No ano que decorre, para estas bandas do Sul da Ilha foram abundantes as colheitas das uvas. E saborosas e doces que elas eram. Foi um recordar de tempos antigos em que a ilha era uma das mais produtivas do Arquipélago. Tinham fama e eram exportadas, em barcas à vela, para os países da Europa, Brasil e outras terras, que muito apreciavam o precioso néctar. O Verdelho era o rei. As restantes castas mal eram conhecidas. Eram a riqueza da ilha, que não dos picoenses, pois as terras estavam na posse dos morgadios e os homens do Pico não passavam de meros feitores.
Na parte Norte eram os faialenses que dispunham dos melhores e mais produtivos terrenos, donde extraiam dezenas e centenas de pipas do antigo Verdelho. No Sul ou melhor, na Ponta da Ilha, as melhores propriedades estavam na posse de famílias lajenses e jorgenses, que tinham as suas propriedades na Piedade e era ali que, por ocasião das colheitas, passavam a estação calmosa.
Na “História Insulana” (1717) informa o Padre António Cordeiro, seu autor; “O maior fruto, e o mais célebre desta grande Ilha do Pico é o seu muito e excelente vinho, e quantas mil pipas dê cada ano, bem se colhe, que da tal ilha se provêm em grande parte as outras ilhas, as armadas, e frotas, que a ela vão, os Estrangeiros que o vão buscar, e muito que vai para o Brasil, e também vem para Portugal; e a razão deu já o antigo Frutuoso lrv.6 cap.41.”
Gaspar Frutuoso, no citado “Livro Sexto de Saudades da Terra” (pag.302) diz que um tal Belchior homem, que recolhe cada sic novidade de suas vinhas cento até cento e vinte pipas de vinho-...” E um pouco à frente, diz: “Em toda a terra há muitas vinhas, que dão vinho, e o melhor que em todas as ilhas.”
No ano de 1649 averiguou-se que dera a ilha do Pico neste ano a melhoria de trinta mil pipas e que muitas do vinho comum se vazaram para nelas se aproveitarem os passados que são os mais selectos que naquela ilha se fabricam” (Pe. Manuel Luiz Maldonado,. In “Fénix Angrense, pág. 312.)
Silveira de Macedo diz-nos que “Naquela época – 1583 – subiu ao maior auge a prosperidade pública e particular do Fayal e pela afluência de navios .que a troco de suas mercadorias exportavam em abundância os géneros e vinhos do Pico por elevado preço...” (H.Q.I. vol.2, pág2.)
No entanto no trabalho de J.W.Webster, -1821-(tradução do Dr. António César Rodrigues, in “Arquivo dos Açores, Vol. XIV, pág.541) pode ler-se, em referência do Pico: “As uvas são ali extensamente cultivadas e muitos milhares de pipas de vinho são fabricados. Como não têm nenhum porto seguro, excepto para pequenos botes, o vinho do Pico é embarcado para o Fayal, por isso é usualmente conhecido por “vinho do Fayal”, muito do qual é exportado para as ilhas West-Indias e para os Estados Unidos”.
Aqui uma referência: O vinho a que se refere o sr. Webster era produzido na Fronteira, da Ilha do Pico, e pertencia ao senhorios residentes no Faial, daí ser transportado para a Horta e dali exportado como de “vinho do Faial” se tratasse, porquanto o vinho produzido na parte Sul, principalmente na Ponta da Ilha, era dali exportado em barcas próprias pertencentes aos vinhateiros da zona. Não estou a inventar pois possuo provas do que aqui afirmo. Na Ponta da Ilha ainda existe a Baía dos Franceses, onde aportavam os veleiros para carregar as pipas de verdelho por ali produzido, e que não era pouco. Mas, infelizmente, tudo isso desapareceu com o “mal das vinhas” ou “Oidium Tuchery”.
Sobre o mal das vinhas a Câmara Municipal das Lajes do Pico dirigiu uma representação ao Governo de Sua Majestade, em 26 de Janeiro de 1861, que, apesar dos termos em que foi elaborada, não produziu efeitos...
Por informação do Juiz Pedano, existiam na Ponta da Ilha, no ano de 1824, 91 pipas de vinho. O maior proprietário, Manuel Leal de Azevedo, que possuía 25 pipas, pediu licença à Vereação para exportar esse vinho sendo-lhe autorizado somente oito pipas, pois havia receio de faltar aos taberneiros...
No ano em que apareceu o “Oidium”, que foi o flagelo dos vinhedos, cultivavam-se, alem do Verdelho, outras castas, que a pouco e pouco se iam introduzindo, embora de fraca produção.
Estamos na época das Vindimas. Mas que vindimas fazemos hoje? Em lugar das antigas pipas, exportam-se algumas caixas, somente, com dezenas de garrafas.
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