CONVERSAS DA DIÁSPORA
- Com o Pioneiro Carlos Augusto da Silva (1924-1958)
-
(3 de Setembro de 2003)
Por José Ferreira - Adiaspora.com
Alguns dos nossos pioneiros que integraram aquele
primeiro contingente que embarcaram no navio Saturnia rumo ao
Canadá, então uma imensa página branca no
conhecimento colectivo dos portugueses daquela época, já
não se encontram entre nós. Muitos, após
vidas cheias de aventuras e intrépidos empreendimentos,
só chegam até a nossa história de comunidade
que, passo a passo, se afirma no diversificado tecido sócio-cultural
deste grande país, através dos depoimentos e recordações
dos seus familiares.
Durante uma recente estada na costa ocidental
do Canadá, numa incursão inquisitiva pela história
do nosso povo naquela região, edificada e consolidada com
muito labor e esforço ao longo dos últimos cinquenta
anos, tivemos o privilégio de nos encontrarmos na companhia
de Dona Maria dos Anjos da Silva, filha sobrevivente de Carlos
Augusto da Silva, o Pioneiro que cedo veio a falecer de leucemia
a 18 de Junho de 1958 na cidade de Vancouver.
Os Pioneiros Eurico da Silva (direita) e Jaime
Barbosa (esquerda)
e Maria dos Anjos da Silva,
filha do falecido Pioneiro Carlos Augusto da Silva
Numa narrativa comovente, informou-nos que seu
pai nascera na Freguesia da Murtosa, no Concelho de Estarreja
a 2 de Maio de 1924. Em 1953, embarca integrado no primeiro grupo
de imigrantes para o Canadá, onde, após a sua chegada
a Halifax a 14 de Maio de 1953, se desloca para o maior e mais
movimentado burgo do país, Toronto. Aqui permaneceu e trabalhou
durante seis meses, após os quais resolve mudar-se para
a cidade de St. John’s na Província da Terra Nova.
Por esta altura, já se faziam sentir os sintomas da doença
que o levaria precocemente à sepultura, e é internado
no Hospital daquela cidade. Não obstante estes reveses,
não desiste, e pouco tempo depois Carlos Augusto tenta
melhor sorte na cidade francófona de Montreal no Quebeque,
onde veio a exercer a profissão de estofador numa fábrica
de móveis. Deixara na terra, como tantos outros o fizeram,
a sua saudade nas pessoas da sua jovem esposa, Maria Amélia
Carinha, e a sua recém nascida filha, Maria dos Anjos,
esta última com apenas dois meses de idade.
O ano de 1954 vê Maria Amélia juntar-se
ao seu marido em Montreal, tendo deixado a sua pequena filha ao
cuidado de uma sua avó. Ali residem por mais onze meses,
altura em que decidem atravessar o grande norte do continente
americano para se radicarem em Vancouver, onde o clima era mais
ameno e benéfico à saúde de Carlos Augusto.
Nesta cidade, o jovem imigrante esteve ao emprego
da companhia fabricante de colchões, Sealy Mattress, durante
três meses. Neste breve interregno, aventura-se a adquirir
casa própria, residência, ainda hoje, de Dona Maria
Amélia. Mas desfrutou pouco tempo da sua nova casa, pois
a doença acabou por vencer o jovem Carlos Augusto, tendo
este vindo a falecer aos 34 anos, e uns meros dois meses após
a compra da tão ansiada casa.
As homenagens de que foram alvo os Pioneiros
no decurso do corrente ano, em que as Comunidades Luso-Canadianas
comemoram a memória daqueles valentes que lhes abriram
as portas e vastas potencialidades de um país em formação,
não olvidaram, de todo, Carlos Augusto da Silva. O Comité
dos 50 Anos de Vancouver presenteou a sua filha e herdeira com
um medalha comemorativa num tributo póstumo à valentia
e coragem de seu pai, que tão cedo a morte ceifara. Hoje,
Maria dos Anjos da Silva reside na cidade de Richmond na companhia
do esposo e seus três filhos, guardando no baú da
recordação o tesouro de um pai que quase não
chegou a conhecer.
Para nós, que, por missão, nos
dedicamos à divulgação do nosso património
histórico-cultural através do nosso portal Adiaspora.com,
esta modesta e singela narrativa assinala o profundo respeito
e carinho que nutrimos pela memória daqueles que nos antecederam,
como o nosso saudoso Pioneiro Carlos Augusto da Silva.
|