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Carta para Longe


Neste meu cantinho escrevo hoje estas mal notadas regras como antigamente principiavam as “cartas para longe”. Não são rabiscadas com a antiga pena ou aparo que custava uma serrilha (vinte centavos), nem depois com a caneta de tinta permanente ou com a esferográfica, que mais tarde apareceu. Tudo isso usei e fui das pessoas que primeiro utilizou a esferográfica, quando ainda não era permitido o seu uso em documentos ditos oficiais, o que só mais tarde aconteceu.

Entretanto já usava a máquina de escrever, conseguindo adquirir, com grande esforço financeiro, uma das primeiras que por cá apareceram, são decorridos quase setenta anos. E desde então  como  se transformaram os sistemas de escrita!

Agora uso o computador, embora não seja um técnico no seu manejo. Mas sinto-me à vontade em utilizá-lo. Facilita a escrita, corrige a ortografia e dá uma certa inspiração ao que projectamos passar ao papel.

Mas o que estou a escrever hoje?

Tudo o que aí fica é do conhecimento geral e até a juventude sabe mais de computadores e dos seus segredos do que muitos adultos, nos quais me incluo.

Escrever para quem? Qual o assunto que mais interessa ao leitor?  Ou ocupar somente o espaço que o jornal nos dispensa?

Pode o assunto directamente não interessar a muitos que lêem o jornal mas há verdades que devem ser registadas, ao menos para que no futuro, aqueles que vierem depois das actuais gerações,  fiquem a conhecer a história do passado.

E nesse sector há muito que se lhe diga…

Infelizmente, hoje são poucas as cartas que se escrevem para os que vivem na Diáspora – principalmente nos Estados Unidos da América ou no Canadá. Utiliza-se sobretudo o telefone e já alguns a Internet.  Mas são sistemas falíveis. Os registos do computador desaparecem ao menor descuido. E muito do que se julgou convenientemente arquivado, evapora-se num ápice.

Ainda sou daqueles, talvez poucos, que têm confiança nos arquivos de papel, chamemos-lhe assim, muito embora também  alguns arquivos mal acautelados possam ser destruídos pelo fogo, pelas inundações e até pela traça ou peixinho de prata  que nem os produtos químicos nem os morcegos conseguem extinguir.

Vou continuar a utilizar o computador que, generosamente, me foi oferecido. Mas, igualmente, a impressora que me permite arquivar em pasta, aquilo que me vai saindo por vezes, selvaticamente, do bestunto.

E dessas “cartas para a América” quantas não levaram notícias que hoje recuperadas, seriam um manancial precioso de factos e acontecimentos ocorridos, que não ficaram registados em parte alguma, até porque os jornais raramente existiam, e que agora seriam elementos valiosos para se organizar as pequenas histórias das nossas terras. 

Há uns anos acompanhei minha saudosa Mulher numa visita ao High School onde estudou e que nesse ano celebrava o cinquentenário do curso e tive oportunidade de visitar alguns parentes, entre eles uma prima já nascida nos Estados Unidos. Surpreso fiquei quando ela me apresentou uma caixa com numerosas fotografias antigas, dizendo-me: Escolhe e leva as que quiseres porque o que ficar, os meus sobrinhos - era solteira –vão deitar para o lixo.

Aproveitei para separar algumas, que não conhecia, e trazê-las. Hoje são para mim uma autêntica preciosidade. E quantas mais não ficaram  por essas terras, dado saber-se que, geralmente, se tirava uma foto para enviar a parentes e conhecidos, pois não interessava ficarem cópias por cá…

E por hoje termino a minha insípida crónica ou “carta para longe”, como escreveu o Poeta Cortes Rodrigues.

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