Pois é, parece ser essa a intenção do nosso bispo D. António, porque, segundo ele afirmou ao Diário de Noticias, quer ver mais católicos a dirigir centros paroquiais e a acompanhar as obras para combater a crise de vocações, designadamente em S. Miguel e quer que os leigos recebam formação para assumirem essas tarefas que até agora eram exclusivas dos padres, possibilitando assim que estes possam ter mais tempo para a sua missão eclesiástica e de apoio às comunidades paroquiais e deu alguns exemplos onde essa colaboração dos fieis se poderá aplicar: o acompanhamento a obras e projectos da Igreja; a possibilidade de liderarem centros sociais e paroquiais; e a integração em movimentos ligados à acção sociocaritativa. Há muitas coisas que os leigos já fazem, mas, reforça o nosso prelado, tem de fazer muito mais… e defende que os padres também tem de delegar mais tarefas e que os leigos tem de estar preparados para as assumir. Os padres, que são cada vez menos, estão sobrecarregados, porque tem a seu cargo mais de uma paróquia e às vezes, pouco tempo dedicam a ouvir com atenção ou a manter uma simples conversa com os seus paroquianos, para lhes transmitir conforto espiritual.
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Matriz das Lajes - II |
Sinal dos tempos este da falta de vocações sacerdotais, que muito se deveu, na década de sessenta, à intransigência de parte significativa de uma geração de padres e professores do seminário que “afastaram os mais capazes”…
Hoje será difícil recuperar a onda que então, nesses recuados anos, afluía aos dois seminários dos Açores – Seminário-colégio em Ponta Delgada e Seminário Episcopal em Angra – e a consequência directa é que, de há anos a esta parte, são cada vez mais as paróquias sem padre residente e o pároco titular, quando lá não reside, naturalmente que lhe escasseia o tempo e quase só se vai cingindo àquilo que é específico do padre: celebrar a eucaristia, e à pressa. No Pico existem mais de vinte paróquias ou curatos – Zona das Lajes: Santíssima Trindade (Lajes), S. Bartolomeu (Silveira), São João, Santa Barbara, Santa Cruz; Sub-zona da Ponta da Ilha: Calheta de Nesquim, Piedade e Ribeirinha; Zona de São Roque – Santo Amaro, Nossa Senhora da Ajuda (Prainha), São Roque, Curato de S. Pedro de Alcântara (Cais), Santo António, Curato de Santana e Santa Luzia; Zona da Madalena: Bandeiras, Madalena, Criação Velha, Curato do Monte, Candelária, São Mateus e São Caetano; Por volta de 1958 todas estas comunidades paroquiais beneficiavam de padres residentes e hoje a ilha conta apenas com 8 padres e as três ouvidorias foram refundidas numa única: a Ouvidoria do Pico…
Chegou a hora dos leigos?
Será que ainda existem católicos, que se queiram assumir como gente empenhada e comprometida na sua comunidade paroquial?
Vamos continuar a assistir à expansão de “equipas de padres in solidum”, em que nunca se sabe qual o padre que nos vai aparecer, em cada domingo?
Pelo que nos vamos apercebendo, existem situações díspares: numas o padre não abre mão da sua autoridade e não tem feitio para delegar essas tais tarefas, que eram exclusivas do seu mando, como a liderança dos centros paroquiais e a coordenação das obras, fossem de recuperação ou de mera manutenção dos imóveis paroquiais; por outro lado, também vão aparecendo padres novos, com espírito aberto e agregador, que conseguem reunir excelentes equipas de leigos nas paróquias que lideram.
Compreendemos e respeitamos a intenção e a preocupação de D. António Braga, em pedir a colaboração dos leigos, mas temos fundadas dúvidas se todos os padres quererão abrir mão desse poder, que a rígida hierarquia clerical durante séculos lhes concedeu.
A ver vamos…
Até para a semana e feliz 5ª feira de comadres…
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