O Dia da Restauração da Independência de Portugal que, durante sessenta anos, esteve subjugado à dinastia filipina de Espanha, cujo domínio se estendeu até aos Açores, foi celebrado de forma envergonhada.
No meu tempo de aluno da escola primária, a data muito pouco representava para nós, embora fosse celebrada com atividades lúdicas.
Ainda hoje recordo algumas quadras do Hino da Restauração, que todos cantávamos, com o ardor infantil que o regime de então, autoritário e nacionalista, inculcava nos mais novos, relevando feitos dos nossos maiores: « Portugueses celebremos/ o dia da redenção/ em que valentes guerreiros/ nos deram a nação ». Este era o Hino evocativo do heroísmo dos « famosos de quarenta que lutaram com ardor ».
Recordar as motivações que, em 1640, levaram a burguesia, menosprezada na sua atividade mercantil em favor de outros povos europeus, a aderir à revolta, é um exercício que deve ser feito, para dele se extrair ilações para as dificuldades que passamos.
Sendo embora este o último ano em que este feriado nacional permite essa oportunidade, a maioria dos portugueses, no seu pouco saber e na sua experiência de vida, manifestam-se apreensivos perante as incertezas que Portugal, a Europa e o mundo enfrentam.
Ainda há bem poucos anos, – foi a 1 de Janeiro de 2002 - os portugueses trocaram o escudo pelo euro e, então, os governantes europeus garantiram que a nova moeda iria proporcionar uma época de mais progresso e desenvolvimento nos países integrantes da moeda única. Na altura, interroguei-me sobre a recusa do Reino Unido em continuar com a libra esterlina. Na minha ignorância, concluí tratar-se de mais uma birra britânica ao avanço da união europeia.
Ouvi, porém, muita gente sensata, manifestar a sua admiração e perplexidade perante o imediato aumento dos bens de consumo, sem qualquer contrapartida de salários e pensões.
Portugal – dizem várias personalidades ligadas à economia - está na iminência de voltar ao escudo, moeda criada há 100 anos, após a implantação da República.
Este retrocesso, porém, terá graves implicações, dizem os entendidos. Mas os cidadãos anónimos, interrogam-se sobre as consequências que advirão para as finanças públicas, para as poupanças, depósitos e créditos bancários. Haverá uma acentuada desvalorização do escudo? Quanto nos vai custar mais o pagamento do empréstimo feito à troika? Teremos dinheiro para viver? Quem vai suportar as pensões, as reformas e os salários dos funcionários públicos e privados? E os desempregados, esse exército incontável de gente que as alegadas reformas económicas mandou para o olho da rua, e que se vê confrontada com encargos, dívidas e falta de dinheiro para sobreviver?
As notícias dos últimos dias prenunciam uma evolução preocupante da conjuntura económico-financeira da Europa e do mundo.
Os mais velhos, facilmente, estabelecem comparações com as depressões por que passaram os Estados Unidos e a Europa do pós-guerra, ultrapassadas com as medidas corajosas do Presidente Roosevelt para revitalizar a economia. Nada que os atuais economistas e os historiadores não tenham já referido, como solução para os males que atingem a economia da Zona Euro, sujeita à ganância e ao grande poderio dos senhores do dinheiro.
A opinião pública, a classe média e os cidadãos mais desprotegidos, começam a duvidar da capacidade dos protagonistas políticos para definir um novo rumo para salvar a Europa de um clima de instabilidade social, semelhante ao que aconteceu na década de 30 e que deu origem aos totalitarismos de líderes « providenciais » de tão má memória.
Estranho que governantes e deputados dos parlamentos regional, nacional e europeu continuem aprovando planos e orçamentos, leis e regulamentos para os próximos tempos, como se tudo estivesse a decorrer com normalidade.
Será que há um plano de contingência para o caso da União Europeia sucumbir e de se fechar a torneira dos apoios comunitários?
Perante a atual conjuntura seria prudente os Açores incrementarem, com as autoridades dos países de acolhimento de emigrantes, na América do Norte e do Sul, novas formas de cooperação em domínios como a investigação científica, a economia marítima, o ambiente, a saúde, a educação e o turismo.
A nossa localização, no meio do Atlântico Norte, é um fator importante, com um enorme potencial que não me canso de repetir.
Oxalá haja clarividência para a Europa retomar o seu rumo histórico na senda da paz, do humanismo e da solidariedade entre os povos.
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