Big Ben, o mais famoso relógio do mundo,
que de uma das torres
do Palácio de Westminster pauta a pontualidade britânica.
O Rio Tamisa e o Palácio de Westminster que alberga
o Parlamento Britânico.
Segundo os cadastros consulares, estima-se em 250 mil os Portugueses que actualmente se encontram radicados em terras de Sua Majestade. Mas, na realidade, esta cifra não reflecte a realidade demográfica da Comunidade Portuguesa no Reino Unido, sendo esta bem maior em número se aduzimos a esta estimativa os imigrantes que chegam ao Reino Unido diariamente e que não se registam nas sedes consulares portuguesas em Londres e Manchester.
Calcula-se, todavia, que cerca de dois terços da Comunidade Portuguesa no Reino Unido se centram na Grande Área Metropolitana de Londres, com enclaves lusos em South Lambeth, Harlesden, Camden, Westminster, Chelsea, Kensington, Hammersmith e Fulham.
Stockwell, em Lambeth, é a zona mais conotada com a Comunidade Portuguesa em Londres. (Foi nesta estação de metro que o jovem brasileiro Jean Charles de Menezes foi acidentalmente baleado pelas forças policiais, na sequência dos atentados bombistas de 2005).
Dada a sua acessibilidade, devida à sua relativa proximidade a Portugal, - favorecida ainda mais nos últimos anos pela actuação em território Português de linhas aéreas Britânicas e Irlandesas de baixo-custo – o Reino Unido, particularmente a capital, tornou-se num destino desejável para uma grande parte do fluxo migratório português a partir dos finais de década de 90, altura em que a volubilidade do mercado de trabalho português e a vulnerabilidade económica de Portugal começou a desenhar-se novamente no horizonte.
Embora esta vaga de emigração portuguesa para o Reino Unido fosse proveniente, na sua maior parte, da Ilha da Madeira, mormente das zonas rurais, em que a mão-de-obra menos qualificada estava reduzida às lides agrícolas tradicionais cada vez menos expressivas, outros havia que vinham de diversas regiões de Portugal Continental, por razões similares e pela saturação dos mercados laborais dos destinos até então mais habituais dos portugueses continentais na Europa, como França, Alemanha, Luxemburgo e Suíça. Os imigrantes portugueses para o Reino Unido desta movimentação migratória hodierna inseriram-se nos sectores dos serviços de limpeza, na indústria hoteleira, construção civil, e agricultura, como tem vindo a suceder em outras Comunidades Portuguesas no mundo. Em zonas como Jersey, esta imigração era, e continua a ser, sazonal, implicando frequentes retornos a casa e rendimentos irregulares e incertos.
Contudo, houve um outro movimento migratório português para o Reino Unido antecedente, que marcou acentuadamente o cariz da Comunidade actual. Este ocorreu nas décadas de 1960 e 1970, numa época em que Portugal se encontrava subjugado ao regime totalitário salazarista e a indesejados conflitos coloniais que mantinha em África. Assim, para muitos Portugueses, para além do factor económico, a ameaça do serviço militar obrigatório e prolongado nestes teatros de guerra para os mancebos, e do encarceramento, da perseguição e tortura por elementos da temida PIDE para os dissidentes do regime, serviu de pretexto para a emigração, muitas das vezes por via clandestina. Chegavam das ilhas, chegavam do Continente, estes elementos fundadores da actual Comunidade Portuguesa no Reino Unido.
Em termos comparativos, a Comunidade Portuguesa em Londres é menos coesa do que nos outros grandes centros urbanos em países de acolhimento anglófonos, como Toronto, no Canadá, Newark, Rhode Island e San Jose, nos Estados Unidos, Joanesburgo e Cidade do Cabo, na África do Sul, para mencionar somente alguns. Embora existam cerca de dez colectividades portuguesas em Londres, a vida comunitária tem pouca expressão no quotidiano da grande maioria dos Portugueses residentes na grande capital multicultural britânica. A geografia da urbe é um dos factores que contribui para este isolamento, que, acoplado às clivagens regionais segregadoras, impedem a consolidação de um sentimento identitário comum, necessário à edificação de uma Comunidade dinâmica, unida, coesa e interveniente. A participação dos Portugueses na vida cívica e política enquanto Comunidade continua a ser infelizmente bastante reduzida. Em anos transactos, houve um vereador português na Câmara de Lambeth, mas a sua actuação foi efémera e envolta em alguma controvérsia.
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Sabores Portugueses em Londres
Não obstante estes obstáculos, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades não deixa de ser celebrado em Londres. Por iniciativa de uma Comissão Organizadora composta por representantes dos clubes e associações e outros elementos da Comunidade, hasteiam-se todos anos as cores lusitanas em Kennington Park, South Lambeth, por altura do Dia 10 de Junho. Ao arraial à portuguesa agrega-se, por norma, um certame de produtos e serviços portugueses, com o intuito de encorajar e promover a actuação de empresas lusas no mercado britânico.
Esporadicamente, há espectáculos de artistas portugueses em recintos de renome como o Brixton Academy, que, em 2005, acolheu Tony Carreira, e o Royal Albert Hall, com a fadista Mariza a fazer furor, não só entre os seus conterrâneos, mas também entre os amantes britânicos da World Music, em Novembro de 2006. Mais recentemente, houve uma tentativa de trazer o teatro em Língua Portuguesa ao West End, com uma peça cujo elenco incluía a célebre actriz portuguesa Fernanda Serrano. Mas a iniciativa não ressoou na Comunidade Portuguesa de Londres, que ainda é relativamente deficitária em termos educacionais e culturais, e no campo do ensino da Língua Portuguesa entre as camadas mais jovens e os luso-descendentes. (Esperamos que as novas medidas prometidas pelo actual Governo Português visando a introdução de docentes devidamente formados e qualificados nas Comunidades venham a colmatar esta grave lacuna, dando uma maior visibilidade e relevância àquele que é o quinto idioma mais falado no mundo, com cerca de 250.000.000 falantes.)
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O Restaurante Pico do Grupo Madeira é muito frequentado
por clientela inglesa.
Não podemos descurar os jovens imigrantes portugueses formados que, nos últimos anos, têm vindo a incrementar a presença portuguesa no Reino Unido, na sequência do Brain Drain que ocorre presentemente em Portugal. Muitos vêm em busca de melhores oportunidades de emprego, uma vez que o mercado laboral português se encontra saturado e seriamente afectado pela progressiva degradação das suas empresas face à competição estrangeira e à recessão da economia mundial, não dispondo de capacidade para assimilar os jovens que saem das universidades portuguesas. Alguns chegam por meio de bolsas de estudos às universidades britânicas, onde frequentam cursos pós-licenciatura, na esperança que o prestígio e a experiência aqui angariada lhes facilitem o ingresso num mundo laboral cada vez mais competitivo e exigente.
A maior parte destes jovens escapam às malhas da Vida Comunitária Londrina, procurando antes a gradual integração na sociedade de acolhimento. Esta preferência desenha-se por várias razões, entre as quais, e talvez a mais significante, o facto de que estes jovens imigrantes são detentores de uma educação e de cultura mais avançada do que a dos restantes residentes portugueses; possuem uma mundividência que não se coaduna com os parâmetros identitários mais arcaicos da Comunidade Portuguesa prevalente, por si já bastante frágil.
Duas jovens Portuguesas do Norte recém-chegadas a Londres encontradas ao acaso na margem norte do Tamisa. Formadas na área do turismo, buscam na capital britânica a promessa de um futuro mais risonho.
No geral, a Comunidade Portuguesa em Londres carece de infra-estruturas comunitárias mais sólidas, capazes de servirem de pólos aglomeradores e dinamizadores; de estruturas de apoio nos campos do apoio social aos jovens e aos idosos; de iniciativas socioculturais actuais que possam atrair os jovens formados recém-chegados a integrarem-se na Comunidade; de agentes prestadores de serviços de esclarecimento sobre os liames legislativos e reguladores vigentes no universo laboral e na sociedade do Reino Unido por forma a incentivar uma maior autonomia no quotidiano dos imigrantes portugueses com maior dificuldade linguística e mais desfavorecidos; e, por fim, de uma maior visibilidade e representatividade articulada dos portugueses na vida cívica e sociopolítica do Reino Unido.
Mas mesmo assim, em Londres também se canta o fado e trinam as guitarras portuguesas!
O Rio Tamisa e a Catedral de São Paulo. (Carlos II de Inglaterra
e esposo da Infanta Portuguesa Catarina de Bragança
mandou construir o edifício actual, no sec. XVII,
segundo o projecto do célebre arquitecto britânico Christopher Wren).
O Palácio de Buckingham, a residência oficial de Isabel II em Londres.
O Render da Guarda
Os emblemáticos autocarros vermelhos da capital britânica.
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