É angustiosa a hora em que vivemos. As pessoas interrogam-se sobre o futuro que as espera. Há um mal-estar contínuo. E para parece que não se encontra a mesinha necessária para o debelar. Valerá a pena este deixarmo-nos dominar pela situação de angústia e desconforto que nos atinge todos os dias, principalmente quando nos chegam através dos écrans da “caixa” de noticias os mais dispares informes de um mundo que - tudo faz querer - está doente?
Há dias uma das pessoas com quem trocávamos impressões sobre este mundo conturbado em que vivemos e comparávamos o presente com o passado, o meu interlocutor chamava-me a atenção para os desordenados sistemas políticos que se haviam implantado no mundo na última metade do século passado, depois da humanidade haver suportado os horrores de duas guerras mundiais nas mais importantes nações e chegava-se à conclusão, triste conclusão, de que o chamado sistema democrático – o poder do povo pelo povo – não trouxera a paz, o progresso, a prosperidade e a ordem que os políticos apregoavam e apregoam mas somente a confusão, a arbitrariedade, o compadrio, a corrupção e a desordem.
Todavia importa anotar que, em todos os tempos, sempre houve políticos sérios e honestos que, muitas vezes com prejuízo pessoal, procuraram e ainda hoje procuram com dignidade servir os povos que os elegeram.
Infelizmente, porém, a política só tem servido, a maioria das vezes, para alcandorar os mais atrevidos e audaciosos, que através dela procuram servir-se e aos amigos e apaniguados. No entanto aqui devemos prestar a devida homenagem àqueles que, no cumprimento escrupuloso dos seus ideais, só procuram estar, com prejuízo próprio,- dos bens e dos familiares - ao lado dos outros, numa doação de serviços e de atitudes digna dos maiores louvores.
Todas as nações da Europa vivem, presentemente, sob o regime democrático. Um regime que tem vantagens e também os seus perigos.
O filósofo francês C. Lhar (l) diz que “A democracia, legitimamente constituída e praticada com equidade, realiza as condições de um bom governo”. Mas também diz: “No regime democrático em que todas as forças individuais se podem exercer sem obstáculos, e onde os meios de repressão são menos enérgicos, a desordem tem fácil entrada e o vício encontra as mais temíveis facilidades de expansão”…”Tanto mais que nos países onde vigora o sufrágio universal, a quota parte de influência reservada a cada cidadão tem pouca importância.”
E é ainda C. Lhar que ensina: “Devemos pois concluir que, embora teoricamente o regime democrático apresente vantagens, contudo como o valor das instituições depende em grande parte das qualidades dos povos que lhes estão sujeitos, quando um povo o abraça antes de estar preparado, expõe-se aos maiores perigos e desenganos.”
Afinal, um regime que não pode ser imposto mas conquistado pelo povo quando está maduramente preparado para o exercer. De contrário surge a anarquia, o despotismo e, pior ainda, a corrupção daqueles que audaciosamente tomam o poder e o exercem, pois, “…onde a justiça e as leis dependem de cada indivíduo, não há salvação possível, se a maioria não é honesta.”
Vamos duvidar da honestidade de todos os políticos? Julgo que não deve ser esse o caminho a seguir. Importa que cada um tome o seu lugar na sociedade e exerça o seu mandato com inteligência, dedicação e honestidade.
Da Democracia nasceram os partidos políticos, cada um a defender a sua ideologia, quase sempre numa conturbada confusão de conceitos díspares, que a si próprios se classificam de centro, direita e esquerda. Até parece que se trata de uma organização militar a marcar passo…
Em Portugal, onde os partidos que por aí proliferam e se apoiam em sistemas quase sempre anárquicos, ainda hoje se vive em ambiente de inquietude e confusão.
Quando chegará a hora de todos se comportarem ordeira e civicamente, sem se digladiarem – em discussões inúteis e estéreis –, como se se tratasse de uma praça pública?
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