“Que há de mais insensato”, dizem os Filósofos, “do que adular o povo para conseguir uma candidatura, comprar os votos, procurar os aplausos de tantos “ingénuos”, comprazer-se em ser aclamado, fazer-se levar em triunfo como um ídolo, ou querer ter a sua estátua de bronze? Acrescentai a isto a ostentação dos nomes e cognomes, as honras divinas prestadas a gente que nem merece o nome de homens, as cerimónias públicas em que são venerados como deuses ou tiranos mais execráveis”!
Infelizmente, é isso mesmo! Batermos palmas, hastearmos bandeiras coloridas e gritarmos vivas e repetirmos “slogans” já gastos. Tudo coisas tão ridículas, tão cheias de nada. O argumento central é que um País pobre e em crise não pode ceder ao consumo, a suprema blasfémia dos nossos tempos; salvo talvez a economistas reaccionários, a ninguém ocorre que o consumo possa ser, apesar de tudo, um sinal de que a nossa penúria ande sobrevalorizada: a penúria não é opcional, antes um estado endémico e até desejável.
Segundo esta perspectiva, o português ideal sobrevive com um salário mínimo, com subsídios de misérias, possui três ou quatro filhos e três “parentes avulsos” sob a sua custódia, não sai do seu bairro (freguesia), vai para duas ou três décadas e suporta a Páscoa na melancolia do lar, a fim de, consoante os gostos, receber o “compasso” ou adquirir consciência social. Vai à missa, tem o Centro de Saúde e o seu “médico de família” mesmo próximo da sua porta, possui o “passe social” para usufruir dos transportes públicos, é frequentador assíduo das lojas chinesas e faz um consumo diário de sessenta a setenta cêntimos com a “bica”! Este é o Povo bondoso e puro da retórica demagógica, louvável na exacta medida da sua infelicidade. Vasto que seja, o “outro povo”, o “Falso” o povo das “pontes” e das escapadelas às pousadas de Braga ou de Praga, representa uma afronta e suscita, ao que se vê, um “genérico” asco.
A pobreza constitui de facto o grande drama pátrio, sobretudo porque é mais escassa do que muitos gostariam que fosse.
Termino, com uma quadra do popular Poeta Aleixo:
“Tu que vives na grandeza,
Se calçasses e vestisses
Daquilo que produzisses,
Andavas NU, com certeza”!
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