Somos um povo sereno, católico, trabalhador, perdulário, “pobretos, mas alegretos”! Nós somos assim mesmo. A maioria de nós, não sabe economizar. Bom, não é bem assim! Uns não podem poupar, porque os lucros mal dão para as despesas. Outros, porque não precisam de poupar, porque o que possuem, dá-lhes bem para uma vida de fausto (vida luxuosa), que, posteriormente, transmitem aos seus sucessores (filhos e netos).
A União Europeia desviou para aqui “rios de dinheiro”, o que proporcionou uma repentina visão de fartura. Havia dinheiro a jorro, nunca se ouviu falar em tantos “milhões”. Foi um festim de comemorações, de empréstimos, demonstrações públicas de alegria, um “carnaval” de despesas por tudo quanto é sítio. Isto fez com que a gente adquirisse o típico espírito do “novo-riquismo”, e esfregasse as mãos de satisfação. Estávamos na era das “Vacas gordas”. Pelo menos “por enquanto”.
Foram auto-estradas, pontes, campos de futebol, habitações, na “Expo”, em grandes viagens, na aquisição de bens de equipamento com o fim de tirar destes um proveito lucrativo, só que houve e há, infelizmente, ainda hoje, empreendimentos (obras) que demoravam e demoram quatro vezes mais do que o previsto; alguns “caminhos de cabra”, passaram a ser “picadas”; o buraco na estrada transforma o desvio em rotina; enfim, construiu-se, construiu-se, construiu-se! Ultrapassamos e enfrentamos: morosidade, burocracias, desvios de verbas astronómicas, corrupção, burlas, congelamentos de propostas processuais, estudos ambientais, económicos sobre o TGV e do novo aeroporto, enfim, gastou-se, gastou-se, esbanjou-se aquilo que tínhamos e o que não tínhamos. Depois, este “deixa andar”, e o agarrar-se ao “depois logo se vê”, conduziu-nos sempre, à febre de açambarcar o tempo, de querer tudo de uma vez, de comer, de lambuzarmo-nos no “comes e bebes”, de viver sofregamente, o que levou e leva as pessoas a limites incomportáveis. Assim, arranjaram-se dívidas, dívidas e mais dívidas.
Até meio do mês…é o marisco”, o vinho verde, são os brandies, os whiskies, as estradas e auto-estradas lotadas, os Jipes, as “bombas” de alta cilindrada, os “Tunings”, as festas, o arraial e fogo de artifício, bingos, os casinos. Depois, o contraste: a segunda quinzena do mês mais cinzenta, restaurantes às moscas, carros à porta, supermercados vazios, adeus cinema, adeus “mini-férias”. Ou seja, nesta sede de consumo, até nos esquecemos que o mês tem 30 dias! Resultado: inventa-se um novo calendário, um outro medidor do tempo. O “fim do mês” vem antes do fim do mês, dado que inevitavelmente se gasta mais do que se ganha. Poupar? Que é isso? “O futuro e o presente”. “Não deixes para amanhã o que podes gastar hoje”. Eles entendem perfeitamente o sentido de “A vida são dois dias”. O pior, são aqueles dias que se seguem…
Voltar para Crónicas e Artigos |