Hoje é 5ª feira de Amigos…
Percorrendo as minhas memórias e outras afins… podemos considerar, sem margem para dúvidas, de que se perde no tempo toda e qualquer certeza do início, ou do porquê, desta grande comemoração da Amizade – as 5ª.s feiras de Amigos, de Amigas, de Compadres ou de Comadres – nas semanas que antecedem o Carnaval e, porque sendo tempo de inverno, nestas ilhas atlânticas, nada mais propício à confraternização intramuros…
Na avoenga vila das Lajes, onde me orgulho de ter nascido e onde vivi a minha infância e juventude, dizia-se que as 5ª.s feiras, antes do Carnaval, haviam começado a ser comemoradas em “casas solarengas” – aquelas que recebiam em datas festivas amigos e conhecidos - com salas apropriadas e de dimensões suficientes para os convivas darem o seu “pé de dança” ao som do pianista que se dispusesse a animar essas noites inesquecíveis e onde no fim dos anos sessenta também dei o meu modesto contributo e recordo com saudade, na sala da Família Castro, uma vez, acompanhado à bateria pelo madalenense e grande amigo Manuel Jorge Goulart, hoje emigrado na América, um exímio tocador desse instrumento de precursão, que deu o seu voluntário e artístico desempenho a inúmeros conjuntos musicais de baile, nas três vilas do Pico, enquanto desempenhou a profissão de guarda-fios. Mas caros ouvintes existiram Pianos às dezenas nas fidalgas residências da vila das Lajes, dos quais ainda conheci mais de vinte…
Segundo se dizia, as 5ª.s feiras eram a alternativa aos “assaltos” que tinham lugar aos sábados nas sociedades recreativas, também nas semanas que antecediam o carnaval. Ainda vivi alegremente os “assaltos” da Filarmónica e do Grémio e neles participei intensamente: engalanar os salões de baile, preparativos de comes e bebes com realce para essa bebida única, o Cup… Outros tempos em que as Lajes era a referência da ilha…
Voltando à amizade que hoje se começa a comemorar, aqui vos deixo algumas reflexões e anotações:
Segundo o sábio grego Aristóteles “a amizade é menos frequente entre pessoas azedas e entre os mais velhos, porque quanto pior for o feitio das pessoas, menor é o prazer que têm no convívio; e sublinha: ora o bom feitio e o convívio social são marcas de amizade e motivos criadores de amizade. Por esse motivo, os jovens depressa se tornam amigos, os velhos, não. E é porque não se podem tornar amigos daqueles (dos jovens) na presença dos quais não sentem prazer; de modo semelhante se passa com os que estão sempre mal dispostos”… e mais não cito o velho sábio, para terminar com Agustina Bessa Luís: “A melhor prova duma real amizade está em evitar os compromissos entre aqueles que se estimam. Ainda que devendo muito aos que muito me louvam, eu não quero ser-lhes obrigada pela gratidão. Mas sim grata porque estou com eles, devido a circunstâncias que a todos nós agradam e são um laço mais entre nós, sem constituírem um dever…”
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