Fevereiro fica a meio do Inverno. Um mês nevoeirento, triste e doentio. O seu frio provoca muitas vezes constipações e outras enfermidades. Nem todos resistem aos seus impulsos tempestuosos... E é o Mês da Senhora das Candeias. Mas não aquela que, no dizer do povo, “veio com a espada na mão / para matar os filisteus, que são falsos à nação”. É outra Senhora, Mãe dos homens, que representada com uma vela na mão, para alumiar todos os filhos, sem excepção.
Fevereiro é o mês mais pequeno do ano. Mesmo que o ano seja bissexto, não consegue alcançar os outros. Falta-lhe sempre um dia para se igualar a Abril, Junho, Setembro e Novembro.
Geralmente não permite sementeiras nem colheitas. As chuvas e os frios de Fevereiro obrigam as pessoas a recolherem-se em suas casas principalmente aos serões, muito embora os dias já vão crescendo pois, como diz o adágio popular : “Janeiro fora, cresce uma hora”.
Neste mês ocorrem, de anos a anos, as semanas do Carnaval. E é nas noites de alguns dos dias da semana, que as pessoas se juntam e convivem. E não há chuva nem frio que os prive de gozarem esses serões, antes que a Quaresma chegue. Mas isso era o que acontecia ontem... Hoje julgo que será diferente, (pois ando arredado, há muito, de tais convívios). Infelizmente, pois nem todos eram (serão ainda?) proibidos ou evitados por muitas famílias.
Nestes dias o sol mal aparece. E se surge, geralmente por entre nuvens, não tem o brilho do sol estival. Quando assim é, o povo diz na sua sabedoria ancestral que o sol vai doente. E se vai doente é porque o tempo que nos espera não será o melhor.
Pior era em tempos passados, quando as noites eram medonhas. Os labregos, diziam, andavam à solta e as pessoas tinham receio da “justiça da noite”. Não existia iluminação nas ruas e, para se ir de uma casa a outra, quando não havia lampião, um troço de lenha, retirado do lar, onde se cozinhava, servia para iluminar o percurso. Actualmente, nada disso se vê, nem os mais novos isso conhecem, porque a iluminação eléctrica cobre todos os povoados, muito embora haja ainda estradas total e incompreensivelmente às escuras, por falta de electrificação, apesar das redes de distribuição por elas passarem. Uma questão de economia agravada pela situação de penúria que está atingindo muitos povos. E, nestes tempos de carestia que nos atinge, os focos de electrificação pública estão a ser reduzidos ...
Faz lembrar o que aconteceu aqui há uns anos passados nesta vila. Depois de aparecer o petróleo, alguns municípios iluminaram as sedes de concelho com candeeiros públicos. Um dia um doente resolveu sair da sua galilé onde estava “recolhido” e, alcançando um fueiro de um carro de bois que se encontrava arrumado junto da habitação do proprietário, como era hábito e hoje fazem os automóveis, com ele partiu uma parte dos candeeiros. A Câmara, quase sem receitas, não pôde substitui-los. A iluminação que era, para aqueles tempos um sinal de progresso, deixou de existir.
Estamos em Fevereiro. O segundo mês do ano novo, que parece ter-se iniciado ontem, um ontem que, afinal, já conta trinta e um dias. Um ano que, vaticinam, será para esquecer, pelas mazelas que vai trazer aos portugueses e que nós açorianos, vamos igualmente sofrer “por tabela”.
Março, que se lhe segue, não será melhor. Há um provérbio popular que assim reza: “Março, marçagão, de manhã verão, à tarde focinho de cão”, como se os familiares animais fossem os responsáveis por todas as tempestades e carestias que vão surgir.
Mas, de devaneios, basta. Esperemos que Fevereiro nos traga bons dias e o Carnaval possa ser celebrado com eufórica alegria, para regalo, principalmente, da gente nova...
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