A cidade da Horta foi berço de diversas modalidades desportivas e, durante largos anos, ocupou lugar de destaque no contexto açoriano. Remonta à família Dabney, na segunda metade do século XIX, o despertar para a actividade desportiva na ilha do Faial: a equitação, o remo, a vela e o ténis. Com a instalação dos Cabos Telegráficos Submarinos, a partir dos finais do século XIX, os ingleses, praticantes do “foot-ball”, acabam por influenciar decisivamente os locais. E, de um renhido encontro entre ingleses da Companhia e faialenses, realizado no Largo do Infante, nasceu, no dia 2 de Fevereiro
de 1909, o Faial Sport Club, o primeiro clube do Faial, o decano dos Açores e o quinto mais antigo do país. Os ingleses deixaram outras influências desportivas nesta ilha: o crocket, o water polo e o voleibol (introduzido, a nível nacional, precisamente na cidade da Horta). E deram grande incremento a actividades que por cá já se praticavam: o ténis, a equitação, o atletismo, a ginástica, o remo e a vela.
Fica também a dever-se às famílias inglesas a introdução, entre nós, do “bridge”, jogo que conheceu grande acolhimento nas classes faialenses mais favorecidas, com disputadíssimos campeonatos a acontecerem na Sociedade Amor da Pátria.
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Estádio Fayal Sport Club
A partir do primeiro quartel do século XX, e durante algum tempo, a Horta seria considerada a “capital dos desportos açorianos”, título que se justificava plenamente, pois era a cidade onde se praticava, com melhor nível, maior número de modalidades desportivas.
E, nesta matéria, o Fayal Sport Club esteve sempre na linha da frente, até porque os dois outros clubes que lhe sucederam, o Angústias Atlético Clube e o Sporting Clube da Horta, só foram fundados no ano de 1923.
No seu romance Mau tempo no Canal, Vitorino Nemésio faz quatro referências ao Fayal Sport Club, dando conta da influência estrangeira no quotidiano faialense, a nível do social, do cultural e do desportivo.
Numa outra obra, Sob os Signos de Agora, Nemésio recorda a Horta “telegráfica e carvoeira” que “hospedava galhardamente navios escolas de todos os pavilhões internacionais”, assumindo um “arzito fresco, cosmopolita”, onde o inglês e outros idiomas se ouviam pelas ruas e pelas lojas com frequência.
Em 1918, Nemésio aprecia as estrangeiras do Cabo a galope de cavalo, com os cabelos ao vento…
Assiste a um jogo de “foot-ball” no Relvão da Doca e fica impressionado com as meninas de boa roda da Horta a praticarem remo e vela na baía da Horta, a jogarem ténis no Fayal Sport e nos “courts” das Companhias, ou a tomarem banho em fato de malha na Praia de Porto Pim – práticas que eram então muito pouco vulgares nas cidades de Ponta Delgada e Angra do Heroísmo. O jovem escritor deixa-se enlevar por esta “Horta desportiva e inglesada” onde as mulheres fumavam nos cafés…
Todo este envolvimento social determinou que o Fayal Sport Club não esgotasse as suas actividades no âmbito desportivo. Logo a partir dos anos 20 e a par de uma série de actividades recreativas, o Clube estende a sua acção a práticas filantrópicas, humanitárias e beneméritas. A partir dos anos 30, com o seu hino escrito por Ana Adelina Bettencourt da Costa Nunes e composto por Francisco Xavier Simaria, o Fayal Sport Club cria uma secção cultural que promove uma série de actividades culturais, musicais e teatrais, com destaque para o grupo Dramático do Fayal Sport Club, viveiro de uma geração de excelentes actores amadores.
Anos depois é criado, no seio do Clube, o movimento artístico C.A.R.P.E. (Comissão Angariadora de Receitas Para o Estádio), que marca uma época na vida faialense, promovendo Jogos Florais, criando uma Orquestra (a cargo de Ricardo Ventura), um Orfeão (dirigido por Constantino Magno do Amaral), e ainda uma Banda de música, liderada por Manuel Dutra Goulart.
Com o estádio inaugurado no dia 11 de Julho de 1954, surge um outro movimento que se prolongaria até inícios do anos 70, intitulado O.R.P.A.L. (Organização Rádio Publicitária Fayal), que organiza um série de eventos musicais, bailes e verbenas, de gratas recordações…
Por conseguinte, o Fayal Sport Club nasceu sob o signo do desporto e da cultura (um dos seus fundadores foi Florêncio Terra). Tudo começou com o futebol, mas o Clube soube promover, ao longo de um século, muitas outras competições: natação, desportos náuticos, ginástica, hóquei em patins, hóquei em campo, ténis, ténis de mesa, esgrima, tiro ao alvo, tiro aos pratos, futebol de salão, patinagem, ciclismo, atletismo, basquetebol, voleibol e andebol. Este Clube gerou largas centenas de atletas (um dos quais, Mário Lino, daria o salto para patamares nacionais e palcos internacionais) e é hoje um pedaço da história, da memória e do imaginário da ilha do Faial.
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