topo
linha2

Fotogaleria

 

» Home » Crónicas e Artigos » Ermelindo Ávila » Corpus Christi


Corpus Christi

A Igreja Católica celebrou na passada semana a Festa do Corpo de Deus, uma das poucas que, no calendário litúrgico, escapou ao “saneamento”, a quando da Concordata de Portugal com a Santa Sé.

Os católicos, apesar da frouxidão dos seus deveres cristãos, não deixam passar, mesmo assim, o dia da “Quinta-Feira do Corpo de Deus”, sem o solenizar convenientemente, Em algumas paróquias são de luzimento invulgar as respectivas procissões, não faltando o0 brilho os tapetes de flores que cobrem os arruamentos do percurso. Isso aconteceu este ano na vila das Lajes onde a celebração do “Corpo de Deus” tem grande tradição.

A propósito permito-me trazer aqui o que, há quase cento e vinte anos escreveu o Dr. João Paulino, então Reitor do Seminário, no “Peregrino de Lourdes”, jornal que se publicava em Angra sobre a direcção de Mons. Ferreira:
A vila das Lajes, triste e pacata de ordinário, toma durante estes dias (festas de Nossa Senhora de Lourdes, iniciadas em 1883), um aspecto risonho, alegre e animado. Desacostumada de ver gente de fora tomar parte em suas festas desde o tempo dos capitães - móres, em que a festa anual de Corpus Christi atraia ao seu recinto, vindos de todo o concelho, uns legendários corpos de milícias armados de chussos e espadas em atitude pacífica, armados quando muito do rosário, a visitam, atraídos de todos os pontos da ilha pelo encanto da devoção à Virgem de Lourdes.         

Realmente a festa do Corpo de Deus era quase só da responsabilidade das entidades oficiais. Certo ano a corporação de artes e ofícios dos pedreiros não compareceu à procissão , com a respectiva bandeira, como era obrigada, o que lhes valeu ser multada pela Vereação Municipal.

Hoje é tudo tão diferente. A indiferença e a descrença apossou-se de algumas pessoas, outrora cristãos fervorosos, que nem sempre é possível realizar um acto processional por falta de elementos que levem as respectivas insígnias ou andores. Preferem assistir, quando muito, às portas dos cafés ou nos “passeios”, à passagem dos cortejos, com um indiferentismo que causa pasmo e preocupação.

Mesmo assim há que realçar hoje e aqui a celebração da Festa do Corpo de Deus, na passada quinta-feira, na Matriz da S.S.mª.Trindade, desta vila, Nesse dia dois grupos de crianças fizeram, respectivamente, a primeira comunhão e a profissão de fé, uma celebração em que eles próprios participaram como ministros auxiliares. Depois, foi a Procissão com o Santíssimo Sacramento pela rua principal da Vila, toda ela atapetada de flores. Das janelas das residências laterais pendiam lindas e ricas colgaduras. A Filarmónica Lajense deu o seu brilhante concurso, executando marchas graves. E, desta vez, não faltou quem levasse as varas do pálio e outras insígnias, pois os pais das crianças a isso se prestaram espontaneamente. Um grande e memorável dia.

O mundo, apesar do seu desenvolvimento científico, industrial e social, vive uma verdadeira época de crise moral e religiosa que aflige os mais atentos e responsáveis.

No entanto as crises sociais vão surgindo, aqui e ali, os actos de terrorismo, os desastres aéreos e terrestres, os ciclones e tufões, as novas doenças que provocam a devastação e a morte. Será que foi escolhida uma nova forma de castigar o mundo? Um novo Dilúvio?

Mas o Dr. João Paulino (depois Bispo de Macau), acrescenta:
Há uma nota característica destes ajuntamentos, que não deve ficar em silêncio. A popularíssima viola companheira inseparável de gente folgazã, mesmo durante as romarias, por ocasião dalgumas festa religiosa, onde só devia reinar o recolhimento e piedade, não se tem ouvido durante aqueles dias abençoados, e os bailados tão frequentes em outras romarias e sempre de funestas consequências para a moral e para os costumes, não se acomodam, ao que parece, naquela atmosfera embalsamada pelos suaves perfumes que exalam as virtudes da Virgem sempre pura.

E hoje por aqui me fico.

Voltar para Crónicas e Artigos

bottom
Copyright - Adiaspora.com - 2007