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O apagão global da realidade

 

No Reino Unido, houve casamento e a comunicação social local e mundial enlouqueceu com uma cobertura noticiosa tão intensa que até ficou mesmo sem sentido, dando largas à fascinação de muita gente com ostentação e pompa.

A meu ver, a peça que resume aquele exagero mediático foi no jornal diário The Guardian. Tratou-se de instruções como tricotar um cão corgi, o animal de estimação da Rainha Isabel. E ainda bem que alguns editores publicaram provas daquele delicioso sentido de humor britânico. Não há outra nação que seja capaz de rivalizar em termos de autodepreciação.

Não é que tenho algo contra monarquia per se, desde que seja humilde, discreta e próxima do povo, como é o caso na Escandinávia por exemplo. Mas no Reino Unido, além de serem uma óptima campanha de publicidade para o destino, qual o verdadeiro papel dos Windsors no dia-a-dia dos britânicos? Alimentam as revistas cor-de-rosa, os tablóides e os negócios de pratos para colocar na parede.

Para Lucy, inglesa radicada em Azeitão há mais do que uma década, nem a família real, nem o casamento têm significado. "Não gosto nem desgosto, é só que realmente não ligo nada. É tudo extraordinariamente aborrecido", diz ela.

Na Canadá, os emigrantes reagiram com uma mistura de sentimentos. Victor, natural de Aveiro que vive em Toronto há 27 anos, deseja tudo de bom ao casal real - por cortesia - mas realça que interessa-se mais pela política. Por outro lado, Kevin, luso-descendente nascido no Canadá, culpa a tecnologia pelo excesso de zelo jornalístico e de exploração comercial ao redor do casamento real. Fãs lusos da realeza britânica? Não me parece.

Anthony, londrino radicado em Brighton na costa sul da Inglaterra, resume os acontecimentos da sexta-feira numa só frase. "Foi a telenovela da década".

Para muitos britânicos, ficará na memória por ter sido um fim-de-semana de quatro dias e pouco mais. 

Do meu lado, sinto-me vagamente embaraçada por ter sido mais uma jornalista a escrever mais algo sobre aquele assunto. 

A caixa de areia do gato agradece, sem dúvida. (quazorean@gmail.com)

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