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O verdelho licoroso - Czar


A apresentação do vinho CZAR, colheita de 2004, que ocorreu na passada 6ª feira, no acolhedor espaço do restaurante Canto do Paço, na Prainha do Norte, foi a última produzida em vida do saudoso amigo Prof. José Duarte Garcia. Como então explicou o filho Fortunato Garcia, actual continuador deste “precioso néctar” produzido na zona do Lagido da Creação Velha, em vinha que seu pai herdou do Prof. Rodrigues, o Czar, verdelho licoroso, o mais apreciado, não se consegue todos os anos, pois só quando a graduação provável, medida em mosto, ultrapassa mais de 18 graus, essa meta é atingida. Caso contrário obtêm-se verdelho seco. Esta colheita de 2004 tinha em mosto, 22 graus, resultando assim num magnífico verdelho licoroso. Ora com esta simples explicação e, passe o remoque, é difícil aceitar que cá na ilha, em determinada altura, se pretendia produzir vinho licoroso de qualidade, com uvas até 14 graus, rejeitando as outras de graduação superior, como então me afirmaram ressentidos, alguns vitivinicultores… Enfim…
Podendo parecer recorrente lembrarmos a história deste vinho na nossa ilha, é sempre interessante deixar algumas notas. Conta a história que um século depois dos primeiros povoadores vindos do Faial se terem fixado no Pico, com as vinhas já plantadas, produziam-se mais de duas mil pipas de vinho por ano, isto no final do século XVI. A produção do vinho foi crescendo e, segundo relatos escritos cuja veracidade é incerta, poderá ter atingido as trinta mil pipas.

O verdelho foi produzido em quase todo o litoral da ilha, com maior expressão, da Creação Velha até Santa Luzia, Baía de Canas e Ponta da Ilha (Engrade e Manhenha). Tal como os proprietários do Faial retiravam elevados rendimentos, nessa época áurea do verdelho, consta também que um proprietário da Baía de Canas, chegou a viver em Londres, no início do século XIX, usufruindo dos fartos rendimentos da venda do verdelho, que para lá exportava. O verdelho do Pico alcançou fama internacional por mais de dois séculos, chegando ao norte da Europa, Índias Ocidentais, América do Norte, Brasil e às requintadas garrafeiras dos Czares da Rússia. Eram tempos de prosperidade, mas também foram os tempos das desigualdades sociais, dos Senhores e dos Feitores. Só que a meados do século XIX, em 1852, as pragas do oidium - o tal pó branco que atacava as vinhas - e da filoxera, rapidamente se alastraram e, de milhares de pipas, caiu-se para pouco mais de uma centena.
De há alguns anos para cá, o vinho verdelho, apesar dos cuidados que exige, já que a mecanização é inviável, voltou a ter, nalgumas explorações particulares, elevada qualidade, do que é exemplo o CZAR da família do Prof. José Duarte. Os donos das vinhas são, com raras excepções, os próprios executores de todas as tarefas: poda, aplicação de herbicidas e sulfatos, vindima e produção do vinho. A ilha progrediu socialmente e neste sector, a evolução económica ditou, felizmente, que os antigos feitores são hoje os actuais proprietários. 
No entanto, segundo frisou Fortunato Garcia, continuam a ser imprescindíveis os apoios estatais a esta actividade, designadamente os referentes à manutenção dos currais de vinha na zona da paisagem protegida, ajudas que o Director Regional, Joaquim Pires, lá prometeu continuarem…
Aqui deixo esta modesta nota, como homenagem às gentes do Pico que, com empenho e sacrifício, se dedicam a essa labuta insana do cultivo da vinha e da produção do verdelho, perseverando assim uma das facetas mais marcantes da história socioeconómica desta ilha.
Rui Pedro Ávila

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