Não há ninguém que não goste, de quando do em vez, ligar a televisão. Há gostos para tudo. A dificuldade está em seleccionar o máximo de aproveitamento desses meios de comunicação. A televisão não é, quando tomada em grandes doses, “alimento” muito recomendável, nomeadamente quando os políticos tomam e abusam do direito de antena. Há meia dúzia de anos, quase toda a gente viu uma reportagem sobre agricultores, que lutavam com imensas dificuldades para colocar os seus produtos no mercado. Achavam que o Governo não os tratava como deve e, por isso resolveram descer à cidade, no sentido de sensibilizar a população para os seus problemas. Com um senão: distribuíam, gratuitamente, a fruta que não conseguiam vender e que seria deitada ao lixo. Foi aí, que o repórter ia recolhendo opiniões daquela gente:
-“Sabe porque é que os agricultores estão a fazer isto”?, perguntaram a um homem. -“Não”! – Respondeu ele. –“Não sei, nem me interessa. Eu estou aqui por causa da fruta”! E para ali ficou, com aquele sorriso sem alma”. É tão triste ver alguém de costas voltadas para a vida, agarrado ao seu umbigo e desrespeitando a luta de quem tanto se sacrifica para seu sustento e da família. Outra vez, aconteceu numa outra reportagem, alusiva às minas, onde os operários faziam greve para verem melhorado os seus salários e condições de vida. Terríveis condições aquelas, debaixo do solo, com uma carga horária desumana.
-“Você não “alinha” na greve”? – Perguntou o repórter a um mineiro. -“Não quero! Concordo com tudo o que eles reivindicam, mas entrar na greve, não”! Foi a resposta. Como quem diz: eles que lutem, eu não me meto em “politiquices”, depois recebo o aumento que eles conseguirem.
A humanidade tem andado para a frente porque nem todos pensam assim. Para terminar, foi há dias noticiado uma informação geral sobre o nosso país. Não há pessoas envolvidas na questão. Há números. E a linguagem dos números, fala como gente. Ficamos a saber que em Portugal, apenas 38 em cada 1.000 pessoas têm o hábito de ler os jornais diários. Utilizando uma simples regra de três, chega-se à conclusão de que, tendo em Portugal cerca de 10 milhões de habitantes, apenas 380 mil portugueses andam minimamente informados. Digam lá, sinceramente, se é ou não motivo para a pessoa ficar triste. Sim, porque quem não sabe o que vai pelo País e pelo mundo, como pode orientar-se? Não ler equivale a não saber ler. Já lá dizia João de Deus: “Quem teve a grande desgraça / de não aprender a ler / sabe só o que se passa / no lugar onde estiver”!
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