Aérea, 1º plano Praia do Sonho, fundo Pinheira - Palhoça
O município de Palhoça com 361 km2 e 120.346 habitantes (projeção IBGE 2004) é um dos mais extensos e populosos de Santa Catarina, com uma história que remonta ao século XVIII, ainda que, depoimentos de viajantes relataram que em suas terras viveram no século XVI alguns náufragos.
Balneário dos Cedros, fundado por açorianos do Faial
O território marcado por diversidades de formas de relevos, em que sobressai a estreita faixa da Planície Costeira, onde as praias: Guarda do Embaú, Pinheiras, Papagaios, Pedras Altas (naturalismo), Enseada de Brito, Cedro, Marivone, Praia de Fora, Barra do Aririu, Tomé; enseadas: Enseada de Brito; costões: Pinheiras, Papagaios, Guarda do Embaú. Todos estes monumentos natural-paisagísticos de rara beleza, que emolduram a paisagem junto às águas do Oceano Atlântico.
Enseada de Brito vista baia, destacando a praça original
de 1750 e o casario secular. Foto Farias
Soma-se a este conjunto, as terras da Serra do Tabuleiro onde se destaca a exuberância de uma vegetação nativa, uma bela rede hidrográfica formado por cachoeiras e rios, que asseguram parte do abastecimento de água da Grande Florianópolis e são locais especiais para serem visitados.
O ponto mais elevado da serra do Tabuleiro é o morro do Cambirela com 860 metros de altura, que lembra a serra do Pico na ilha do mesmo nome nos Açores.
Cachoeira
Registrando-se como curiosidade que muitos picoenses, incclusive da freguesia de São Roque se localizaram na planície próximo a este morro.
O Parque Estadual da Serra do Tabuleiro com 87.000 ha., maior reserva de Mata Atlântica de Santa Catarina, que engloba terras dos municípios de Palhoça, Paulo Lopes, Santo Amaro, Águas Mornas, São Bonifácio tem sua sede nos Campos do Massiambu, junto a Br 101, onde mantém um centro de visitações.
Aérea central de Palhoça
Neste variado ecossistema viveram povos indígenas desde os tempos Pré-Colombianos. O homem de Sambaqui, o guarani, que participaram desta ocupação humana antes da chegada dos europeus.
Igreja de Enseada de Brito de 1750, com torre de 1911
A tentativa de ocupação sistemática por imigrantes de origem européia só ocorreu em meados do século XVII, quando o bandeirante paulista Domingos de Brito Peixoto se estabeleceu com “bens de raiz” na baia da Enseada de Brito.
Segundo relatos, os problemas enfrentados com os índios e a malária fizeram com que o empreendimento fosse abandonado por Brito Peixoto, indo se estabelecer mais ao sul, onde organizou a Vila de Laguna.
Durante quase cem anos ficou a região semi povoada, com alguns moradores descendentes dos paulistas de Brito Peixoto, quem sabe, de náufragos ou de outros aventureiros que se estabeleceram discretamente na região.
Contorno litoral Palhoça entorno morro do Cambirela
Os registros realizados em dezembro de 1750, no documento conhecido por “Mapa de Tudo que Existe nesta Ilha de Santa Catarina e Continente Frontal” elaborado pelo Governador da Capitania de Santa Catarina Manuel Escudeiro Ferreira de Souza apontam a presença de 103 “paisanos”, entre os 325 moradores da Freguesia de Enseada de Brito naquele ano. Fundada que foi por “casais açorianos” e elevada a freguesia em 13 de maio de 1750, comprovam que esta ocupação anterior deixou marcas demográficas na região.
Foi ao sul do município de Palhoça que se estabeleceram estes primeiros açorianos, portanto, foi na área do atual Distrito de Enseada de Brito que ocorreu a primeira fase de colonização do município.
Morro do Cambirela, onde em suas proximidades
se fixaram muitos picoenses no século XVIII
Pesquisas em arquivo apontaram o número de 496 açorianos em Enseada de Brito procedentes das ilhas do Faial 169, Pico 92, Graciosa 41, Terceira 66 e São Jorge 103, São Miguel 19, Santa Maria 6, indicando que pelos anos seguintes outros açorianos se deslocaram para a região.
Estes açorianos e seus descendentes associados aos moradores remanescentes do projeto de Brito Peixoto e de outros foram os responsáveis pela ocupação inicial das terras que se estendiam de Garopaba ao atual Aririu.
Os sobrenomes: Farias, Silveira, Pereira, Machado, Melo, Fagundes, Ferreira, Coelho, Silva, Souza, Quaresma, Medeiros, Rodrigues, Antunes, Alves, Almeida, Bitancourt, Costa, Espíndola, Goulart, Lima, Luiz, Martins, Nascimento, Oliveira, Peres, Tavares, Vieira vieram com os Açorianos, embora sejam nomes comuns a outras áreas do Brasil.
Aérea Balneário Ponta dos Papagaios e Praia do Sonho
Uma curiosidade com relação à fixação dos Açorianos na Freguesia de Enseada de Brito é que mantiveram as rivalidades que cultivavam nas ilhas, procurando se agrupar por comunidades e casar entre si, mantendo verdadeiros “bolsões culturais de resistência” aos integrantes das comunidades rivais. Os moradores da Praia de Fora, Furadinho, Guarda do Cubatão, Sede, Massiambu, Araçatuba tinham rivalidades que só eram superadas pela força da igreja. Dos bailes ao futebol, da pesca as festas, passando pelos namoros havia fortes rixas com os vizinhos.
No entanto, quando se tratava de problemas com outras comunidades, de outras freguesias se uniam para enfrentar este rival comum.
A área norte do município onde se localiza a cidade de Palhoça só foi ocupada de forma sistemática no final do século XVIII, destacando-se entre os que requereram sesmarias na região o açoriano Caetano Silveira de Matos que em 1793 se estabeleceu com “bens de raiz” junto ao rio Maruim.
A existência de amplos manguezais fez com que fossem ocupadas inicialmente as terras do Passavinte, Cova Funda, Aririu, Guarda do Cubatão e só em meados do século XIX as próximas a praça central do município.
Enquanto a primeira etapa foi feita por açorianos e seus descendentes, a ocupação de meados do século XIX teve nos colonos alemães e alguns italianos os principais responsáveis, conforme os sobrenomes abaixo encontrados em 1892 na região.
Os sobrenomes alemães: Emmel, Aldoff, Born, Erm, Gerber, Goerdet, Gukert, Hoeming, Jonsen, Kellion, Kerig, Kering, Knaben, Knoll, Lahmkul, Luch, Schefer, Schlemper, Schmidt, Schütz, Somar, Tiner, Truppel, Veingestner, Wagner, Werdorfer, Zimmermamnn; italiano: Bertoncini, Pierri, Pisani, Rondino, Sanseverino, Valenti.
Planicie junto ao morro do Cambirela,
onde de localizaram
muitos piccoenses
Em 24 abril de 1894, pelo Decreto Estadual número 184, de Antonio Moreira César, foi criado o município de Palhoça, desmembrado do de São José, com as terras ao sul do rio Maruim, que envolviam as freguesias de Santo Amaro do Cubatão, Águas Mornas, Enseada de Brito, Garopaba, correspondente aproximadamente dois terços da área territorial do então município de São José. Acredita-se que tenha sido vingança política, pois São José sempre foi um forte reduto monarquista.
A partir de então surge o município de Palhoça, com uma história marcada pela presença da multiculturalidade, em que aflora como marca maior a cultura de base açoriana,
A cultura de uma região é o resultado da influencia direta de seus habitantes, que através do seu “saber ser e saber fazer” deixam suas marcas culturais.
No município de Palhoça estas marcas estão mais associadas à herança cultural de base açoriana legada por estes colonizadores que foram por mais de 100 anos a base populacional do município.
Na arquitetura a “Praça de Enseada de Brito”, tombada com Patrimônio Estadual é a única de Santa Catarina que mantém o traçado original do século XVIII, ladeada por um conjunto arquitetônico com diversas construções centenárias, com destaque para a Igreja Matriz cuja nave central é do século XVIII, de influencia portuguesa e a torre frontal de 1911, de influencia Italiana.
Junto ao mar, ao lado direito da praça, existe uma casa tipo portuguesa rural, com data (1701) anterior a fixação dos Açorianos na região, portanto uma das construções mais antigas de Santa Catarina.
Praia de Fora, ocupada por açorianos, tendo ao fundo o Cambirela
Na religiosidade manteve-se a marca da cultura açoriana através da centenária Festa do Espírito Santo, das Cantorias do Divino e Terno de Reis; da procissão de Corpus Cristo.
As benzeduras e o curandeirismo com ervas e ungüentos estão presentes entre a população num sincretismo que mistura catolicismo com cultos afro-brasileiros.
Nos folguedos ainda tem-se o Boi de mamão e a dança da ratoeira.
Nos equipamentos de apoio as atividades econômicas destacam-se as lanchas baleeiras e os engenhos de farinha.
Na gastronomia pratos a base de peixe, camarão, mariscos acompanhados da farinha de mandioca além dos produtos derivados da mandioca, ainda são encontrados em alguns pontos do município.
A maricultura e a pesca artesanal são atividades que absolvem volume significativo de mão de obra, em que são ainda utilizadas as lanchas baleeiras e variações destas.
Palhoça é multi-cultural no dia-a-dia de sua população pela diversidade da origem étnico-cultural dos seus moradores atuais, sem, no entanto, ressaltar uma identidade forte como a deixada pela cultura de base açoriana.
O município precisa navegar em direção a modernidade sem relegar a sua herança cultural de base açoriana e estimular as marcas culturais das outras etnias.
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