Por estas ilhas todas, encontram-se imigrantes da América ou do Canadá, que aqui vêm pelos mais diversos motivos: visitar os familiares, alguns já idosos, gozar férias e retemperar as forças físicas, ou tomar parte nas festas principais das terras das suas naturalidades.
Dá gosto vê-los, abraçá-los e sabê-los bem. Trocar com eles alguns minutos de conversa amena, dando-lhes as informações que mais lhes interessam, da terra, das pessoas, etc. E não deixamos de saber dos outros que também partiram há tantos anos e cá não puderem vir pelas mais diversas circunstâncias; e igualmente dos parentes, que muitos são, que daqui saíram um dia para não mais voltar. Normalmente, é assim todos os anos. Até alguns há que, obtida a reforma, por aí aparecem todos os anos.
No entanto, já não aparece o “senhor americano”, que voltava uma vez na vida, trazendo nas malas e baús as mais diversas ofertas para os familiares e amigos. Não faltavam os «alvaróses» nem as calças de ganga, tecido que agora anda na moda. Essa figura carismática desapareceu.
Presentemente o imigrante retornado ou de visita - raramente vem para ficar, (embora o número destes seja bastante limitado) - apresenta-se com o mais simples trajar. Já não traz baús nem grandes malas, pois a tarifa que paga ao avião não o permite, para alem das roupas de uso corrente. Nem esbanja dólares, em rodadas de copos de vinho nas tabernas ou cafés. É assim que andam por aí. E é com esse estilo de vida simples que gostamos de os encontrar.
Como disse, são às dezenas ou talvez centenas os imigrantes que topamos por aí todos os anos, em romagem de saudade.
Antes, ou melhor nos finais do século XIX e primeiro quartel do século XX, e já não vou muito mais atrás, - a emigração era praticamente individual. Partiam, às vezes, na própria noite do casamento, assim realizado para que a mulher ficasse a cuidar dos pais e por lá se andava alguns anos até se conseguir pecúlio para fazer a casa e comprar alguns prédios. Era fácil a compra, porque se estava numa época de crise e as rendas não bastavam aos senhorios, que eram compelidos a vender as propriedades para conseguirem os meios de subsistência. Quantos emigrantes, mesmo ainda nos Estados Unidos, encarregavam os pais ou outros parentes de comprar os prédios do morgado ou do visconde que se encontravam à venda! E foi assim que a propriedade se foi dividindo.
Outros, ao voltar, iam comprando terras de milho e pastagens para constituírem a sua pequena casa agrícola!
Raros eram os que emigraram com todo o agregado familiar. E esses iam para nunca mais voltar.
Antes, havia sido a emigração para o Brasil. Uma emigração diferente. E até corria entre o povo que quem emigrava para aquele País nunca mais voltava. Era o país dos esquecidos. E, na verdade, quantos por lá ficaram! O Estado de Santa Catarina é um testemunho forte desse caminhar definitivo para outras terras e estranhas gentes.
Todavia diferente foi a emigração para o Canadá, pais quase desconhecido até meados do século XX. Presentemente esse País é o que mais está ligado às ilhas açorianas.
A emigração para o Canadá, inicialmente, só era permitida a jovens saudáveis.
Depois passou a ser autorizada aos agregados familiares. E aí deu-se o êxodo quase completo destas terras. Novos e velhos para lá caminharam. Lá se fixaram. Felizmente muitos puderam continuar os estudos secundários, que haviam interrompido e fazer cursos universitários, que lhes têm permitido ocupar cargos de destaque, até o ingresso na Política.
Mas foi pela saída duma grande parte desses emigrantes que as nossas ilhas ficaram mais pobres. Desapareceu de cá a juventude e a população local deixou de renovar-se.
As estatísticas actuais fornecem-nos dados confrangedores, facto que não é mais do que o resultado da emigração. Os benefícios de uns resultam muitas vezes no mal dos outros. No entanto não há que modificar as tendências naturais.
Certo porém que dá gosto receber os nossos imigrantes, embora por escassas semanas e com eles conviver alguns instantes, como foi o caso do almoço comunitário, chamemos-lhe assim, que teve lugar no passado domingo, a favor da Igreja Paroquial da Calheta de Nesquim, agora em reparação e no qual se encontravam algumas dezenas de imigrantes, da localidade e das vizinhas, que vieram para assistir à Festa do Bom Jesus, que ali se venera. Foi agradável e valeu a pena estar com eles, todos conhecidos e alguns velhos amigos.
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