Já foi assunto aqui tratado em anterior crónica. (15-11-2001). Todavia nem todos os leitores se lembram do escrito. Vale a pena, por isso tão somente, repeti-lo. Tanto mais que, um velho amigo, há muito desaparecido do número dos vivos, escrevia-me, a propósito de uma crónica então publicada neste Semanário, e citava o velho e conhecido adágio: “Água mole em pedra dura...”
A paisagem picoense alterou-se imenso nos últimos anos. Desapareceram os moinhos de vento que tanta graça emprestavam e, a arborização selvagem veio descendo as encostas da ilha, assenhoreando-se dos sítios mais aprazíveis. É o caso das criptomérias que, tomando “posse” das velgas lavradias, se vão aproximando das habitações conjuntamente com as faias e os incensos. (Não serão estes os nomes técnicos mas são aqueles pelos quais as populações conhecem a arborização da Ilha.)
Não digo que se restaurem os antigos moinhos de vento para voltarem à sua actividade de farinação do milho. Até porque o milho já é muito escasso e as poucas moagens motorizadas que existem são suficientes para atender aos que a elas recorrem.
Lajes do Pico, no último quartel do século XIX
Interessa antes restaurar os moinhos como elementos atractivos de um turismo que cada vez mais nos visita e vai à procura de sítios, construções ou imóveis diferentes daqueles que habitualmente encontram em outras terras e lugares.
“Na periferia da Vila era interessante, aqui há meio século, ver os moinhos do Mistério, da Ladeira Nova (Biscoitos), do Juncal e da Terra da Forca, de velas (ou panos) enfunados, e escutar, aqui perto o búzio a chamar os interessados para a moenda. Do que estava no Mistério ficou o “monte”.
Desapareceram os outros. Há poucos anos foi retirada a pedra do “monte” do moinho do Juncal”(...) ”Não digo que se restaurem todos estes instrumentos de vitalidade, mas mal não ficaria, que o da “Terra da Forca” fosse restaurado para enriquecimento da paisagem, dando-se-lhe uma utilidade turística. Outras terras estão a restaurar os seus moinhos e até em algumas nações da Europa isso acontece.” (Crónicas da Minha Ilha, II Vol. 2002)
Já houve quem pensasse em reconstruir o moinho do Juncal. O monte em pedra podia ser substituído por cimento com revestimento em pedra. Sendo redondo o mar não tem possibilidade de o destruir, como se verificou antes com o que ali existia. Era uma maneira simples de “dar vida”, digamos, àquele descampado que hoje não passa de verdadeiro pasto de ratazanas que é necessário eliminar.
Moinho no Juncal
Mas não esqueçamos o moinho da “Terra da Forca”. Que agradável era aquele pequeno promontório, que desapareceu quase, com uma terraplanagem que ali fizeram para a implantação de uma garagem.
O pequeno monte, que fica na continuação do Castelete, era local aprazível, com um maravilhoso panorama em frente, donde se desfrutava a beleza da encosta da ilha, com a vila no sopé, e, depois, a Ribeira do Meio, a Almagreira, a Silveira e ao norte da baia, a freguesia de São João, já na encosta da Montanha, sempre bela, a dominar todo o espaço.
Tudo mudou. Tudo se muda ou, melhor, se destruiu. Para melhor? Não creio.
Julgo que não é utópica a ideia da reconstrução de alguns dos moinhos, que existiram – e eram dezenas – ao redor da Ilha. Não será empreendimento muito dispendioso. Não estou a sonhar. Ainda possuo a faculdade de pensar...
A Ilha do Pico tem de se voltar a sério para o Turismo, uma actividade que promete ter futuro, se for explorada com seriedade e entusiasmo. Mas a ilha do Pico deve ser tratada como um todo importante e não apenas parcelarmente. E mais não adianto.
Mau tempo nas Lajes
Vale a pena os picoenses, aqueles que o são de raiz e de sentimento, pensarem a sério e maduramente no futuro da ilha. E esse futuro será tanto mais promissor para as gerações vindouras quando, todos unidos, procurarmos proporcionar o necessário e indispensável desenvolvimento sócio – económico a esta Terra e às suas gentes.
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