Madragoa - o das Francesinhas (Lisboa)
Há anos, mesmo há muitos anos, lembro-me da minha tia Etelvina chegar ao fim da tarde a casa da minha avó Elvira, onde com ela morava, acartando à cabeça a roupa que havia ido lavar à Mouraria… (vejam a foto publicada no blogue do meu amigo José Augusto Soares Juca – Castelete Sempre).
Mouraria (Lajes)
Entretanto há meses, na Madragoa – Lisboa, onde passo algumas semanas pacatas e também repousantes (à parte as derrotas leoninas) encontrei um Lavadouro público – tanque municipal como é conhecido, mandado construir em 1876 pela Rainha Dª. Maria Pia (reinado de D. Luís) e oferecido às Varinas desse bairro, que não dispunham de logradouros – ainda em atividade com três Lavadeiras permanentes onde se entregam tapetes, mantas coloridas, roupas de cama, enfim tudo o resto que não é usual confiar às máquinas de lavar roupa; diz a encarregada Dª. Manuela, que veio há 45 anos do Porto, que será esse o seu trabalho até as suas forças lho permitirem, ou enquanto não transformarem esse espaço num “complexo que irá incluir um centro de dia, jardim de infância e um parque de estacionamento para cerca de 300 viaturas”. Sem comentários…
Ribeira do Meio
Voltando ao Pico, às Lajes, à Ribeira do Meio, a São Roque ou à Ribeirinha e Piedade, encontramos ainda espaços e memórias: a tal Mouraria, abaixo do cemitério, no extremo norte da Lagoa, mas já quase ninguém se lembrará das lavadeiras desses tempos recuados, em que muitas mães e tias lá se juntavam a aproveitar a água doce que, na maré baixa, brotava da terra, qual fonte de água cristalina, o que permitia boas lavagens de barrela da roupa branca, que por ali ficava a corar ao sol, até antes da maré voltar a encher… Na Ribeira do Meio, o Lavadouro foi construído em 1942, julgo que no tempo em que meu pai foi presidente da Câmara, e ainda lá está, mas em estado de abandono.
São Roque
Em São Roque também existem pias de pedra junto ao poço, abaixo da Matriz e à ilharga de uma ribeira, próximo da Praça onde existiu a sede da Câmara Municipal até 1835, edifício demolido no meu tempo.
Paul - Ribeirinha e Piedade
Ora afinal também nas nossas casas, ao lado da cisterna (tanque) havia a pia de lavar roupa, em pedra, e até em épocas de estio prolongado, na Ponta da Ilha (Ribeirinha e Piedade) as mães de família tinham de se socorrer da água do Paúl…
LAVADOURO MUNICIPAL - "MADRAGOA" - LISBOA
Canseiras que já ninguém ousa realizar e, por isso mesmo, aqui deixo em memória de todas essas mães e tias de família à antiga, a minha modesta, saudosa e emotiva homenagem.
Voltar para Crónicas e Artigos |