por Ermelindo Ávila
2 de Novembro de 2007
Vila das Lajes
O Outono está a findar. A Natureza a extingui-se. As árvores e perderem as folhas verdejantes e os campos a transformarem-se melancólicos e a ficarem vazios das verduras e flores que lhe davam beleza e encanto extasiantes nas tardes amenas e bucólicas. Os homens a recolher cedo a seus tugúrios quantas vezes a transportar suas melancolias atrofiantes, pelo ocaso que se aproxima. A vida a extinguir-se…
E quantos por lá andam sem que haja, daqueles que por cá deixaram, um pensamento de gratidão, uma palavra de ternura, um gesto de agradecimento por aquilo que, por eles sofreram, pelos sacrifícios, pelas privações, pelos trabalhos extenuantes, pelos bens penosamente angariaram e que generosamente lhes deixaram…
É triste recordar os mortos, recorda-los com amarga saudade. E quantos deles deixaram sós aqueles que aqui amavam…
Vale a pena recorda-los neste dia. Traze-los ao nosso convívio íntimo e dedicar-lhes um pensamento de gratidão e uma prece para que, junto do Senhor, Deus Supremo de todo o ser criado, possam gozar da eterna felicidade.
Estamos no mês dos crisântemos. A flor mais triste que existe nos jardins mais belos. Brancos, amarelos ou lilás, eles são sempre uma expressão de dor e de saudade. Neste mês povoam os cemitérios, enfeitam ao gosto humano os covais dos entes queridos. Por lá ficam a fenecer e secar, sobre as campas, como expressão de ternura e de amor, até que o vento do Outono os leve para longe, numa romagem de saudade …
Quantos pais choram os filhos que partiram na juventude, vítimas de desvarios e de atitudes mal pensadas: a droga, os acidentes de viação, as doenças contraídas e mal curadas. Os filhos choram agora os pais que, um dia abandonaram ou deixaram “enterrados” num lar de terceira idade, porque eles eram um empecilho para as suas vaidades, gozo e de prazer…
E quantas noivas recordam saudosamente aqueles que um dia amaram e que, com eles, fizeram projectos de vida que não se concretizaram porque uma guerra traiçoeira os ceifou na flor da idade…
Estamos a recordar os que amamos e que cedo o Senhor chamou para Si. E vivemos numa amargura sem lenitivo até que o Senhor também um dia nos retire deste Mundo sem esperanças …
Numa prece muito ardente pessamos ao Senhor que receba em sua Glória aqueles que um dia partiram e nos deixaram martirizados, num sofrimento atroz para o qual não há lenitivo.
Com o Poeta, podemos também dizer:
Um místico sofrer… uma ventura
Feita só de perdão. Só de ternura
E da paz da nossa hora derradeira…
Ó! Visão, visão triste e piedosa!
Fita-me assim calada, assim chorosa…
E deixa-me sonhar a vida inteira!
(Antero de Quental)
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