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Nascido do Magma


Há muito que este livro devia estar à disposição dos leitores, nas vitrinas das Livrarias. Este e outros mais. O seu Autor tem se escusado a publicar trabalhos literários do género de “Nascido do Magma” ou outros de temas diferentes. É que (opinião minha) não basta escrever, e tão bem como o Prof. Ruben Rodrigues sabe, apenas para jornais de diminuta tiragem. E que grande fosse! Os jornais passam. No dia seguinte à publicação são “guardados”nos recipientes do lixo. Poucos ou raros são os leitores que os conservam.

E, mesmo assim, com o perigo de lhes encherem as estantes ou baús de ruim traça...

Modestamente desejo incentivar – se isso me é permitido - o ilustre Jornalista – escritor à publicação dos seus escritos, embora muitos deles conservados cuidadosamente com o método que é peculiar ao seu Autor, a aguardar um “despacho de deferimento”. Conheço há muitos anos o professor Ruben Rodrigues. Sei do que é, literalmente, capaz. Não me surpreendeu o aparecimento de “NASCIDO DO MAGMA”. Admirei a maneira simples mas brilhante, atenta e precisa, como soube desenvolver o tema do seu trabalho: observador atento e escritor brilhante, tratando um tema aliciante mas que nem todos aqueles que vem escrevendo tiveram, até agora, a coragem e talvez a competência para o fazer. Bem-haja por isso!

Mas, mais do que estas “mal notadas regras”, vamos tentar debruçarmo-nos sobre o “Nascido do Magma”. O livro não “nasceu”, com certeza, de uma “miscelânea confusa” mas de uma realidade concreta que se vai descobrindo à maneira que voltamos cada uma das suas recheadas 259 páginas. E só pode compreender todo o entrecho quem um dia teve oportunidade de viver na Fronteira, conviver com as suas gentes e interiorizar os seus problemas, a sua vida dura mas singela nesta ilha em que habitam, porque aqui nasceram, aqui viveram e aqui desejam – a grande maioria – terminar seus dias.

O trabalho duro do corte dos cacetes e das achas; o transporte em cestos à cabeça de homens e mulheres, de novos e velhos, para os primitivos carros de bois que os hão - de despejar no cais; os transportes em “barcos de boca aberta” para a outra banda e, ali, o descarregar, tudo isso é uma parte dura da vivência do trabalhador que, neste mister, arrecada (va) valiosa importância da subsistência familiar. Nas épocas próprias as deslocações para a ilha vizinha, onde se cultivava o milho, por contra própria (bastante limitada), ou dando dias para fora, por conta dos senhores nem sempre correctos no trato e no pagar o soldo. Quando o Outono chegava era o transporte do milho, em maçaroca, para o cais da Fronteira. E, por entre todo este penar, o idílio de um tal Manuel que, apaixonado por nova moça, prefere fugir rocambolescamente para um dia poder voltar à terra e realizar o seu sonho de juventude.

Entusiasma e comove por vezes a leitura deste livro – romance, muito embora não deixe de pesar o abandono da primeira namorada – a Fátima - , aquela que lhe havia conquistado o coração desde os tempos da adolescência... Mas o mundo tantas voltas dá...

De realçar o velho pároco, há tantos anos a exercer o seu múnus na freguesia e muito querido pela generalidade dos paroquianos…

Agora era a Felicidade aquela que ocupava o coração e foi por ela que, aproveitando a oportunidade única da estadia no porto da cidade, onde havia estabelecido base, o Manuel fez o propósito de partir para junto dos tios.

A guerra, “aquele monstro...” estava a chegar ao fim. A cidade vivia quase só dos negócios escuros do porto... E Manuel, habilmente preparada a fuga, partiu... Não nas antigas baleeiras, como tantos o haviam feito dezenas de anos decorridos, mas num dos “Liberty” americanos que à cidade aportavam com certa regularidade.

Já instalado, junto dos tios, nas Terras do Tio Sam, escreveu à Felicidade. Justificou a “fuga” e prometeu que havia de voltar. A “estória” do Manuel é, afinal, a de tantos outros que um dia, pela calada da noite, abalaram ... Uns por lá ficaram para sempre... Outros voltaram a cumprir a promessa com determinação. Afinal um tema de gritante acuidade que só agora aparece tratado com mestria, em vernácula linguagem romanesca.

Um bem haja, ex- corde, ao Professor Ruben Rodrigues pela gentileza da oferta de “NASCIDO DO MAGMA” e, mais do que isso, a deferência gentil de se deslocar a este “cantinho” e aqui autografar o livro, deixando nele palavras amigas mas imerecidas.

Reconhecidamente!

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