Está-se a comemorar a partida dos soldados açorianos, arregimentados por D. Pedro IV, e que foram desembarcar na Praia do Mindelo um facto, que ficou na História e que os açorianos ainda recordam com todos os seus incidentes e aventuras. Celebram-se agora 175 anos e Ponta Delgada, donde partiram os “Bravos do Mindelo”, vai assinalar a efeméride com o descerramento de” um memorial em forma de pirâmide com 1,80 metros de altura, de pedra serrada, onde ficará a proclamação de D. Pedro IV”, como informa a Imprensa micaelense.
Mas não eram somente da ilha de São Miguel os soldados que o Rei-Soldado reuniu para constituir o grupo que viria a desembarcar numa das praias do Porto e, com ele, conquistar o poder ao Rei D. Miguel, seu irmão.
Os povos do Pico e Faial eram fiéis ao rei D. Miguel. Nas Câmaras Municipais havia ele sido aclamado com toda a pompa, em 9 de Setembro de 1828.
Sabedor disso, o irmão D. Pedro, como representante da filha, futura Rainha D. Maria, fez desembarcar, em 21 de Abril de 1831, no porto de Santa Cruz das Ribeiras, um batalhão, sob o comando do Conde de Vila Flor. Nesse batalhão vinha incorporado o Batalhão Académico, que foi albergado em S. João, pelo Alferes Vieira de Bem.
“Entrando na Vila das Lajes, em Abril de 1831, a divisão liberal comandada pelo Conde de Vila Flor, depois duque da Terceira, foi por este encarregado o capitão Manuel Machado Soares de prover às subsistências da divisão durante a estada das tropas na ilha, missão delicada, porque as populações sentindo na consciência o pecadinho da afeição pelo Senhor D. Miguel , fugiam (para os montes) à aproximação das forças liberais. “
Contava minha bisavó, que ainda conheci muito bem, que, à frente da tropa, ia um arauto avisando as populações para abaterem gado e cozerem pão para alimento dos soldados.
E Lacerda Machado (in “Os Capitães Mores das Lages”) narra o seguinte episódio: “Em 1931 desembarcou em Santa Cruz o Conde de Vila-Flôr, com a divisão liberal, marchando em direcção às Lajes. Ao passar em frente da casa do capitão José Bettencourt da Silveira, este saiu-lhe ao encontro e convidou o Conde e o seu estado-maior a tomar uma refeição.” “…no decurso da refeição, Manuel Homem encheu o copo e perguntou ao dono da casa como se chamava, no intuito de lhe fazer um brinde, ao que o interrogado respondeu naturalmente: José Bettencourt… Manuel Homem pousou bruscamente o copo na mesa, e insistiu, se era com efeito esse o seu nome. O capitão José Bettencourt, é claro, nada compreendia do que se estava passando, mas confirmou… Interveio o Conde, nobremente, dizendo, com firmeza, que mais Marias havia na terra, e que quando mesmo não houvesse, estavam numa casa onde se lhes tinha oferecido expontânea hospitalidade. – Apurado o caso, Manuel Homem julgou ter diante de si outro José Bettencourt, miguelista assanhado que, no Faial, se tornou muito conhecido, sendo por isso notado no livro negro dos liberais e que, ao ter a infausta notícia da aproximação das tropas constituicionais, se safou para o Pico metido numa pipa!”
José Bettencourt Brum da Silveira era filho de D. Izabel Brites Bettencourt Brum e Silveira e do alferes José Francisco Silveira, natural, segundo uns da freguesia Matriz das Lajes, segundo outros, de S. João, porque afinal era natural…do mistério!” (onde havia rebentado o vulcão de 1720).
Quando houve notícia da aproximação das tropas liberais, como acima se refere, não apenas o povo mas sobretudo os rapazes em idade militar refugiaram-se nas “casas de pasto” existentes nas «terras do alto” para não serem incorporados no Batalhão. No entanto, alguns apanhou-os a tropa e lá seguiram. Entre eles foi o “Pereira Soldado”, desta vila, como ficou conhecido – “o qual entretinha a velhice a contar as aventuras ocorridas durante a ausência por terras estranhas…”
Demais não foi pacífica a passagem de D. Pedro pelo arquipélago. Tenha-se presente o Decreto que suprimiu diversos mosteiros, conventos e colegiadas dos …Açores, entre eles “os conventos de religiosos menores de S. Pedro de Alcântara e de Nossa Senhora da Conceição na ilha do Pico”; decreto que foi expedido do Paço em Ponta Delgada, em 17 de Maio de 1832 e que foi assinado por D. Pedro, Duque de Bragança.
E não repito mais do que escrevi anteriormente (Vidé: “Figuras & Factos – Notas Históricas” (1993)”.
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