Importa lembrar o que foi a construção da pista da Ilha do Pico. O valoroso empreendimento também tem a sua pequena história que aqui registo, muito singelamente, mas com a verdade toda. De longa data vinha-se falando numa pista para o Pico. A ilha oferecia zonas especiais que poderiam ser satisfatoriamente aproveitadas, se não fosse a contestação permanente que se fazia para que os picoenses não dispusessem de uma pista moderna e capaz de servir a sua população. Certo é que foi escolhida a zona de Santa Luzia. O projecto foi elaborado, somente em planta, e andou pelas Câmaras Municipais da Ilha. Entretanto, na década de sessenta do século passado, os Presidentes dos Municípios
açorianos foram a Fátima, tomando parte numa peregrinação nacional. Ao regressar, os autarcas do ex-distrito da Horta, acompanhados do Governador, em visita de cortesia, foram cumprimentar o Presidente do Conselho de Ministros.
Ao ser apresentado o Presidente da Câmara de São Roque do Pico, Salazar felicita o porque ia ter o campo de aviação. Interveio imediatamente o Governador para informar o Presidente que o campo era na Ilha do Faial. E assim aconteceu. A inauguração do Aeroporto da Horta realizou-se a 24 de Agosto de 1971. Para o inaugurar deslocou-se ao Faial o
Presidente da República, Almirante Américo Tomás. A Horta não dispunha de hotéis e o almoço foi servido ao Presidente, comitiva e numerosos convidados, na Estalagem de Santa Cruz (antigo castelo de Santa Cruz). Todavia, os Presidentes dos Municípios picoenses não se aquietaram. Aproveitando o
projecto elaborado para o Pico, dirigiram uma petição ao Ministro respectivo solicitando a aprovação do projecto e pedindo para que fossem as Câmaras Municipais autorizadas a proceder à construção da pista. Estava em Lisboa o Governador que, ao tomar conhecimento da atitude dos Presidentes pensou em demiti-los. Mas ficou por aí.
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O avião da TAP a aterrar no aeroporto do Pico
Cerca de um ano decorrido recebiam os Municípios peticionários a cópia do parecer dos Serviços da Aeronáutica e a solicitada autorização para a construção da pista, sem encargos para o Estado. Os presidentes peticionários já tinham sido substituídos por haverem terminado o mandato e tudo ficou como dantes... Veio depois a Revolução Nacional. Para o Pico
foi destacada uma força de sargento. O respectivo comandante, no intuito de dar ocupação “aos
seus homens”, procurou descobrir uma obra de interesse público em que os pudesse ocupar.
Numa das reuniões militares, expos o seu plano e, por indicação de um dos Militares presentes,
natural desta Ilha, ficou resolvido iniciar as terraplanagens para a construção de uma pista,
nos campos de Santa Luzia, aproveitando-se o projecto existente . A obra começou com a
colaboração dos Serviços Florestais instalados na Ilha. Com certa lentidão os trabalhos foram
prosseguindo até que o Governo Regional, então formado, chamou a si o empreendimento. O
aeroporto (depois classificaram-no de aeródromo) acabou por ser inaugurado, com pompa e circunstância, no dia 25 de Abril de 1982. Quase vinte anos depois!... Mas a pista inaugurada não era aquela de que se necessitava e reclamava a ilha.
Importava amplia-la e dar-lhe as infra-estruturas indispensáveis. Decorreram outros vinte anos para que o Governo Regional resolvesse ampliar, em comprimento e largura, a pista do Pico. Construiu-se nova aerogare, ampla e funcional, e ainda estão a instalar-se os depósitos para o fornecimento de combustível às aeronaves... Depois de muito insistir e reclamar, apareceu um dia o avião da TAP a aterrar no aeroporto do Pico, para semanalmente fazer uma paragem no Pico, em voo normal para a Terceira.
O avião da SATA a aterrar no aeroporto do Pico
Mas não basta. Muito se reclama, mas nada se consegue. O Pico continua a dispor somente de um toque semanal... As férias do Natal estão a chegar. Ao contrário de antigamente, os estudantes que frequentam as Universidades vêm habitualmente passar essa quadra festiva com as famílias. Raros são os que conseguem vir ou regressar directamente de
Lisboa para o Pico ou vice-versa. Habitualmente têm de viajar para o Faial porque a TAP, naquela
época, aumentou de doze voos extraordinários as viagens parta Castelo Branco, deixando o Pico apenas com o toque normal. E pergunta-se: Porquê esta descriminação? As últimas estatísticas publicadas na Imprensa regional informavam que setenta e tal estudantes do Pico frequentavam cursos superiores
enquanto a Ilha vizinha tinha cinquenta e tal. E aqueles passageiros do Pico que se vêm forçados
a viajar pelo Faial, porque as reservas do avião que sai do Pico andam sempre ocupadas? E quantas serão? Afinal, o avião não vem para o Pico em escala directa. Passa no Pico em viagem para a Terceira
e dali segue para Lisboa.
Não será naquela Ilha que as reservas são ocupadas? Alguém já teve o cuidado de fazer a estatística (hoje a estatística é base de todos os estudos e soluções...) dos passageiros do Pico que são obrigados a tomar o avião no aeroporto de Castelo Branco, porque, ou não há avião ou as reservas estão antecipadamente ocupadas? Mas há ainda outra anomalia a registar: Se o aeroporto do Pico não está praticável, os passageiros ou ficam no Faial ou vão para a Terceira. Se o contrário acontece, o avião desconhece o aeroporto do Pico e segue a outra rota. O aeroporto do Pico nunca é uma alternativa. O delegado da TAP no Faial – creio que é o mesmo que superintende nos serviços da TAP no Pico – desconhece estes factos? Se deles sabe porque não dá conhecimento à respectiva
Administração? Neste sector como em outros mais não há bairrismos doentios nem separatistas. Há
somente a realidade dos factos e a constatação de um desprezo que chega a ser vexatório. E, já agora: Não há bairrismo em São Jorge, na Terceira, ou São Miguel ou nas Flores? Valha-nos Deus...
Porque são votados os picoenses a esta situação humilhante? Analisem-se desapaixonadamente os factos e veja-se de que lado está a razão. Os picoenses, (das albarcas quase desaparecidas) são tão dignos e têm os mesmos direitos que os outros ilhéus - açorianos. Desculpe o leitor o desabafo, mas há verdades que têm de ser ditas...
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