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Manhãs de sábado e a emigração açoriana para o Brasil


De Lélia Nunes, de Vilson Farias e de alguns mais já por aí escrevemos, mas de Luís Galvão, de Santa Catarina no Brasil, economista e homem interessado na cultura da comunidade açoriana, embora na retaguarda, só ouvi falar hoje, nas Manhãs de Sábado, da Antena 1, num interessante momento radiofónico: uma conversa telefónica triangular, criada pelo produtor e apresentador Mário Jorge Pacheco, em Ponta Delgada, juntando ainda a Regina Meireles, nas Lajes das Flores e o Luís Galvão, em Florianopolis, ilha (estado) de Santa Catarina (Brasil), a propósito duma homenagem com que a Regina foi distinguida recentemente pela comunidade açoriana de Santa Catarina, pelo seu empenho e dinamismo na concretização de alguns intercâmbios de grupos folclóricos entre Florianópolis e as Lajes das Flores.

Escritora e professora Lélia Nunes

Este pequeno episódio relembrou-me o IV Congresso das Comunidades Açorianas, realizado em Novembro de 1995, na Horta, altura em que fiquei desperto para essa verdadeira epopeia, quase esquecida e repescada, depois de Abril de 1974, pelos governos autonómicos dos Açores: a emigração de milhares de famílias de todas as ilhas dos Açores para Santa Catarina e Rio Grande do Sul, entre 1748 e 1753, incentivada por D. João V e cito Maduro Dias: Em 31 de agosto de 1746, o rei DOM JOÃO V de Portugal comunicou aos habitantes das ilhas dos Açores que a Coroa oferecia uma série de vantagens aos casais ilhéus que decidissem emigrar para o litoral do sul do Brasil. Nos termos de um edital fartamente distribuído pelas nove ilhas do arquipélago as vantagens do convite eram evidentes: - "haverá um grande alívio nas ilhas porque elas não mais verão padecer os seus moradores, uma vez que vão diminuir os males da indigência em que todos vivem; - haverá um grande benefício para o Brasil, já que os imigrantes irão cultivar terras ainda não exploradas." (fim de citação)

Professor e escritor Vilson Farias

Pelo que hoje se sabe essa pretensa fartura não passou de mera miragem e é o que se depreende desta descrição do actual governo do estado de Santa Catarina: A fundação das povoações "vicentistas" no litoral catarinense não fortaleceu o surto demográfico em toda sua extensão, mas tão somente criou três núcleos isolados, vivendo de sua subsistência como foi o caso de São Francisco, Desterro e Laguna. (…) O açoriano, embora desenvolva outras atividades de subsistência, mantém a continuidade da tradição pesqueira. Sua chegada coincide com a implantação e o desenvolvimento das "armações" de baleia. Assim, passa a desempenhar aquela atividade em alto-mar e, por conseqüência, surge a construção naval. Como resultantes culturais, o elenco de manifestações da cultural popular inclui a tecelagem manual, técnicas de pesca, o folguedo "boi-na-vara" (Farra do Boi é uma adaptação da Tourada à corda), os "pão-por-Deus", danças, as festividades do ciclo do Divino Espírito Santo, além do substrato lingüístico. Fonte: Governo do Estado de Santa Catarina www.sc.gov.br . (fim de citação).

Grupos Corais de São Jorge, Pico e Faial

Em remate desta pequena homenagem a esses açorianos que, depois de 260 anos, lá no Brasil, preservam as nossas tradições culturais, transmitidas ao longo de 9 (nove) gerações, aqui deixo o desabafo de Lélia Nunes, que reencontrei há cerca de três anos, quando veio ao Pico e se deliciou e emocionou com o Terço do Espírito Santo em São Roque, onde continua viva a devoção ao Divino Espírito Santo, cantando-se diariamente o Terço, desde o Domingo de Páscoa ao Sábado de Espírito Santo. Depois de uma longa conversa própria de quem se revia ao fim de dez anos, confidenciou-me: “Rui não levem mais filarmónicas a Santa Catarina, não é essa a cultura que, há quase três séculos, para lá levaram os nossos antepassados, levem-nos sim, muitos grupos corais, muitos artistas ou grupos de música popular açoriana e muitos grupos de folclore. É esse género de cultura que cala fundo na alma daquele nosso povo, a maior parte dele humildes pescadores e agricultores.
Realmente toda essa cultura veio com os primeiros povoadores, enquanto as nossas filarmónicas surgem depois, no século XIX (um século depois da emigração açor-catarinense) do que são ainda hoje um louvável testemunho a Liberdade Lajense, a União Artista de São Roque e a Lira Fraternal da Calhetense.
Sem mais comentários, aqui fica esta modesta nota à atenção de autarcas e governantes, que concerteza dela não necessitam...

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