Faleceu há semanas em Angra do Heroísmo, onde residia ultimamente, uma das Figuras mais notáveis da Ilha do Pico, o Dr. Manuel Linhares de Andrade. Com o desaparecimento do Dr. Linhares de Andrade a ilha do Pico ficou mais pobre em valores.
A Família Linhares marcou a vila de São Roque do Pico no último século. Recordo só o Coronel Henrique Linhares de Lima, de quem escreveu o Dr. Armas Amaral, a quando do seu falecimento em 31 de Fevereiro de 1953:
“Eminente figura militar e de politico, com relevantíssimos serviços prestados à Pátria, o seu passamento constitui grande perda para o País, e particularmente para os Açores, que o contavam no número dos seus filhos mais prestimosos e ilustres.”
E, depois, esta referência ao Pico:
“Mui sensível perda representa, pois, particularmente para a Ilha do Pico, a morte deste seu filho tão prestante e dilecto”(1)
Ao Coronel Henrique Linhares de Lima deve o Cais do Pico a estátua que foi inaugurada em 16 de Agosto de 1940, do rei D. Dinis “Protector da Agricultura”, para assinalar o duplo centenário da Restauração e Independência de Portugal, de cuja Comissão Nacional dos Centenários era ele Vice-Presidente. Histórica a “Campanha do trigo” da iniciativa do Coronel Linhares de Lima. O País, de importador daquele cereal passou a exportá-lo em apreciável quantidade. E isso não pode esquecer-se.
Mas estou aqui para prestar a minha homenagem ao Dr. Manuel Linhares de Andrade, agora que partiu para o Pai, e sobrinho que era o Coronel Linhares de Lima.
Entretanto, deve dizer-se que o interesse demonstrado pela terra natal, principalmente nos últimos anos, pelo Coronel Linhares de Lima, se ficou a dever ao estímulo que lhes foi transmitido pelos sobrinhos, Dr. Delfim Linhares de Andrade e Dr. Manuel Linhares de Andrade, quando estudantes em Lisboa, segundo o testemunho que há anos me foi transmitido por um seu contemporâneo, conterrâneo e admirador.
O Dr. Manuel Linhares de Andrade foi, durante vários anos, presidente da Junta Geral do ex-Distrito Autónomo da Horta.
Ao contrário das outras congéneres açorianas, pelo Estatuto de 1940 a Junta Geral da Horta tinha competências limitadas, em razão das diminutas receitas originadas nas ilhas do distrito. Ao cuidado do Estado ficou a Direcção de Obras Públicas e os serviços de estradas e portos. Valeu isso a dotação daquelas ilhas de uma boa rede de estradas, muito embora fosse limitada a obra realizada nos portos. No Pico salienta-se o porto da Calheta e Ribeiras…
Mas a Junta Geral tinha a seu cargo o importante sector agro-pecuário. E aí promoveu obra de mérito. Mediante prémios concedidos à agricultura, permitiu a arroteia de terrenos, quer nos campos de ensaio de novas culturas quer na renovação das manadas de gado leiteiro e de carne. A Junta Geral possuía quadros técnicos de apreciável valor profissional, muito considerados nos Açores.
A Comissão Executiva estava sempre atenta aos diversos problemas que iam surgindo, naturalmente, nas ilhas do Distrito e o seu Presidente não deixava de atender a solicitações que, quer as organizações públicas quer particulares lhe dirigiam. Revelava assim um interesse crescente pelo progresso e desenvolvimento destas ilhas, de que eram Expressão máxima os Serviços Agrícolas Matos Souto e a “Quinta das Rosas”, no Pico, a herdade de São Lourenço, no Faial e os Serviços agro-pecuários das Flores e Corvo.
O Dr. Linhares de Andrade, advogado de profissão, interessava-se de maneira especial pela Cultura. Era um dos fundadores do Núcleo Cultural da Horta A Junta Geral da sua presidência subsidiava a publicação do respectivo boletim, repositório de trabalhos de interesse histórico e literário e albergava a sede provisória numa das dependências dos Paços da Junta.
Com o falecimento do Dr. Manuel Linhares de Andrade, a ilha do Pico, repito, ficou mais pobre. Ainda não vejo quem tenha a desejada disponibilidade para ocupar o seu lugar. O tempo o dirá.
Às Exmas. Filhas e mais familiares deixo aqui os cumprimentos de muito pesar.
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