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Emigrantes


Sempre que aqui aparecem, trazem-nos recordações dos tempos tenebrosos em que muitos deles daqui partiram.

Circunstâncias várias provocaram o êxodo dos nossos conterrâneos para terras estranhas, que nem sempre os acolheu com humanidade. Muitos deles sucumbiram aos esbirros dos engajadores, dos comandantes das naus baleeiros, onde se embarcava “de salto”, ou em razão das longas viagens e das péssimas e desumanas acomodações dos barcos que os transportavam.

Foi assim para o Brasil, depois das erupções do século XVIII, e mais tarde para os Estados Unidos, quando a população aqui crescia e a juventude não encontrava onde empregar suas inteligências e suas forças físicas.

Quantos por lá ficaram! A emigração, em todos os tempos, desde remotas eras, foi sempre uma odisseia que poucos conseguiram vencer. Modernamente foi algo de diferente. Mas quanto penaram os emigrantes que, após o vulcão dos Capelinhos, seguiram para os Estados Unidos, mercê de uma deliberação humana do malogrado Presidente Kennedy!

Mas mais irritante e despótica foi a emigração para o Canada, quando as selecções eram feitas por inspectores que não desculpavam qualquer deformação física do candidato. Só o sabe quem por dever do ofício teve de assistir a certos casos que causavam repulsa.

A emigração quase terminou. Porque é difícil ir para o estrangeiro,”emigra-se” para outras terras portuguesas – para o continente e para as ilhas de perto ou de longe.

E é essa a emigração de hoje. Quem se atrever a emigrar sem a devida documentação corre o risco do repatriamento, sem nada trazer, a não ser a ignominiosa situação de deportado.

No entanto, Portugal, apesar das condições económicas e das dificuldades de colocação em algumas áreas de serviços, vem recebendo muitos emigrantes da Europa e do Brasil. Eles por aí andam sujeitando-se aos mais duros e diversos trabalhos, embora, quantos deles, trazendo na carteira o diploma de cursos superiores, que aqui não podem exercer por falta de equiparação de habilitações. Uma situação algo deprimente e vexatória por vezes.

Afinal uma situação um tanto semelhante àquela por que passaram a grande maioria dos açorianos e portugueses que, no último século, emigraram para o Canada, onde foram acolhidos na quase totalidade como verdadeiros escravos, e onde foram desempenhar os trabalhos mais duros e humilhantes. Felizmente que, mercê da sua inteligência e pertinácia, conseguiram ultrapassar as irritantes situações a que foram sujeitos e hoje podem orgulhar-se de usufruírem, na quase totalidade, as mais vantajosas situações, ocupando já certos cargos políticos, para só estes referir.

Há dias um grupo de estudantes de uma escola de português, dirigida por uma professora natural destas ilhas (o pai é natural do Pico) visitou esta ilha, em viagem de intercâmbio com Escola Básica e Secundária das Lajes do Pico. Foi agradável o contacto com professores e alunos, das mais diversas idades, que não querem deixar esquecer ou “ morrer” o idioma de seus pais e/ou avós.

Ainda bem que isso acontece. Uma prova de que o amor pátrio e a ligação às terras de origens não desapareceram, no meio do turbilhão de gentes de diversas nacionalidades que povoam as grandes cidades canadianas. Aliás, disso é prova irrefutável as numerosas casas regionais, cerca de quarenta e cinco (45) informaram-me, que existem, só na cidade de Toronto, desde o “Clube Asas do Atlântico”, o “Amor da Pátria”, ao “SportingClub Português de Toronto”, etc.

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