CONVERSAS DA DIÁSPORA
- Com o Pioneiro Alberto Moreira -
(1 de Setembro de 2003)
Por José Ferreira - Adiaspora.com
O Pioneiro Alberto Moreira
Adiaspora.com: Quando é que emigrou para o Canadá?
Alberto Moreira: Aquilo levou uns seis
dias. Agora não me recordo bem da data em que saí
de Lisboa. Sei que desembarquei no porto de Halifax a 14 de Maio
de 1953. Fiz a travessia no paquete Saturnia, integrado
um grupo de portugueses, continentais madeirenses e açorianos.
Adiaspora.com: É oriundo de que parte de Portugal?
Alberto Moreira: Sou natural de Arganil, Distrito de Coimbra,
na Beira Litoral. Tinha cerca de trinta anos de idade quando cheguei
ao Canadá. Vim sozinho. Sete anos depois regressei a Portugal,
de avião, para me casar.
Adiaspora.com: Conte-nos um pouco sobre a sua vida e a dos seus
familiares na terra-mãe?
Alberto Moreira: Era marceneiro em Portugal. Toda a minha vida
fui marceneiro. Em Arganil. Nós éramos seis irmãos.
Com o decurso do tempo ficámos só três. Tenho
uma irmã que ainda vive em Lisboa com oitenta e sete anos.
Eu era o mais novo da família, dos filhos. A irmã
casou-se e foi para África. Depois, foi a vez do meu irmão
casar-se. Pois, certa altura, resolvi, um pouco à sorte,
mudar-me. A maior prova, no entanto, foi quando eu vim de Arganil
para Lisboa sem ter lá ninguém de família...Desculpe,
mas eu fico um pouco emocionado, aquela coisa dos amigos, da família...
quantas vezes ia eu pela rua para o meu trabalho e as lágrimas
corriam pelo rosto abaixo. Tudo aquilo foi andando, e com o tempo
tudo passa. Ora, aí é que foi a minha prova. Depois,
quando saí de Lisboa, eu estava apto a ir para qualquer
lado. Não tinha medo de nada, nem de enfrentar qualquer
coisa. Por isso, mais tarde, em Toronto, os com quem convivia
chamavam-me o Aventureiro. Eu corria tudo, a pé, de automóvel!
Ao fim ao cabo, a gente acaba por enfrentar qualquer dificuldade.
Nada me metia medo, não me importava. Eu não tinha
nada a perder! Os meus familiares estavam arrumados e era praticamente
sozinho.
Adiaspora.com: O que é que o levou a emigrar?
Alberto Moreira: Em Lisboa, já há anos que andava
a ver se conseguia sair de Portugal, porque eu trabalhava a ganhar
42 escudos por dia, 8 horas, na marcenaria. Depois de pagar o
quarto, roupas, e aquelas coisas - eu não estragava - o
que é que me ficava? Nada! Eu não podia casar, não
podia, enfim... Pensei eu - O que é que estou aqui a fazer?
Eu quero é ir-me embora! Quero ver mundo! Quero ver se
arranjo uma melhor vida! Comecei a pensar. Fui ao Consulado Canadiano
dezenas de vezes para me inscrever. Inscrevi-me também
no Consulado Americano. Perdia horas de trabalho e lá ia.
A primeira vez que fui ao Consulado Canadiano - era ali próximo
do Marquês de Pombal - conheci uma funcionária, uma
senhora de idade que se chamava Madame Martins. Viu tanto interesse
em mim sair do país que, quando acabei de expor o meu caso,
ela disse: "Sim senhor. Há emigração
oficial para o Canadá, mas nós já tivemos
aqui casos de portugueses em que tratámos de tudo para
irem, mas quando chegaram à Emigração Portuguesa
para tratar do passaporte, foram rejeitados. Vá, então,
à Emigração Portuguesa, na Rua do Arsenal
e, se lhe derem a carta de autorização, o senhor
vai para o Canadá e até podemos lhe informar onde
há trabalho na sua especialidade naquele país."
Então dirigi-me à Rua do Arsenal onde me disseram
que não autorizariam a minha saída do país.
Era no tempo em que se eu dissesse "Mas não porquê?"
diriam logo que era comunista. Não sou político,
nem nada, mas naquele tempo, isto é, no tempo do Salazar,
era tudo muito apertado, muito apertado. Daí, comecei a
andar, andar. Sempre que voltava lá, eles diziam, "Não,
não há nada."
Um dia de manhã fui ao Consulado. Encontrei com a Madame
Martins ao fundo da larga escadaria. Disse-me então: "Olhe.
Venha cá cima que tenho qualquer coisa para lhe dizer."
Informou-me de como deveria proceder e desejou-me boa sorte. Então,
seguindo as suas instruções, dirigi-me a um outro
departamento ligado à Emigração que também
se situava nas imediações da Praça do Marquês
de Pombal, e lá fiz o requerimento. Passaram-se umas semanas
sem qualquer notícia. Voltei lá novamente. "Sim
senhor. Qual o seu nome?", perguntaram. Tinham lá
um grande maço. Meteram-me um documento nas mãos
e deram-me instruções para onde me dirigir. Passadas
duas semanas - andei tantos anos a tentar - estava a entrar no
barco para vir para o Canadá. Mas só nos entregaram
o passaporte quando já tínhamos subido a ponte do
navio. Havia lá uma mesa, e só aí é
que nos o devolveram.
Adiaspora.com: O que é que o levou a optar por esta região
do Canadá?
Alberto Moreira: Ainda em Lisboa, isto nos anos 40 e 50, lia
tudo que apanhava sobre o Canadá, revistas, livros, tudo...E
foi assim que soube que aqui, Vancouver, no Columbia Britânica,
era um dos melhores climas do país. E aqui, o que hoje
é a BC Hydro, era nesses tempos a BC Electric. Ora, eu
trabalhei numa companhia de automóveis e carroçarias
em Lisboa. Sabia que aqui havia autocarros e eléctricos
e essas coisas. Então resolvi escrever uma carta pedindo
trabalho, que redigi em português. Mandei-a traduzir para
inglês em Lisboa, o que, na altura, me custou vinte escudos.
Naquela altura era muito dinheiro, em 1942. Responderam em inglês,
onde diziam que, de facto, havia trabalho mas que teria de estar
aqui para fazer um teste de aptidão. Foram estes os motivos
pelos quais optei por Vancouver como destino final.
Contudo, de Halifax vim para Montreal, que era o destino pré
estabelecido, onde permaneci cerca de oito meses. Ao fim de três
dias, arranjaram-me trabalho nos arredores da cidade. Evidentemente,
tive de me deslocar para aquela localidade para ali assegurar
alojamento. Atrasei-me um pouco, e não possuindo inglês
suficiente para me desenrascar, acabei por perder o eléctrico
de regresso ao centro da cidade. Vi-me obrigado, assim, a pernoitar
por lá. Dirigi-me a um motel, mas não havia vagas.
O que fazer? Num raio de inspiração, lembrei-me
de experimentar as portas dos veículos estacionados na
rua. Por sorte acabei por encontrar um automóvel destrancado.
Ao meter-me no banco de trás para ali dormir, senti algo
estranho debaixo do meu traseiro. Era uma enorme boneca que emergia
do escuro, pregando-me tamanho susto que acabei por passar a noite
em branco! Imagine se tivesse aparecido por ali algum polícia
o sarilho que não teria sido! Bem, lá se passou
a noite. Ao amanhecer, vi uma igreja onde acabei por travar conhecimento
com o pároco, que me arranjou um quarto numa casa particular.
Depois vim para a cidade de Toronto. Em Toronto,
trabalhei, primeiro como labourer (operário indiferencado)
na companhia do JoãoVala, Adolfo Cândido e mais um
outro que veio como motorista. Fomos trabalhar para uma fábrica
de munições que ficava a uma hora de Toronto. Isto
ocupava-me os cinco dias da semana, e acabei por procurar alguma
coisa no ramo da marcenaria para os sábados na cidade.
Lá encontrei uma marcenaria que tinha vendas e uma oficina
de restauro onde reconstruíam, poliam e reparavam boas
mobílias vindas da Inglaterra.
Toronto, 1953 - Alberto Moreira ( extrema esquerda,
segundo plano,)
e o Pioneiro João Vala ( centro, primeiro plano) e seus
colegas
Depois fiquei desempregado. Andei por ali um tempo, e resolvi
que assim não poderia continuar e decidi vir para Vancouver.
Estranha coincidência, pois chegara no dia 14 de Maio de
1953 a Halifax, e um ano depois, no dia 14 de Maio de 1954, chegava
eu na CPR a Vancouver. Custou-me o bilhete $92.00!
Adiaspora.com: Ao embarcar já tinha conhecimento de algum
outro português aqui radicado?
Alberto Moreira: Não. Ninguém, absolutamente ninguém!
A minha chegada a Vancouver foi daqueles momentos na vida que
atrás me referia. Difíceis, mas que não me
metiam medo. Permita-me dizer que mais parecia aqueles vendedores
ambulantes que andavam por Lisboa com a malita a vender gravatas!
Saí da estação dos caminhos de ferro, fui
por ali acima - agora sei por onde andei - e meti-me na Granville.
Ia à procura de um sítio para ficar. Entrei na Albany
Street. Hoje aquilo está muito diferente. Havia umas casas
pequenas onde hoje é tudo praticamente arranha-céus.
Lá havia um quarto para alugar e ali fiquei. Depois comecei
a procurar trabalho e, no mesmo mês de Maio, arranjei para
Kitimat. Nesse tempo, não havia nenhum português
em Kitimat. Isto é, mais tarde conheci dois portugueses
que ainda se encontram lá, que vieram como turistas da
Venezuela. Já estavam lá quando cheguei, mas eu
não sabia.
Lembro-me que quando anunciei aos portugueses com quem convivia
em Toronto que vinha para Vancouver, estes disseram: " Ai!
Não vás para Vancouver! Olha que aí é
preciso falar-se muito bem o inglês e não há
lá portugueses!"
- "Ah! Mas eu vou!"- respondia eu então. "Pois
é para aí que eu vou!"
Nesses tempos, em Vancouver, ainda circulavam,
em algumas zonas, os carros eléctricos. Eram muito bons
em comparação com os de Lisboa. Uma beleza!
Alberto Moreira, o charme de um jovem pioneiro
de passeio pela Granville
Vancouver, B.C. 1957.
Adiaspora.com: Como eram Vancouver e Kitimat nesses tempos?
Alberto Moreira: Quando fui para Kitimat
havia umas casitas, mas o que havia lá mais era madeira
e lama! Passei lá o resto do verão. Claro, ali havia
muita chuva e muita neve no Inverno. No Outono, quando se acabava
o trabalho sazonal, regressava a Vancouver. Recebia o subsídio
de desemprego e quando chegava ao princípio da primavera
voltava para Kitimat. Assim aconteceu entre os anos 54 e 57. Comecei
a sentir-me farto de campo, pois ali não havia senhoras,
não havia meninas. Nada! Era só homens. Quando cheguei
a Kitimat pela primeiríssima vez, não vi nenhum
português. Italianos sim. Havia muitos. Depois, quando começaram
a ir alguns portugueses, iam para trabalhar na Alcan, a fábrica
de alumínios, que era dono daquilo tudo. Hoje ainda o é.
Todavia, quando fui para Kitimat, fui trabalhar para a construção,
numa companhia americana. Abria fundações, mas,
quando regressei ao segundo ano, e tendo tirado a carteira profissional
durante o Inverno, fui ganhar $2.50 por hora como carpinteiro,
e fazíamos muitas horas.
Kitimat, Agosto 1954 - Desbravando novas terras.
Na altura não havia comboio para Kitimat. Ia-se de avião
ou de barco. A primeira vez, fiz a viagem de Vancouver para Kitimat
de barco.
Adiaspora.com: Quer-nos dizer algo sobre o desenvolvimento da
comunidade portuguesa nesta região ao longo dos anos?
Alberto Moreira: Não estou muito
a par disso, pois não convivi muito com a comunidade portuguesa.
Só posso dizer que, após a minha chegada na Columbia
Britânica, começaram a afluir muitos portugueses
para a região. Mais tarde, os portugueses construíram
a igreja (referência à Igreja de Nossa Senhora
de Fátima de Vancouver)
Adiaspora.com: Como era o mercado de trabalho para um português
recém-chegado nesses tempos?
Alberto Moreira: Os portugueses imigrantes desse tempo não
sabiam nada de inglês nem francês. Nem ler, nem escrever.
Os canadianos precisavam de agricultores, sobretudo em Montreal.
Ora, vieram muitos, especialmente alguns do continente, que não
sabiam nem semear uma semente! A maior parte, todavia, era oriunda
dos Açores. Vieram todos como agricultores. Muitos, o inspector
São Romão e outros, já faleceram. Estávamos
sempre a dizer: "Vocês vão. O sistema é
este." Queriam as autoridades que aqueles que vinham destinados
à agricultura se conservassem nas quintas durante, pelo
menos, cinco anos. Eram, contudo, livres de partir, mas tinham
de permanecer no mesmo ramo. Estavam à experiência.
O seu bom comportamento determinaria a vinda ou não de
outros imigrantes portugueses. Aquilo não era muito agradável.
Pois até fiquei algo chocado quando vi, ao chegarmos a
Montreal, os franceses das quintas a vir seleccionar os trabalhadores.
Pareciam que iam comprar uma vaca numa feira. Eu não passei
por isso, pois vinha munido de uma arte, de um ofício.
Adiaspora.com: Quais foram os obstáculos maiores com que
se debateu?
Alberto Moreira: Há sempre obstáculos. Um grande
obstáculo foi a língua. Mas, falando nesse sentido,
eu não sabia nada, mas lá conseguia comunicar com
as mãos e gestos.
Adiaspora.com: Como decorreu a sua aprendizagem do inglês?
Alberto Moreira: Aprendi com o contacto, apanhando uma palavra
aqui, outra acolá. Em Toronto, ainda andei na escola nocturna.
Tinha aulas duas ou três vezes por semana. Mas tem graça,
hoje chegam ao país refugiados, e dão-lhes logo
tudo. Eu tive de pagar ao estado $5.00 para me inscrever nas aulas
nocturnas de inglês, o que era muito dinheiro na altura.
Adiaspora.com: Que apoios, se alguns, teve do estado canadiano?
Alberto Moreira: Nenhum. Nunca ninguém me deu tostão
para nada. Tenho a impressão que os que vieram para a agricultura
vinham munidos de um contrato com o salário mensal de $30.00.
Veja que na marcenaria fui ganhar $1.00 por hora, isto é
$8.00 por dia. Nós em Portugal estávamos habituados
a construir um móvel de raiz. Descobri que aqui no Canadá,
não era assim. Na oficina de marcenaria onde trabalhei
nos primeiros tempos em Montreal era bem diferente, pois um fazia
uma peça e outro outra, outro polia etc. Era um sistema
diferente, pois as tarefas eram repartidas. Quando cheguei lá
- pois eu não falava francês nem inglês - levaram-me
para o meu banco de trabalho e puseram uma peça à
minha frente para eu construir outra igual. E eu fi-la e disseram
que estava muito bem e assim continuei. Nessa altura, ainda dormia
nas instalações facultadas pela Imigração
Adiaspora.com: Sente algum arrependimento em ter emigrado?
Alberto Moreira: Nenhum! Estou satisfeito. Este é o meu
segundo país, pois foi aqui que constitui família
e construí a minha vida. Tenho a minha casita e vive-se
aqui à portuguesa, come-se à portuguesa, e fala-se
à portuguesa. Os meus filhos nasceram aqui em Vancouver.
Tenho um filho e uma filha, um casal.
Fui casar a Portugal com Maria Ferreira. Ela
lá ficou enquanto se tratou da documentação
para depois vir juntar-se a mim mais tarde. Já tinha esta
casa quando ela cá chegou, pois comprei-a nos finais de
59. Custou na altura $7,500.00 a pronto pagamento.
Alberto Moreira e sua esposa, Maria Ferreira
na sua residência em Vancouver.
Adiaspora.com: Na sua opinião, o que é preciso
para singrar nesta terra?
Alberto Moreira: É ter iniciativa e trabalhar. Apesar
de não ter sentido grandes saudades de Portugal, a minha
ideia era regressar quando me reformasse. Quando os filhos eram
pequenos, íamos a Portugal de tempos em tempos. Agora que
estou reformado vamos todos os anos. Mandámos construir
lá uma casita e uma propriedade para um dia regressar-mos.
Mas, o tempo é que cura as meadas. Agora já me arrependi,
não é de ir lá a Portugal, pois é
sempre o país onde nascemos, mas de ter adquirido a propriedade
lá, pois não nos beneficia nada, pois aqui é
que é a minha terra.
Adiaspora.com: Tem alguma recomendação a fazer
aos novos imigrantes?
Alberto Moreira: Quando chegámos a Montreal as coisas
eram muito piores do que são hoje, pois não sabíamos
nada. Ao irmos às lojas e mercearias, só espreitando
para dentro das caixas é que sabíamos o que estava
lá dentro. Uma vez, eu e outros companheiros vimos umas
chuvas numa garrafa. Dissemos: "O, isto é vinho!".
Mas era sumo.
Saindo de Toronto, como já contei, vim para aqui sozinho.
Fui morar para a Albany Street. Comecei a caminhar a pé
para explorar a vizinhança. Sabia eu, que nas Quedas do
Niagara havia a ponte, e que doutro lado eram os Estados Unidos.
Certo dia, cheguei ao fim da Robson Street, Vancouver e deparei
com a Ponte Cambie. Não tendo o passaporte comigo, voltei
para trás depois de ter atravessado a ponte, pensando eu
que de outro lado era já Estados Unidos, como nas Quedas
do Niagara! Não sabia que de outro lado era também
Canadá! Já no caminho de regresso, encontrei a Casa
Tozzi na Main Street, onde havia à venda bacalhau, e feijão
e outros alimentos como os nossos. Mais tarde, encontrei a loja
de um grego que se situava na Nelson e Granville Street. Naquela
altura, não havia nada, não havia lojas onde pudéssemos
comprar viveres portugueses. O João Valadão abriu,
algum tempo depois, uma pequena mercearia portuguesa. Parece-me
que veio para o Canadá da Venezuela. Mais tarde, o Armindo
veio a abrir uma loja na Union Street.
Adiaspora.com: Encontra Portugal mudado? Como?
Alberto Moreira: O! Sim. Está muito mudado - também
aqui - mas há muito fogo de vista. Disseram-me lá
que, com a introdução do Euro, o custo de vida subiu
100%. Como sabe, o Euro são logo duzentos escudos e o dinheiro
desaparece. Por uma coisa que não vale nada pedem logo
€1.00!
Adiaspora.com: Este ano, decorrem por todo o país as comemorações
dos 50 Anos da Imigração Portuguesa para o Canadá.
O que pensa desta vaga de homenagens aos nossos pioneiros?
Alberto Moreira: É uma coisa boa, mas não assisti
a nada e se há, não desfazendo, é mais para
os lados de Toronto onde há mais pessoas com quem vim para
o Canadá, como o António Sousa, Fernando Ramalho
etc. Como me desloco para Portugal cedo no ano, ainda na época
baixa -Abril ainda é época baixa - não soube
de nada. Quando voltámos, soube que iam fazer umas conferências
mas que já havia divergências entre os portugueses
quanto à data das comemorações, preferindo
uns o dia 13 e outros, o dia 14 de Maio. Fui convidado à
Festa dos 50 Anos em Vancouver, mas acabei por não comparecer
por me encontrar em Portugal. Aquando da nossa passagem por Toronto,
o Sr. António Sousa, que organiza essas coisas, levou-nos
a um almoço e ao Museu dos Pioneiros daquela cidade.
Em Toronto, morei na 29 Bellevue Avenue, por detrás da
sinagoga dos judeus, mesmo ao lado da Augusta Street. Já
não existe a casa. Agora há lá uma espécie
de parque. Havia nas imediações uns mercados dos
judeus. Chegava ali, comprava um bocado de carne. Em casa, fritava
e comia com um batata cozida.
Olhe que em Portugal quis sempre ter uma máquina fotográfica,
mas o dinheiro não chegava para nada, por isso em Toronto,
comprei uma logo que pude. Eis aqui uma fotografia com o pioneiro
João Vala, que enviuvou muito cedo, e um seu primo.
Reparei, ainda em Montreal, que os açorianos tinham uma
vida mais religiosas, mais comunicativa, mais pacata do que os
continentais. Muitos saíram das quintas porque não
lhes davam de comer, outros por causa dos maus-tratos que recebiam.
Chegavam à cidade a chorar, pois não tinham ninguém
com quem falar. Foram tempos difíceis, mas a minha experiência
em Lisboa preparou-me para os enfrentar. E eis me aqui no Canadá.
Hoje, o senhor Alberto Moreira vive tranquilamente
na cidade de Vancouver na companhia de sua esposa, seus dois filhos,
Alberto e Helena e seu neto Darren. De destacar a forma harmoniosa
e positivista com que revive e encara as suas aventuras e passado,
dando a todos nós uma valiosa lição de vida
em que o medo é barreira sempre a superar.
O Pioneiro Alberto Moreira na companhia de José
Ferreira da Adiaspora.com
Adiaspora.com agradece ao Senhor
Alberto Moreira e à sua simpática esposa, a generosidade,
abertura e disponibilidade com que nos receberam naquelas longínquas
terras do Canadá ocidental.
Entrevista exclusiva de Adiaspora.com
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