aos Açores de férias, durante as quais se aproxima da jovem que viria a ser a sua primeira esposa, Natália de Jesus, e enceta planos para a construção de uma casa de cinema na sua freguesia de Rabo de Peixe.

De novo em Toronto, Afonso trabalha por mais dois anos como operário de construção civil. Segue-se uma temporada em Vancouver na costa ocidental do país, onde é contratado como intérprete na construção das linhas ferroviárias da Columbia Britânica. Findo o contrato, regressa novamente a Toronto, onde descobre estar doente com tuberculose, tendo permanecido 6 meses num sanatório.

Mas com o seu projecto da casa de cinema ainda por terminar em Rabo de Peixe, Afonso viaja mais uma vez aos Açores, onde acaba por recuperar a saúde. Inaugura a casa de cinema, um projecto audacioso, que proporciona ás gentes da sua freguesia um auditório com capacidade para 526 pessoas.

Este ambicioso projecto acarreta elevados encargos, e Afonso resolve procurar mais uma vez, em terras do além-mar, uma solução para os problemas financeiros que o vinham assolando. Emigra para as Bermudas, onde se encontra com um seu irmão. Trabalha durante três anos para saldar as suas dívidas, e regressa ao Canadá por mais uma temporada.

Em 1963, Afonso encontra-se de novo nos Açores. Desta feita, a sua esposa e o seu primeiro filho o esperam. Decide ficar e explorar o negócio que tanto lhe custara a conseguir.

A sua jovem esposa, Natália, vem a falecer de parto em 1969. Sentindo o peso da responsabilidade para com seus filhos pequenos, os negócios e as lídes domésticas, resolve contrair novo matrimónio com Inês do Espírito Santo.

Por altura do 25 de Abril de 1974, é eleito Presidente da Junta de Freguesia de Rabo de Peixe.

Com o advento da Televisão apercebe-se que tempos difíceis para o cinema se avizinham, e vende a casa de cinema, voltando-se para a lavoura como fonte de sustento para si e sua família.

Em 1976 resolve visitar o Canadá na companhia de sua esposa, Inês, que o encoraja a ficar. A família assenta raízes na zona de Brampton, onde Afonso outrora estivera.

O artesanato entra em sua vida tardiamente e por portas travessas. Em 1998, sempre movido pelo espírito empreendedor e cristão da partilha, Afonso ajuda a fundar a Associação Os Amigos de Rabo de Peixe. Certo dia, após uma festa organizada pela Associação lhe é entregue uma miniatura de uma carroça que sobrara a uma arrematação.

Durante o tempo que a peça permanece em sua casa, Afonso a estuda, e dá início à construção de uma réplica. Reformado e com tempo ao seu dispor, redescobre o gosto pela madeira. Começa a reproduzir em miniatura as recordações da sua terra natal, da sua juventude passada entre as alfaias agrícolas utilizadas no amanho da terra, os teares dos tecelões, e as igrejas e adegas que povoam a paisagem açoriana. E assim, o artesanato passou a ocupar os longos serões do Inverno canadiano.

Em 1999, Afonso resolve doar a sua já substancial colecção de miniaturas ao Museu Rural da Freguesia de Rabo de Peixe. Mas antes decide as expor nas Festas do Divino Espírito Santo em Fall River nos Estados Unidos, onde fazem muito sucesso.

Desde então não mais parou de reproduzir os Açores em miniatura. Os proventos dos seus trabalhos são enviados, na sua totalidade, a obras de beneficência e ás missões.

Conselho ao jovem artesão: " Muita paciência e um bom mestre!"

Afonso Tavares hoje reside na cidade de Brampton juntamente coma sua família. Viu florescer a comunidade portuguesa naquela cidade, onde tanto tem investido em prol dos demais. Neste ano, em que se comemora os 50 Anos de Imigração Oficial Portuguesa, a intrepidez de Afonso tem sido homenageada nos diversos tributos aos Pioneiros que têm abundado no calendário de eventos comunitários.


(Da esquerda para a direita) Afonso Tavares, Jaime Barbosa, António do Couto, Manuel Arruda, a Directora Regional das Comunidades, Dra. Alzira Serpa Silva, Manuel Vieira, João Martins,
Manuel Pavão e Armando Vieira.

Adiaspora.com deseja exprimir, nestas breves linhas, todo o apreço e admiração que tem por este nosso conterrâneo que tanto ajudou a forjar este seu país de adopção, nunca, descurando, todavia, prestar o seu contributo ao desenvolvimento da sua terra natal, os Açores.