Há já muitos, muitos anos, que muitos de nós anda, sinceramente, fascinada pela interessantíssima incompetência portuguesa. É que nós, de facto, demoramos imenso tempo a conseguir fazer as coisas que queríamos fazer, e ainda por cima a maioria das vezes não conseguimos fazê-las tão bem como queríamos – e, mais grave ainda, pressentimos que podíamos. Mas não somos indolentes. Nem sequer preguiçosos. Perdemos é muito tempo, com “coisinhas” insignificantes e muito tempo a “tagarelar”, sem assunto, como verdadeiros papagaios! Em nossos dias, o estilo de papagaio é muito corrente. E não há dúvida de que é fluente, sonoro, e até acreditado pelo seu constante uso nos jornais. Para tudo se encontra a palavra feita, a expressão própria.
Em latim, papagaio dizia-se “psittacus”. E como entre os homens houve sempre muitos discípulos do esquisito pássaro, convencionou-se chamar “psitacismo” – isto é, linguagem de papagaio! Para todo o fenómeno, qualidade ou sentimento, o “psitacídio” sabe, sem que a mão lhe trema, qual a imagem a empregar; isto é veloz como a seta, ou branco como a neve, ou leve como a pena; aquilo é pérfido como uma serpente, valente como um leão, transparente como o cristal.
Se há-de falar de poesia, socorre-se da lua; se de amor, escolhe entre as vísceras, a do coração; se de paisagem, um lago de águas argênteas (cor da prata), onde voga um barquinho à vela. Nada o encontrará desprevenido; no seu cérebro, bem arrumado, lá está a imagem necessária, o conceito próprio (talvez um pouco safado pelo uso, mas adornado com a ênfase que dá o treino de muita repetição) para cada situação.
E o papagaio tanto brilhará ao erguer a sua taça no jantar de anos do compadre, como ao agradecer, em nome da freguesia, a construção de uma rotunda, ou de um chafariz, que vem preencher uma lacuna que de há muito se fazia sentir. Portugal, está a abarrotar de papagaios! São aves “manipuladores”, pregadoras, prometedoras, tagarelas…até dizer basta! Até andamos todos completamente exaustos porque executamos demasiadas tarefas em simultâneo e em esforço e, essas “aves agoirentas” não nos deixam em paz! O que somos, realmente, é cilindrados em absoluto por esta estranha forma de vida, que nos faz trabalhar como doidos, partir para cada dia útil ou outro com a carga emocional, de quem parte para correr a maratona, investir as nossas horas no esforço épico de mover montanhas, e depois chegar ao fim de cada uma destas epopeias quotidianas, exasperados pela frustração de sentirmos que não produzimos absolutamente nada que se veja e, termos que aturar ainda esta caterva de papagaios! Malditos “Bichos”…que só falam, falam e não fazem nada!
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