Dilma - Presidente eleita do Brasil
Tendo em conta o honroso convite feito ao Presidente Carlos César para visitar a Casa Branca numa próxima deslocação àquele país, em sequência da conversa informal, mantida entre o Presidente do Governo dos Açores e o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, após o encontro bilateral entre as delegações de Portugal e América (Conferência da NATO em Lisboa), é interessante referir algo já conhecido mas que, pela voz autorizada de Onésimo Teotónio de Almeida, um açoriano de elevada craveira intelectual e com vasto currículo na área da investigação do fenómeno da emigração açoriana, apresenta contornos de fácil percepção, do que é hoje o respeito que o poder público norte-americano nutre pelos açorianos e assim fácil é perceber-se o convite ao nosso Presidente Carlos César.
Para tal escolhemos a entrevista que o Onésimo deu em 31 de Agosto ultimo, ao Observatório da Emigração da Secretaria de Estado das Comunidades, que se pode consultar no sitio da internet www.observatorioemigracao.secomunidades.pt e de que cito uma pequena parte: “A emigração para os Estados Unidoscomeçou nos Açores pelo menos no final do séc. XVIII. Os barcos dos baleeiros vinham da América e eram obrigados a parar nos Açores. Eles iam para o Atlântico Sul e, via estreito de Magalhães, para o Pacífico e Alaska. Quando regressavam, por ser navegação à vela havia necessidade de parar nos Açores. Era mais fácil virem barcos de Boston com mantimentos, correio e mesmo com as mulheres dos capitães.
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O porto da Horta foi escolhido para entreposto. No tempo dos descobrimentos portugueses, Angra do Heroísmo era o porto de eleição; as caravelas vindas da Índia levavam ainda cerca de três semanas para chegar a Lisboa, precisavam de água, fruta, cereais, e os Açores produziam-nos a ponto de haver excedente para exportação. Os Açores continuaram então a ser esse sítio de paragem obrigatória. No início da baleação, os barcos iam lá em cata de mão-de-obra; às escondidas, à noite, paravam nalgumas ilhas (os locais acendiam fogueiras para darem sinal) e os açorianos saltavam para bordo. Isso aconteceu nos Açores e em Cabo Verde. Mas só uma minúscula percentagem de açorianos trabalhava no mar e por isso muitos dos que embarcavam não eram marítimos. Sim, porque ninguém sabe ao certo de onde provêm os açorianos, se bem que o mais natural é a maioria ter vindo do continente português. Não há, todavia, documentos nenhuns que nos indiquem de que partes dele. O que se sabe é que os açorianos não aparecem tradicionalmente voltados para o mar, mas para a terra; foram para lá para cultivá-la e prover os barcos que lá paravam obrigatoriamente. Portanto, aqueles que se aventuraram nos barcos baleeiros não eram propriamente gente do mar, e por isso, sempre que puderam, saltaram em terra à chegada aos Estados Unidos. A América do Norte estava no início da Revolução Industrial e os açorianos preferiam trabalhar nas fábricas. Também não estavam habituados a esse tipo de trabalho, mas o pagamento era razoável e pelo menos mais seguro do que no mar. Os que foram para a Califórnia fizeram algo idêntico: deixaram o mar e foram para a terra; poucos ficaram na caça à baleia. Os da Califórnia, porém, encontraram terra disponível quanta quisessem, pois estava ali quase ao Deus dará. Depois seguiram-se os ciclos de emigração organizada, gente que ia já directamente trabalhar para as fábricas ou, na Califórnia, para as granjas (ou vacarias, como os emigrantes dizem). Na segunda metade do século XIX já a rede da imigração açoriana era, fundamentalmente, a mesma de hoje. Os sítios onde há açorianos continuam a ser os mesmos: Massachusetts, Rhode Island e Califórnia. (…) A segunda maior vaga de emigração portuguesa aconteceu entre 1910 e 1920, já legal. São cerca de 150 mil emigrantes, quase todos açorianos. Depois a emigração pára devido a alterações na legislação americana. Recomeça só a meados dos anos 60. Excepto para um pequeno contingente de sinistrados do vulcão dos Capelinhos, no Faial, em 1957-58. Nessa circunstância, 1.500 famílias vão primeiro e depois outro contingente, passando o total a um pouco mais de 2.000, no âmbito de um acordo especial. Em 1965, a legislação americana em matéria de emigração muda e, a partir daí até 1980 emigram 180 mil - o maior número de sempre. Nessa altura os emigrantes das gerações anteriores já tinham sido na sua vasta maioria assimilados pela cultura americana e tinham mesmo mudado de nome (era a política na época).” E à pergunta: Agora como é que está? Responde Onésimo Almeida: “Já não há emigração para a América e eu até aconselho os poucos que ainda pretendem emigrar a não o fazerem. Os Estados Unidos abarrotavam de fábricas e os portugueses chegavam quase sempre com postos de trabalho já assegurados por amigos e familiares. Começavam a trabalhar logo no dia seguinte. Agora esses empregos já quase não existem. As fábricas "emigraram" primeiro para o sul dos EUA, depois para a América Latina, a seguir para a China, Singapura e Coreia do Sul. Naquele tempo, os emigrantes que iam para os Estados Unidos estavam dispostos a trabalhar duro, a aceitar tudo. Os poucos emigrantes que vão agora já não aguentam a dureza do regime de trabalho, como acontecia com os emigrantes daquele tempo. Habituados aos benefícios resultantes da nossa entrada na Europa, ninguém está mais disposto a esse tipo de emigração. Além disso, os EUA preferem cada vez mais mão-de-obra qualificada em áreas especializadas. Assim, aos novos emigrantes resta-lhes a hipótese de ir trabalhar para os MacDonald's e os Burger Kings, onde vão ganhar salários de miséria. Torna-se-lhes impossível montar uma casa e sustentar uma família com os salários aí usufruídos. (…) No entanto, hoje está a acontecer uma outra emigração que é a de jovens universitários que vão estudar para os EUA, alguns já com mestrados e que vão lá fazer doutoramentos mas depois acabam por ficar porque se apercebem de que, se vierem para Portugal, dificilmente encontram empregos à altura das suas habilitações. É uma emigração completamente diferente e, excepto no caso de Boston, não se concentra nas áreas portuguesas tradicionais, mas nas outras grandes zonas de investigação científica em torno de universidades ou de grandes centros tecnológicos.”
Estimados leitores, achei por bem deixar-vos estas doutas reflexões, proferidas por alguém que, depois de ter cursado o Seminário de Angra, há muito se radicou nos Estados Unidos e sempre manteve um olhar muito crítico mas abrangente, sobre a nossa emigração nas Américas, do que é exemplo típico o seu livro Ah! Mónim du Corisco!, publicado em 1978 em Ponta Delgada, pela Eurosigno Publicações Lda.
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