A 9 de Junho, estava no Algarve e por mero acaso, em Monte Gordo, deparei-me com umas arruinadas instalações fabris, ainda pintadas a vermelho, como sempre me havia referenciado o amigo Sr. Pessanha, como sendo a cor preferida empresarialmente do Sr. João Folque, patrão durante muitos anos desse grupo fabril e atuneiro, que liderou o mercado e a pesca do Atum durante várias décadas, nos Açores e em Portugal. Fiz então questão de visitar Vila Real de Santo António e, ao anoitecer, procurando referências sobre locais de restauração, deparo-me com alguém que pela fisionomia me deu mostras de ser velho lobo-do-mar. Não errei e perguntado sobre se conhecia o Sr. Pessanha, os olhos iluminaram-se-lhe com o tal brilho inconfundível de quem está lembrando alguém que lhe era grato recordar. Não sei o seu nome e disso me penitencio, mas esse Senhor acompanhou-nos ao que, para ele, era o melhor restaurante à beira-guadiana e lá foi discorrendo sobre o início, apogeu e decadência da COFACO lá no Algarve, sempre elogiando o Chico Pessanha que tinha conseguido lá no Pico, nos Açores, deixar a marca algarvia dos Folques, como ele gratamente recordava. Vila Real de Santo António, que visitei pela primeira vez, respira cultura e lá está o Centro Cultural António Aleixo…
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PESSANHA, Francisco Alves do Carmo
(in Anuário Ordens Honoríficas Portuguesas – 1975 – 2007)
No dia seguinte, qual ironia do destino, deparo-me no jornal I com uma reportagem sobre Augusto Ferreira Machado, self-made man de Sandim, Gaia, nessa reportagem denominado “Rei do Atum”, que naquele mesmo dia recebeu o título de comendador da Ordem do Mérito Industrial, líder das empresas do grupo AUFERMA. Dessas empresas, dizia o referido empresário, a que tem maior relevância é a COFACO, com três fábricas nos Açores, liderando o mercado nacional com a marca Bom Petisco e em Itália com a marca Ás do Mar. Uma das novidades anunciadas, por este accionista maioritário da COFACO, será a construção duma nova fábrica de Atum em Rabo de Peixe… Independentemente de se poder questionar o acerto ou viabilidade do investimento, se em S. Miguel ou, se no Pico, prefiro antes debruçar-me sobre a vertente emotiva e social de quem personificou e assumiu de corpo e, talvez também de alma, este projecto no ano longínquo de 1962. Refiro-me como é evidente a Francisco Alves do Carmo Pessanha, de quem tive o raro privilégio de ser amigo e que faleceu em 9 de Set. 2006 em Ponta Delgada.
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Aquando da sua chegada ao Pico, apenas transportava na sua bagagem uma energia fora do comum, aliada a uma enorme capacidade de trabalho, conjugada com vastos conhecimentos técnicos sobre conservação de pescado e de gestão duma organização fabril. Cedo percebeu que tratando bem as gentes da ilha, essas mesmas o ajudariam a criar aquela que ainda é a principal unidade fabril da Cofaco. Se a ideia inicial era regressar a casa três meses após a sua chegada, segundo confidenciou a alguns, nunca realizou esse desejo, trocando-o sim por outro, bem mais ambicioso e motivante que, envolvendo toda a família e a então incipiente empresa COFACO levou-o a ir ficando no Pico só 44 anos e… ainda por cá anda na alma e no coração das gentes e da ilha.
Vila Real de Santo António
Antes de falecer, foi agraciado em 14 de Dezembro de 1999, pela presidência da república com a comenda da Ordem do Mérito Agrícola, Comercial e Industrial, como corolário da sua dedicação e denodado empenho em concretizar, entre muitos outros êxitos, um dos seus maiores sonhos: dar emprego à mão-de-obra feminina de toda a ilha e, por essa via, centenas de mulheres do Pico, encontraram um emprego que as dignificou e que muito ajudou a melhorar significativamente os rendimentos de muitas centenas de famílias ao longo de décadas.
Mais recentemente, nas comemorações do Dia dos Açores, em 2009, na cidade de Toronto, Canadá, foi-lhe atribuída a Insígnia Autonómica de Mérito Industrial, Comercial e Agrícola, pela Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.
Um saudoso até sempre meu venerável amigo Comendador Sr. Francisco Alves do Carmo Pessanha.
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